Texto: Marcos Anubis
Fotos: Camila Kovalczyk
Revisão: Pri Oliveira
As três bandas estão na estrada há mais de 30 anos e seguem trabalhando pelo fortalecimento do underground no Brasil
Na sexta-feira (20), o Jokers foi palco de uma noite que reuniu três grandes nomes da cena Guitar brasileira dos anos 1990: Pin Ups, Tods e Electric Heaven. O evento também teve a participação dos curitibanos da Editora Sapopemba, que esteve presente para divulgar o primeiro lançamento da empresa, o livro “Barbed Wire Kisses”, a biografia da banda escocesa The Jesus and Mary Chain.
Electric Heaven
O quarteto curitibano Electric Heaven abriu a noite. Formada em 1991, a banda foi uma das pioneiras da cena Guitar curitibana, mas teve um período curto de vida. Em 1994, eles encerraram as atividades e voltaram em 2017.
Junior Oliveira (guitarra e vocal), Mauricio Carlakoski (guitarra), Daniel Sasaki (baixo) e Alessandro Santiago (bateria) abriram o show com “Get on”, “King of moon” e “Nights in fury”.
Destaque para a canção “Lunar fever”, que tem como tema central um suposto triângulo amoroso vivido pelos astronautas da NASA em uma missão espacial realizada em 2006.
O grupo gravou a apresentação, e ela será lançada em um CD nos próximos meses. “Flaming head” encerrou o show. “Foi incrível! Nós reencontramos muitos amigos que nós não víamos há mais de 20 anos e o público foi muito receptivo. Tocar com duas das bandas mais legais dos anos 1990 realmente foi sensacional!”, finaliza Junior. Leia neste link uma entrevista com o Electric Heaven.
Confira o vídeo de “Lunar fever”, gravado ao vivo no show do Electric Heaven no Jokers, e veja também o álbum de fotos da apresentação.
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Tods
Em seguida, foi a vez do Tods pisar no palco do Jokers. Rodrigo Paia (guitarra e vocal), Igor Amatuzzi (guitarra), Fernando Lobo (baixo) e Rodrigo “Thur” Rigoni (bateria) abriram o show com “Youth“ e “Why”. O setlist do show ainda teve “Smile”, “So be cool” e “Yellow place”, entre outras músicas.
Recentemente, o Tods disponibilizou toda a discografia da banda nas plataformas digitais. Dessa maneira, além do público que conhecia a banda do início dos anos 1990, muitas pessoas acabaram conhecendo o som do grupo pela internet e foram ao show para ver de perto o trabalho do quinteto curitibano.
Oficialmente, o Tods nunca encerrou as atividades, mas as apresentações do grupo não são muito frequentes. Dessa forma, o show no Jokers foi uma rara oportunidade de ver uma das bandas que melhor representam o cenário underground curitibano dos anos 1990.
Em “Good to be here” e “Solitude”, Thur deu lugar ao baterista Victor Schemes, que também participa do trabalho do Tods. Na sequência, Rodrigo voltou ao palco para fazer a parte final do show.
“Everything” encerrou a apresentação. “Foi muito massa! O Jokers tem um som bom e vários amigos que não víamos há muito tempo saíram de casa para ir ao show. Tocar com o Electric Heaven, que tem uma longa história aqui em Curitiba e tocar novamente com o Pin Ups depois de 20 anos também tornou a noite memorável. Além disso, eu estava completando 40 anos de idade! O evento contou com patrocínio da Lucky Sunglasses e com o apoio da Pizzaria Focarili, da Editora Sapopemba, da Sonic Discos e do Negrita Bar”, finaliza Igor. Leia neste link uma entrevista com o Tods.
Confira o vídeo de “Everything”, gravado ao vivo no show do Tods no Jokers, e veja também o álbum de fotos da apresentação.
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Pin Ups
O quarteto paulista Pin Ups fechou a noite apresentando várias faixas do novo álbum, o recém-lançado “Long Time No See”. Alê Briganti (baixo e vocal), Zé Antonio e Bruno Palma (guitarras) e Flavio Cavichioli (bateria) abriram o show com duas faixas novas, “You can have anything you want” e “Portaits of lust”, e “Witkin”, do clássico “Judie Foster” (1995).
O setlist ainda teve mais faixas novas, como “Separate ways” e “Mexican tale”, canções antigas, como “TV set”, e até uma versão para “Don’t bring me down”, da Eletric Light Orchestra (ELO).
Entre as músicas novas, “Portraits of lust” é uma das melhores porque une o peso das guitarras de Zé e Bruno, o vocal doce e melódico de Alê e a pegada praticamente Heavy Metal de Flavio, que toca com uma violência impressionante. A combinação de todos esses elementos diferentes, inclusive, é o que dá ainda mais criatividade ao novo trabalho do Pin Ups.
