Texto: Marcos Anubis
Foto: Eduardo Moura
“Que quer o Brasil que me persegue?”, cantava o jovem Rodrigo Barros Del Rei em 1997 à frente do Beijo AA Força (uma das mais importantes bandas da história da música curitibana). Hoje, os tempos são outros, mas uma realidade não mudou: a música, a poesia, a arte e a sensibilidade continuam “perseguindo” os ex-integrantes do BAAF.
Nesta sexta-feira (28), no 92 Graus, Rodrigo Barros Del Rei (vocal e violão elétrico), Luiz Ferreira (guitarra e vocal), Sérgio Viralobos (vocal) e Walmor Góes (guitarra), todos remanescentes do Beijo AA Força, estreiam um novo projeto.
Reforçados por Miguel Zattar (guitarra), Marcelo Sandmann (teclados) e Ricardo Fadel (bateria), do grupo ZiriGdanski, e pelo baixista Alberto Lins (Maxixe Machine, Ferryboat, Opinião Pública), eles formaram a Orquestra Sem Fim, que reúne esse dream team da música paranaense. “Tudo começou com um convite do Miguel Zattar para tocarmos com o Maxixe Machine no estúdio dele, o Ponto Z. O espaço é muito bom e acabamos fazendo algumas canções com os músicos da ZiriGdanski. Depois que o Rodrigo Genaro (baterista do Maxixe Machine) resolveu parar de tocar por razões pessoais, convidamos o Ricardo Fadel para assumir as baquetas. Esses caras têm uma pegada mais MPB e Jazz e acabamos nos acertando muito bem. A partir daí, para montar um repertório, foi natural, divertido e agradável. O grupo não era mais o Maxixe, daí batizamos com outro nome, a Orquestra Sem Fim”, conta Luiz Ferreira.
Os primeiros passos
A estreia virtual da Orquestra Sem Fim aconteceu nesta quarta-feira (26) com o lançamento do clipe “Devoniana”. A música é um reflexo do que os integrantes do grupo têm de melhor: poesia e criatividade.
O vídeo foi produzido seguindo a máxima “faça você mesmo”, o mantra do Punk Rock que perdura até hoje. “A direção e a edição foram minhas. A ideia para o roteiro dessa música era algo simples: natureza, família e tranquilidade. Um verso da música diz ‘veleiro com as velas arriadas’. Pensei em um jovem casal protagonista. O Lucas Müller e a esposa dele, a Raíssa Barbedo, amigos do meu filho, foram a inspiração para o roteiro, então, o clipe é um pouco a história deles”, explica. “Foi importantíssimo o apoio do Luciano Popadiuk, que me ajudou na co-direção e produção, e do Eduardo Moura, que fez a direção de fotografia e filmou tudo com a única câmera que usamos. Minha esposa Lilian e a minha filha Lana me ajudaram muito também. Além disso, os músicos foram compreensivos para arranjar um tempinho em suas agendas”, complementa.
A formação da OSF é bem inusitada, com quatro guitarristas. Mesmo assim, pelo menos na estreia com a música “Devoniana”, o grupo conseguiu atingir um equilíbrio, equalizando o espaço para cada um dos instrumentistas. “A gente conversa, arranja, combina, toca de novo e de novo até chegar a um consenso. Demora um pouco mais, pois não temos um maestro nem um arranjador oficial. Todos apitam e palpitam, mas incrivelmente, nós estamos conseguindo nos entender”, diz.
Poesia em forma de canção
Todos os trabalhos dos quais os integrantes do Beijo AA Força fazem parte trazem um conteúdo lírico gigantesco, o que nada mais é do que um reflexo da importância do texto na música e na vida de cada um deles. “Eu sempre fui basicamente um compositor de canções (música e letra) e gosto de cantar, da poesia cantada. Dei muita sorte de me envolver com um time de poetas muito foda. Conheci o Leminski, musiquei um poema dele, o ‘Passos lentos’, mostrei e ele gostou. Não gravei nem vou gravar, pois agora isso ficou muito burocrático. Ele dizia que queria fazer umas parcerias com o Beijo AA Força, letra com a música junto, mas não deu tempo”, conta.
