Texto – Marcos Anubis
Revisão e fotos – Pri Oliveira
“Há um segundo tudo estava em paz”, canta Herbert Vianna na canção “Cuide Bem Do Seu Amor”. Ao ouvi-la, é impossível não relembrar tudo que o Paralamas do Sucesso, e principalmente seu vocalista, passaram nas últimas duas décadas. Por conta disso, o público que praticamente lotou o Teatro Guaíra no último sábado (11) tinha uma certeza: o trio é um sobrevivente.
Pouco após as 21h, as luzes se apagaram e o telão posicionado atrás do palco começou a exibir imagens marcantes dos 30 anos de estrada do Paralamas. A instrumental “Vulcão Dub”, seguida de um dos grandes hits do grupo, “Alagados”, abriram o show. Durante toda a apresentação, o telão mostrava os nomes das canções, as capas e ano de lançamento dos discos e imagens da banda retratando suas mais de três décadas de estrada.
Um momento que marcou o show de uma forma especial, demonstrando o respeito que o público tem pela banda, foi protagonizado por Herbert. O músico tomou a palavra e se dirigiu à plateia: “Por algum motivo eu estou com uma tremedeira, então minha mão direita não está confiável. Por isso eu queria pedir desculpas a vocês se eu cometer alguns erros”, disse. Os fãs responderam aplaudindo entusiasmadamente.
Música e companheirismo
O som do Paralamas tem uma peculiaridade. Normalmente são os vocalistas e guitarristas que se tornam a “cara” de uma banda. A história do Rock está cheia de exemplos disso, como Page & Plant, Lennon & McCartney, Keith & Jagger e Townshend & Daltrey. No Paralamas é diferente. A cozinha formada por João Barone (bateria) e Bi Ribeiro (baixo) é perfeita na construção rítmica das canções do grupo e é ela que toma a frente. Além disso, o trio é muito bem assessorado por Bidu Cordeiro (trombone), Monteiro Júnior (sax) e pelo tecladista João Fera, que acompanha o Paralamas desde os anos 1980.
Outro fato que chamou a atenção no show é o cuidado que Barone e Bi têm com Herbert. Os dois interagem com seu companheiro durante toda a apresentação, procurando ter certeza de que tudo está bem. Em 2001, Herbert Vianna e sua esposa, Lucy, sofreram um acidente de ultraleve em Angra dos Reis, litoral do Rio de Janeiro. Lucy morreu e o músico luta até hoje contra as sequelas da fatalidade.
É nítido que a relação entre os três vai muito além da música, e isso transparece no clima da apresentação, tornando-a quase uma celebração à amizade entre eles. Uma amostra dessa história de companheirismo pode ser vista no documentário “Os Paralamas Do Sucesso 30 anos” (2014) que retrata todo o período de recuperação do acidente sofrido por Herbert e sua readaptação à banda.
Letras inteligentes em tempos de radicalismo
Bater na tecla de que as letras das bandas dos anos 1980 eram mais pensadas, pois passavam realmente uma mensagem, é chover no molhado, mas a comparação com a cena atual da música brasileira é inevitável. Nas suas letras, o Paralamas consegue navegar por climas mais calmos, como em “Lanterna Dos Afogados”, e ao mesmo tempo também pega firme na crítica social, como em “O Beco”.
Para encerrar o show, Barone fez menção às manifestações que aconteceriam no dia seguinte e a banda emendou a sua versão para “Que País É esse?”, da Legião Urbana, com sua letra mais do que atual. Se manter durante mais de três décadas fazendo música, convivendo com seus companheiros de banda diariamente, não é uma tarefa fácil. Unidos por uma amizade que parece transcender seu trabalho, o Paralamas do Sucesso continua construindo e fortalecendo os alicerces do rock brasileiro, alguns erguidos pela própria banda, lá no início dos anos 1980…
Veja nosso álbum de fotos e três vídeos da apresentação: “Meu Erro”, “Quase Um Segundo” e “O Beco”.
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