Texto: Marcos Anubis
Revisão: Pri Oliveira
Fotos: Divulgação
Com trinta anos de estrada, o quarteto Os Cabeloduro, do Distrito Federal, será uma das grandes atrações da 21ª edição do Psycho Carnival, que acontece de 20 (quinta-feira) a 24 de fevereiro (segunda-feira) no Jokers Pub, em Curitiba. Formado em 1989 em Guará, cidade-satélite de Brasília, o grupo é um dos nomes mais representativos da história do Punk Rock/Hardcore brasileiro.
O show do Cabeloduro acontece no dia 22 de fevereiro no Jokers Pub e será a estreia de Hélio Gazú (vocal), Ralph (guitarra), Guilherme (baixo) e Daniel Quirino (bateria) no tradicional festival curitibano. “Nossa expectativa é muito grande, pois sempre acompanhamos as outras edições pelas redes sociais. Somos muito gratos pelo convite e estamos na pilha de mostrar nosso último trabalho no festival!”, diz Gazú.
O Psycho Carnival é reconhecido em todo o mundo como um dos festivais mais importantes do cenário Psychobilly. Boa parte desse respeito vem da essência do evento, que sempre se manteve underground apesar de todas as dificuldades. “Na nossa humilde opinião, o Psycho Carnival resiste porque existe propósito e compromisso com a cena independente, seja local ou não. O festival é plural, e isso se reflete nas bandas, no palco, no público e nos parceiros. Há tempos que eu ouço falar muito bem do festival e do espírito empreendedor dos produtores. Eles estão no caminho certo!”, opina.
O show no Psycho Carnival será ainda mais especial porque o primeiro álbum da Cabeloduro, “Com Todo Amor e Carinho” (1996), está completando 24 anos do lançamento. O mais impressionante é que as letras do disco, que já traziam uma crítica social contundente que se tornaria uma das marcas do grupo, fazem ainda mais sentido no Brasil do século 21. “Ele nunca foi tão atual como hoje, pois os problemas são os mesmos, só mudam os atores. ‘Foda-se’ é um exemplo, pois basta trocar os figurões e ela continuará atual”, diz.
A formação inicial da banda Cabeloduro tinha Beto Podrinho (vocal), Hélio Gazú (vocal), Ralph (guitarra), Pernão (baixo) e Daniel Quirino (bateria). Ela permaneceu assim até 1993, quando Pernão acabou saindo, fazendo com que Gazú assumisse o baixo e Ralph entrasse na guitarra. Entre 1998 e 1999, o guitarrista René Kosak fez parte da banda, que passou a contar com duas guitarras.
Em 2003, Beto Podrinho saiu, dando lugar ao vocalista Marcelo Vourakis. Em 2007 aconteceu a última mudança com a saída de Vourakis e com Gazú assumindo os vocais. “Algumas mudanças ocorreram porque queríamos nos manter vivos e produzindo. Um exemplo disso é o disco ‘Tudo Que A Gente Tem’ (2004). Trinta anos não são trinta dias, é muito complicado manter uma formação original. Nós até tentamos uma volta (com a formação original), mas sem sucesso. Então, o álbum de 2016 foi uma resposta aos nossos críticos e um presente aos nossos fãs”, diz.
Nesses 30 anos, a discografia do grupo conta com os álbuns “Com Todo Amor e Carinho” (1996), “Tudo Que A Gente Tem” (2004) e “A Gente Só Se Fode” (2016), além do EP “#1” (1998), da demotape “Os Cabeloduro” (1993), e de participações em algumas coletâneas e splits.
Na página da Cabeloduro no Facebook, uma frase chama muito a atenção: “a banda só se fode por se posicionar de forma verdadeira num cenário musical hipócrita e desonesto”. Vindo de uma banda que está há três décadas na estrada, a frase é emblemática.
Ao que parece, ter uma postura coerente, musicalmente e ideologicamente falando, tornou-se mais do que nunca uma forma de resistência. “O que faz pensar não vende, não tem espaço, por isso o advento da internet nos permite ser livres. No atual cenário no qual nós vivemos, se posicionar pode fechar portas. Já vivemos os boicotes de forma velada por causa da nossa postura. Como eu disse, você precisa ser real fora e dentro da banda”, afirma.
Nos últimos anos, muitas bandas vêm renegando ou destruindo a reputação que construíram. Hoje, é muito comum ver bandas de Punk Rock flertando com o fascismo, como se as letras que foram escritas e cantadas por esses artistas durante a vida toda não valessem nada a partir de agora.