Alguns poetas que fizeram parte do time que acompanha os trabalhos musicais de Ferreira já partiram, mas a lista de grandes nomes parece interminável. “Musiquei muita letra que veio escrita em guardanapo de boteco. Hoje prefiro compor música e letra na hora. Meus parceiros mais frequentes, além dos que tocam comigo, são (e foram) o Thadeu Wojciechowski, o Marcos Prado (RIP), o Roberto Prado, o Edilson Del Grossi (RIP), o Rettamozo, o Edson Vulcanis, o Marcelo Sandmann, o Ivan Justen, o Magoo (RIP), o Cobaia (RIP) e outros cérebros afiados na gramática da rima. Aprendi e aprendo muito com eles”, complementa.
Não haverá mais remédio?
Para os fãs que acompanham o Beijo AA Força durante tanto tempo, uma pergunta não quer calar: a banda acabou realmente ou está em stand by? “O Beijo AA Força acabou em 2007, depois disso fizemos uns dois ou três shows, mas apenas com músicas antigas. Uma banda que não renova seu repertório é uma banda cover de si, que vive de reprises, não existe mais”, afirma.
Porém, Ferreira mantém várias outras empreitadas musicais que, de uma maneira ou de outra, também carregam um pouco da aura do Beijo AA Força. “O Maxixe Machine está em stand by, embora esteja presente em 90% do repertório da Orquestra Sem Fim. Também tenho outros projetos, como a Ferryboat e Os Marlenes, que são bandas com as quais eu gosto de tocar e compor. A Ferryboat, principalmente, está em plena atividade e logo voltaremos a tocar por aí. Tenho um bom punhado de músicas novas pra ela. Também tenho dois musicais que eu quero retomar: o “Hoje é Dia 10” e o “Venha Pra Ficar Bem” e estou com a ideia de escrever mais um, mas esse ainda está muito verde para comentar”, diz.
Buscando apresentar o novo trabalho para o público, o próximo passo de Ferreira com a Orquestra Sem Fim deve ser o lançamento de outras canções inéditas da banda nas plataformas digitais. “O Ponto Z tem toda a estrutura para gravação com ótima qualidade. O Valderval, engenheiro de som de grande talento, faz algumas produções por lá e nos ajudou a captar bons takes. O Rodrigão vai mixando o material e vamos dando pitacos. Já gravamos seis músicas, temos mais umas 12 inéditas, então, vamos gravando e mixando sem pressa, sem grandes pretensões, mas o Ponto Z é nosso Abbey Road (risos)”, conta.
Outra grande novidade é que a discografia do Beijo AA Força, que hoje é dificílima de ser encontrada, também deve ser disponibilizada digitalmente. “Recentemente, nós fechamos contrato com a IMUSICS, uma empresa distribuidora de fonogramas em plataformas digitais, uma espécie de selo moderno. Pretendemos colocar todo o nosso repertório gravado nas plataformas digitais. Muita gente tem cobrado isso da gente, então vamos lançar esse ‘álbum’ digitalmente, a princípio. Chamo de álbum por ser uma coleção de músicas que foram feitas em um momento e tem alguma afinidade entre elas, por isso acho que devem ser agrupadas de alguma forma, sob um título, mas não necessariamente em um formato físico. Se fosse para escolher um formato físico, hoje eu escolheria o vinil. Não só pela qualidade de som mais vintage, mas também por que é muito mais bonito, parece que a música fica mais importante naquele bolachão”, finaliza Luiz Ferreira.
Os ingressos para o show desta sexta-feira no 92 Graus custam R$ 20 e podem ser adquiridos no local. A casa abre às 21h, o clipe será apresentado às 22h e o show começa às 22h15. O 92 Graus fica na Rua Manoel Ribas, 108, no Centro. Confira o clipe de “Devoniana”.
Confira o clipe de “Devoniana” e algumas canções de outros projetos dos ex-integrantes do Beijo AA Força: “Homem de ferro”, um dos clássicos do Beijo AA Força, “Dolores Duran”, com o Maxixe Machine, e “Oxigênio”, com o Ferryboat.
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