Na lista de canções mais antigas que o grupo apresentou no Jokers, destaque para “Guts”, que continua sendo um dos grandes clássicos do underground brasileiro. Ao vivo, o Pin Ups é direto, sem meias palavras. A postura de palco da banda envolve o público por meio do som, das microfonias, do peso e da melodia. O mais impressionante é que essa química não se perdeu mesmo que a banda tenha ficado durante 17 anos inativa.
O Pin Ups voltou aos palcos em 2017 em um show no SESC Pompeia, em São Paulo. Inicialmente, essa seria uma espécie de festa de despedida da banda, mas o apoio do público foi tão grande que, no meio do show, o grupo avisou que estava retomando as atividades. A volta gerou o álbum “Long Time No See”, lançado em junho, que e é certamente o trabalho mais bem produzido da história da banda.
“You made me realise”, do My Bloody Valentine, encerrou a apresentação com a banda deixando os instrumentos no palco, carregados de microfonia até as cortinas do Jokers se fecharem. “Foi muito bom voltar a Curitiba. A plateia é sempre muito boa, e dessa vez não foi diferente. Tocamos com prazer e ficamos muito felizes, com vontade de voltar. Temos muito a agradecer às duas bandas que dividiram o palco com a gente, o Eletric Heaven e os amigos do Tods. Faço questão de dizer que poucas vezes fomos recebidos com tanto profissionalismo. A produção foi impecável desde o início. Agradecemos também o público presente, esperamos que todos tenham gostado tanto quanto nós e que o próximo show em Curitiba não demore tanto para acontecer”, diz Zé Antonio.
Respeito pela cena curitibana e pelo 92 Graus de J.R. Ferreira
A ligação do Pin Ups com a cena curitibana vem desde o início da banda. Acima de tudo, o grupo criou uma relação de respeito e admiração mútua com o dono do 92 Graus, produtor cultural, músico e ícone da cena underground curitibana, J.R. Ferreira. “Curitiba foi uma das primeiras cidades que acolheu o Pin Ups. Nós tivemos a oportunidade de tocar aqui várias vezes e viemos primeiro a convite do J.R., que sempre foi o maior divulgador da música independente no Paraná e até no Brasil. Eu lembro que, na época, ele tinha um selo (Bloody Records) e lançou muitas bandas importantes como o Pin Heads, o Boi Mamão, a Relespública e o Resist Control. Na época, nós tocamos bastante com essas bandas, tanto em Curitiba quanto em São Paulo e todos foram muito legais!”, diz Alê.
Nessa volta e com a consequente retomada do contato com o cenário underground, a banda faz questão de ressaltar a importância de J.R. para a cena Guitar do início dos anos 1990. “No Brasil, isso nunca é reconhecido. Na Inglaterra, por exemplo, o Alan McGee (fundador da gravadora independente Creation Records) tem subsídio do governo pra manter o trabalho dele. Pessoas como o J.R. e o Rodrigo Lariú (criador do fanzine Midsummer Madness) fizeram tanto pela cena que deveriam ter esse reconhecimento! As bandas enfrentam uma série de dificuldades, mas a gente ainda tem o prazer de subir no palco e tocar. Ele só fomenta tudo isso, só dá chance para as bandas e eu acho que isso é uma generosidade e uma bondade gigantescas. Ele não pôde vir ao nosso show porque está trabalhando lá no 92, mas eu fiz questão de ligar pra ele e avisar que a gente estava aqui. O J.R. faz parte da nossa história e eu gostaria muito que ele tivesse vindo”, ressalta Zé Antonio.
Claramente, o carinho do Pin Ups por toda cena curitibana e, principalmente com J.R. Ferreira, é muito profundo e verdadeiro. “O 92 sempre foi uma casa muito especial! A gente vivia comentando que não existia um lugar como esse em São Paulo, por incrível que pareça. Na época, tinha o Retrô e alguns outros lugares, mas o astral do 92 era muito especial! Nós somos muito gratos ao J.R. por ter proporcionado isso pra gente durante tantos anos”, diz Alê. “Curitiba sempre foi uma cidade muito acolhedora, a gente sempre se sentiu muito à vontade aqui. Ela tem uma cena muito legal. A música alternativa faz muito sentido em Curitiba”, complementa Zé Antonio.
A volta aos palcos
Em 2015, os diretores Marko Panayotis e Otavio Sousa estavam trabalhando no documentário “Time Will Burn” (2016) e o diretor Caio Augusto Braga estava começando a gravar o documentário “Guitar Days – An Unlikely Story of Brazilian Music” (2019). Os dois filmes retratam o período de ouro das Guitar bands brasileiras e, obviamente, trazem o Pin Ups como um dos personagens principais.