Por todo esse contexto, grupos como o Cabeloduro são ainda mais importantes para mostrar que ser autêntico não é uma escolha, é um estado de espírito. “Hoje, nós militamos politicamente no nosso bairro (Guará) com vários projetos socioculturais. Somos uma extensão em que a música não pode chegar de forma consciente. E, como somos músicos de Punk Rock, você precisa pregar o que canta e fala. Sim, somos resistência!”, afirma Gazú.
A ligação com a cena curitibana
A cena Punk/Hardcore nos anos 1990 em Curitiba foi muito forte. Naquele período, bandas como o Pinheads, o Resist Control e o Boi Mamão era respeitadas no Brasil inteiro e começaram a colocar a capital paranaense no mapa musical do país.
Assim como outras bandas brasileiras, a Cabeloduro conviveu com essa cena curitibana de maneira muito próxima. “Curitiba se tornou a nossa segunda casa e tivemos o privilégio de tocar com grandes bandas locais. O festival Chacina, produzido pela Cruel Maniac, foi um festival fora da caixa, um loucura! Todas as tribos se reuniam em Pontal do Sul. Todas as nossas experiências foram marcantes porque foram quase dez anos passando por Curitiba”, relembra.
Nessas três décadas de vida do grupo, o mercado fonográfico no mundo todo mudou bastante. Hoje, a tecnologia permite gravações mais baratas, e as redes sociais fazem com que as bandas e artistas consigam uma divulgação mais direta e com um custo menor.
Porém, se no mainstream essas transformações foram um divisor de águas, no underground elas também tiveram um impacto gigantesco. “Tudo ficou mais rápido, na palma da mão e na ponta dos dedos. Nas antigas, era um sofrimento produzir algo. Hoje, precisamos estar ligados, antenados, pois o mundo digital não espera ninguém. Para o underground e para o músico independente, este viés ajuda muito, porém, é preciso ser real, usando os dois mundos”, analisa.
Em 2020, o grupo está com diversos planos, entre eles, o resgate da discografia da banda. “Queremos reeditar a nossa discografia em vinil. A demotape de 1993 será lançada pela Lombra Records, de Brasília, em compacto 7 polegadas. Outro projeto bem legal será a reedição do ‘Com Todo Amor e Carinho’ em vinil pela Monstro Discos”, conta.
Além de resgatar o material antigo, a banda também já está pensando em um novo álbum. O interessante é que a matéria-prima das letras do grupo, o contexto social do país, está “riquíssima” atualmente, e isso deve render mais algumas letras incisivas. “O nosso próximo álbum será dedo na ferida! Que país é esse?”, finaliza Hélio Gazú.
Serviço
Cinco dias para celebrar a música, a amizade e a diversão. Esse é o espírito da 21ª edição do tradicional festival curitibano Psycho Carnival, que será realizado entre os dias 20 (quinta-feira) e 24 de fevereiro (segunda-feira) no Jokers Pub, em Curitiba. “Boa parte do público que vem todo ano ao festival acabou construindo amizades que permanecem até hoje”, diz um dos organizadores do Psycho Carnival, o músico e produtor cultural Vlad Urban.
Em 2020, o evento reunirá 37 bandas de oito países. A ideia é apresentar um grande panorama do que há de melhor no mundo do Psychobilly, Rockabilly, Punk Rock, Outlaw Country e Surf Music. Entre as atrações deste ano estão o Guana Batz (Inglaterra), o Cenobites (Holanda), e os grupo curitibanos Ovos Presley, Os Catalépticos e Hillbilly Rawhide.
Assim como nos últimos quatro anos, o festival terá como base principal o Jokers Pub, localizado na região central de Curitiba. Porém, nesta edição, também serão realizados alguns shows gratuitos no Lado B Bar, nas Ruínas de São Francisco, no Largo da Ordem (com o apoio da Rádio Mundo Livre FM) e na Gibiteca de Curitiba. “Os eventos gratuitos são muito importantes! Independentemente do apoio ou não do poder público, nós acreditamos que todos devem ter acesso à cultura”, afirma Vlad Urban.
Os ingressos custam de R$ 50 a R$ 250 e podem ser adquiridos no site Sympla. Confira todas as informações sobre a 21ª edição do Psycho Carnival neste link.
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