“Herbert é um sobrevivente”, comentou um fã durante o show do Paralamas do Sucesso, no último sábado (12) no BioParque, em Curitiba, dentro do Circuito Banco do Brasil. Relembrando a trajetória de vida do vocalista e guitarrista do grupo, a frase soa extremamente real.
Em 2001, Herbert Vianna e sua esposa, Lucy, sofreram um acidente de ultraleve em Angra dos Reis, litoral do Rio de Janeiro. Lucy morreu e o músico ficou confinado a uma carreira de rodas. Demonstrando uma força de superação impressionante, com a ajuda de sua família e de seus companheiros de banda, Herbert retomou o seu trabalho com o Paralamas. Hoje, o grupo está comemorando três décadas de carreira com a turnê “30 Anos”.
O show começou com “Alagados”, que abre o álbum “Selvagem?”, lançado em 1986, um dos grandes discos da história do rock nacional. No embalo da música, Herbert gritou por duas vezes: “quero ver as mãos de vocês, São Paulo!”. Surpreso, mas sem mágoas, o público respondeu. Terminada a canção, um coro de “Curitiba, Curitiba” fez o vocalista se retratar. “Desculpe rapaziada. A alegria de participar de um evento como esse às vezes engole o cérebro do cara”, disse. Desculpas aceitas, o que se viu foi um sucessão de hits, quase sem intervalo.
O show revisitou toda a carreira do trio, de “Cinema Mudo”, título do álbum de estreia do grupo lançado em 1983, passando por “Bora-Bora” de 1988, “Lanterna dos Afogados” de 1989 e “Cuide Bem do Seu Amor” de 2002.
Engrenagens bem azeitadas
A cozinha composta pelo baterista João Barone e pelo baixista Bi Ribeiro é uma das mais entrosadas e talentosas do rock nacional. Bi, no palco, é um escudeiro de Herbert, parecendo sempre cuidar do companheiro de banda, de forma fraternal.
Barone é um caso à parte. Dono de uma técnica e uma pegada impressionantes, o músico se destaca mesmo tocando um som que não exige tanto virtuosismo. Sua criatividade oferece sempre uma solução inventiva para as canções do Paralamas.
O tecladista João Fera, que acompanha a banda desde a década de 80 é, praticamente, um quarto membro do grupo. Dentro do som do Paralamas, as bases e frases de teclado são muito importantes e João faz isso perfeitamente.
Som e mensagem
O Paralamas faz parte de um extirpe do rock nacional que não fazia distinção entre música e texto. Os dois precisavam ter qualidade. “O Beco”, que abre o álbum “Bora Bora” lançado em 1988, é um exemplo disso. A letra é mais do que atual. “No beco escuro explode a violência. Eu estava acordado. Ruínas de igrejas, seitas sem nome. Paixão, insônia, doença, liberdade vigiada”, diz a letra.
“A Novidade”, parceria da banda com o músico e compositor Gilberto Gil, foi impossível não pensar no contexto social que a canção retrata. “Oh mundo tão desigual, tudo é tão desigual. De um lado este carnaval, de outro a fome total”, diz a letra.
“Que país é este?”, cover da Legião Urbana, fechou a apresentação. “Esse é o país do Cazuza e da Legião”, disse Herbert ao final da música. Podemos incluir nessa lista, também, Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, Picassos Falsos e tantos outros artistas que nos fazem esquecer, pelo menos durante algumas horas, a realidade sinistra da terra brazilis.
Confira o Paralamas ao vivo no BioParque com a música “Meu Erro”.
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