A apresentação no John Bull marcou o lançamento do álbum “Nação Daltônica” em Curitiba
A atemporalidade da obra de algumas bandas brasileiras realmente chama a atenção. Em pleno século XXI, mais de três décadas após o surgimento da maioria delas, algumas continuam se reinventando a cada ciclo.
Outras se mantêm fiéis ao seu estilo musical e, sobretudo, às suas convicções. É o caso da Plebe Rude. Philippe Seabra e seus plebeus cantam a realidade brasileira há mais de 30 anos e, ao contrário de alguns dos seus contemporâneos, eles não venderam a alma em troca de alguns minutos de fama.
Nessa sexta-feira (2), no John Bull, a Plebe Rude voltou a Curitiba para apresentar seu novo álbum, “Nação Daltônica”. A banda não se apresentava na capital paranaense desde 2012.
Ninguém entende um Mod
A abertura foi da banda curitibana Relespública. Com 27 anos de história, o trio formado por Fabio Elias (vocal e guitarra), Ricardo Bastos (baixo) e Emanoel Moon (bateria) é uma instituição do Rock curitibano.
Da mesma forma que a Plebe Rude, a Relespública se mantém fiel ao seu estilo musical. Forjado no Mod do The Who, ao mesmo tempo, o grupo incorpora em suas letras e no seu som muitas características do Rock feito na capital das araucárias.
O trio abriu a apresentação com “Nós estamos aqui”. Boa parte do público conhecia e cantava as músicas porque já acompanha a Reles desde o início de sua carreira. “Sem dúvida, foi um dos nossos melhores shows nesses 27 anos de estrada. A banda tocou com energia e alegria na dose certa e o público estava incrível! A gente olhava nos olhos deles e via a cara de satisfação e admiração por nós. Tipo: ‘Só três caras fazendo essa sonzeira?’ (risos). Isso é muito legal!”, diz Fabio Elias.
O repertório teve músicas de todas as fases da carreira da banda, entre elas: “Essa canção”, “Capaz de tudo” e um medley com “A minha menina” dos Mutantes e “Oração de um suicida” do Blindagem.
Contemporâneos
A relação de admiração entre a Plebe e a Relespública remonta aos anos 1980. “Foi a terceira vez que tocamos juntos. São ídolos e amigos, assim como o Ira!. Como eu disse no show, somos de 1989, a última banda dos anos 1980 (risos). Somos da mesma geração, um pouco mais novos, apenas, mas bebemos na fonte deles. Rock clássico e Punk Rock são nossas influências em comum. É sempre um prazer tocar com eles. Foi, sem dúvida, uma noite memorável!”, diz Fabio.
Ele também conta que o legado musical da Relespública ainda não se encerrou. “Temos material inédito sobrando, além de alguns rabiscos mais atuais que dariam mais um álbum. Mas eu ando muito crítico sobre política e a banda não quer que eu fique martelando nesse assunto. É foda ser compositor inconformado e ao mesmo tempo pilhado e chato pra caralho. Não sei como eles me aguentam (risos), complementa.
Uma prova de que a banda continua criativa é a inédita “Faça o que quiser”: apesar de ser tocada nos shows do grupo, ainda não foi gravada. “Nós ainda não gravamos por falta de tempo e porque eles (Ricardo e Moon) vivem de seus outros empregos hoje em dia. Estamos cheios de filhos e familiares que dependem desses três roqueiros (risos). Mas, por mim, já estaria pronto esse disco”, diz Fabio.
Duas surpresas, porém, já estão quase prontas: a biografia da banda, escrita pelo jornalista Sandro Moser, e um documentário produzido pelo documentarista Frederico Neto. “Só estamos esperando o aval deles para decidir quando lançar. Eu gostaria que fosse nos 30 anos de Reles, em 2019”, diz Fabio.
“Garoa e solidão” encerrou o show. Sem nenhum exagero, canções como “Nunca mais” ou “Marcianos” deveriam ser parte da programação de qualquer rádio brasileira.