Na esteira dessas produções, o Pin Ups resolveu fazer um show de despedida no SESC Pompeia, em São Paulo. “Surgiram muitos documentários sobre aquela cena e eu aí perguntei pra Alê se a gente deveria voltar a tocar. Ela era a pessoa mais resistente! Então, nós decidimos fazer um show de agradecimento e ficamos surpresos por ver tanta gente nova na plateia. Nós estávamos muito emocionados nesse show. Para a minha surpresa, a Alê pegou o microfone e falou que esse seria o último show ‘em São Paulo’! Eu demorei muito a me convencer que o Pin Ups ia acabar e, quando isso aconteceu, a Alê foi lá e me tirou disso em dois minutos!”, diz Zé Antonio.
A partir desse momento, a banda começou a agendar shows por todo o país. “Nós decidimos marcar outras apresentações pelo Brasil. Só que, como não existem outros J.R.s por aí, nós não conseguimos fazer tantos shows quanto a gente queria”, diz Alê.
Na sequência, o diretor do documentário Guitar Days pediu ao grupo para que gravasse uma faixa inédita para a trilha sonora do filme. Inicialmente, devido aos custos, a banda ficou em dúvida, mas a gravação acabou acontecendo no estúdio Aurora, em São Paulo.
Surgiu então a música “First time”, mas o grupo achou que ela acabou soando exatamente como era o som do Pin Ups nos anos 1990. A intenção da banda, se a ideia de gravar um novo álbum começasse a entrar em pauta, era olhar para frente e não se prender somente aos louros do passado. “O Zé e o Adriano começaram a colocar pilha para que a gente gravasse um disco novo”, conta Alê.
Só que, novamente, a banda não tinha dinheiro para investir em todo o longo processo de produção de um novo álbum, naquele momento. Porém, em uma atitude raríssima nos dias de hoje, os proprietários do Estúdio Aurora resolveram se colocar à disposição para gravar o novo CD. Começava aí o nascimento de “Long Time No See”, o primeiro álbum do Pin Ups desde “Bruce Lee” (1999).
O resultado foi um trabalho que retrata todas as influências do Pin Ups, muito além das Guitar bands. “Nós tivemos quase um ano para fazer o álbum e fizemos tudo com tempo, porque todos nós temos outras ocupações. Foi incrível trabalhar com o Adriano Cintra, ele é um produtor incrível!”, diz Alê. Adriano era o guitarrista do grupo e, após o lançamento do álbum, se mudou para Portugal, dando lugar a Bruno Palma.
Sem dúvidas, esse é o álbum mais bem produzido da carreira do Pin Ups e retrata influências que podem surpreender até mesmo os fãs mais antigos. “Se for para olhar para trás, não vale a pena. Se você pegar o histórico do Pin Ups, nossos discos são muito diferentes. Eles sempre refletem uma fase que a gente estava vivendo. Acho que, se a gente não fez mais nos discos, é porque sempre tivemos muitas limitações. A gente entrava no estúdio com umas 30 horas para gravar e tinha que correr pra fazer como dava. Então, eu conversei muito com o Flavio dizendo que a gente teria que fazer ago diferente dessa vez”, conta Zé Antônio. “Eu estou muito satisfeita com esse disco! Acho que ele tem realmente as influências de todos nós!”, complementa Alê.
Durante as gravações, além de contar com a atitude generosa do estúdio Aurora, a banda também recebeu o auxílio de várias pessoas. “Nós ficamos muito surpresos com algumas coisas. Nós queríamos teclados, aí eu falei com o Pedro Pelotas, do Cachorro Grande, e ele veio gravar de coração aberto. Decidimos colocar alguns backing vocals e o pessoal do Antiprisma, que é um duo incrível lá de São Paulo, também gravou. Chamamos também a Amanda Butller, do Sky Down, e até a Eliane, que foi guitarrista do Pin Ups, mas está morando em Londres, veio ao Brasil para participar”, conta Zé Antonio.
A própria arte do disco foi um presente de um fã da banda. “Além de tudo isso, nós conhecemos o Laurindo Feliciano (ilustrador) e ele nos deu de presente a arte do disco! É uma coisa que a gente nunca poderia pagar, pelo nível do trabalho dele, e ele fez isso porque gosta da banda. Então, esse foi um disco muito colaborativo e espontâneo. Nós fomos presenteados de várias maneiras”, diz Zé Antonio. “Nós tivemos muita sorte, muita gente bacana ao lado. Nós fomos abençoados”, finaliza Flavio Cavichioli.
O álbum “Long Time No See” foi lançado nas plataformas de música digital, em CD e em vinil, por meio de uma parceria da Fleeting Music com a Midsummer Madness. Confira os vídeos de “Guts” e “Portraits of lust”, gravados ao vivo no show do Pin Ups no Jokers, e veja também o álbum de fotos da apresentação.
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