Ou, por um acaso, é difícil imaginar algum adolescente batendo perna por aí e cantarolando “Meus irmãos e suas vidas cheias de emoção. Todos já foram descansar. Passaram o domingo, Coca-cola com limão. Acendo um pra relaxar”?
Assista a dois vídeos do show: “Dê uma chance pro amor” e “Nunca mais”.
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O concreto já rachou
Com a casa completamente lotada, a Plebe abriu o show com “Sua história”, faixa de seu mais recente álbum, “Nação Daltônica” (2014). “Brasília”, a ode da Plebe ao seu (politicamente) nefasto lar, veio em seguida.
Durante todo o show, Philippe Seabra (guitarra e vocal), Clemente (guitarra e vocal), André X (baixo) e Marcelo Capucci (bateria) demonstraram uma energia contagiante.
O motivo parecia ser óbvio: o público interagiu do começo ao fim, cantando todas as músicas, mesmo as mais recentes. “Eu sou muito mais uma plateia assim, em um lugar menor do que aos que estamos acostumados, mas com as pessoas cantando tudo do que estar em um parque de exposições, por exemplo”, elogiava Philippe em uma entrevista para o Cwb Live após o show.
A comparação faz sentido. No John Bull, a plateia era composta por fãs que estavam ali para ver uma banda que acompanham desde a adolescência. A analogia que Philippe fez com “um parque de exposições” diz respeito à interação que o fã tem em um show de seu artista preferido. “É por isso que na música ‘Anos de luta’ nós falamos ‘Renato Russo em um parque de exposições’. É porque ficou banalizado. Se você tirar o volume e só assistir a plateia, as pessoas estarão cantando ‘Que país é este’, É o Tchan ou Michel Teló com o mesmo entusiasmo. Isso é deprimente! Eu não quero isso, não é o tipo de público que me interessa. É preciso entender o que está acontecendo. Tanto que nós fazemos faz a piada nessa música”, explica.
Durante a apresentação, além de seus clássicos, o grupo tocou algumas faixas do novo álbum: entre elas a inspiradíssima “Anos de luta”, que se mostrou ainda mais forte ao vivo. Ironicamente, a letra dessa música se tornou uma espécie de “profecia” que narrava o que o Brasil passaria apenas dois anos depois. “As decisões que tomam por você e as opções que te deixam eleger”, canta Philippe.
Coerência
Existe um fator primordial para quem é fã ou mesmo para os que acompanham de longe o trabalho do grupo: ao contrário de inúmeras bandas de sua geração, a Plebe Rude não mudou o seu discurso ou a sua forma de pensar.
Desde 1985, quando lançou o clássico “O Concreto já Rachou”, o grupo expõe em suas letras toda a insatisfação de um povo que, estranhamente, aprendeu a se acomodar perante as imposições dos baluartes momentâneos do poder. “A Plebe, provavelmente, foi a única banda da década de 1980 que não mudou uma vírgula. Nós sofremos por causa disso. É difícil você ser um artista coerente no Brasil”, afirmou.
Realmente, muitos grupos da década de ouro do Rock nacional só continuam vivos em função de seus sucessos do passado. Além disso, alguns desses artistas parecem querer esquecer a postura que tinham. “Nós vemos alguns dos nossos colegas se envergonhando. Algumas dessas bandas se odeiam por dentro, mas estão juntas porque “rende um troco”. É um pouco triste isso”, diz.
Ao contrário de outros nomes importantes da sua geração, a Plebe não sobrevive apenas de seus grandes clássicos. “Provavelmente, nós não somos a banda mais popular de Brasília, mas nos orgulhamos de não dependermos do Renato Russo para termos carreira ou repertório. Nós sabemos compor”, diz.
O mais recente trabalho da banda, “Nação Daltônica”, saiu em 2014 e não fugiu da linha da Plebe: um instrumental forte e direto, mas acima de tudo, letras ácidas e inteligentes. “Um artista que não compõe não é artista, é intérprete, é cover, é banda de baile. O poder da palavra é uma coisa importante para nós. É fundamental!”, afirma.
O novo álbum traz músicas que são quase uma crônica sobre a realidade brasileira nas últimas décadas. A intenção parece ser fustigar o entendimento que o cidadão tem sobre a sua realidade. “O disco fala quase que como um mantra sobre a falta de discernimento do brasileiro. E, se hoje as pessoas têm opiniões bem extremas (e meio rasas, cá para nós), como ‘é preto e branco’, ‘petralha’, ‘coxinha’, essas palhaçadas, o que aconteceu? Nós descobrimos a Guerra Fria agora?”, diz Philippe.
Essa falta de entendimento, ou de vontade de se entender, parece incomodá-lo como cidadão e também como músico. “Não existe mais discussão. E o lance da Plebe era sempre promover, instigar a discussão. Então, quando nós vemos isso não acontecendo, as pessoas deixando de se falar, na verdade isso é uma grande palhaçada de internet. É o lado negativo das redes sociais nas quais qualquer babaca tem opinião”, opina.
Na sequência do show, antes de “Censura”, Philippe revelou que o contexto atual do país “obrigou” a banda a retomar essa canção. “Nós tínhamos tirado essa música do repertório, mas devido a todos os acontecimentos contra a liberdade de repressão e de protesto, fomos obrigados a retomá-la”, disse.
O setlist ainda reservou uma surpresa para os fãs: um medley com quatro músicas do segundo álbum da Plebe: “Nunca fomos tão brasileiros”, “48”, “Consumo” e “Nova era techno”. Na parte final da apresentação, a Plebe tocou uma versão para “Medo”, do Cólera. “Proteção”, intercalada com “Pátria amada” dos Inocentes, encerrou o show.
Na volta para o bis, “Até quando esperar”, tocada 31 anos após a sua criação, provou que ainda é um hino assustadoramente atual. Poucas bandas no mundo conseguiram retratar tão bem a realidade do seu país. Por esse motivo, a importância da Plebe Rude para o Rock nacional vai além de sua música.
“Anos de luta, será que foi em vão? Entretenimento no final”
O show em Curitiba, ironicamente, aconteceu na mesma semana em que a presidente eleita Dilma Roussef foi afastada do cargo pelo Congresso Nacional. Em 31 anos de “democracia”, dois presidentes do Brasil sofreram impeachment e três vices assumiram o comando do país.
Dentro desse contexto, para uma banda que sempre se preocupou com a realidade política e social do lugar em que vive, o show em Curitiba teria uma conotação especial? “Quando você tem 30 e poucos anos de banda você já viu e passou por tudo”, diz.
A reação da Plebe com as desavenças sociais do país não começou oportunamente agora, quando todos parecem, ou fingem se preocupar. Ela vem desde a década de 1980, tanto nas músicas quanto nas entrevistas e atitudes da banda. “Se os anos 1980 e a Plebe ressoam até hoje (às vezes eu acho um pouco exagerada essa babação dos anos 1980) é porque o discurso era muito puro”, diz.
Os novos defensores da democracia
Nos últimos anos, a cultura brasileira vive uma enxurrada de músicos, atores e “celebridades” que, de uma hora para outra, tornaram-se porta-vozes de algumas ideologias. “Eu não consigo ter muito respeito por artistas ultraoportunistas que, agora, despertaram e dão discursos políticos, gravam discos com músicas dizendo ‘viva a revolução’, ‘abaixo o governo’ e não sei o que”, afirma Philippe.
Para bandas que sempre tiveram uma postura combativa, essas atitudes de quem nunca pareceu se preocupar com o que estava a sua volta soam de forma estranha. “O que aconteceu nos últimos 30 anos? Nada? Estava tudo bem? Então, essa complacência do brasileiro, essa passividade, eu acho que é um pouco de consequência da falta de engajamento do artista brasileiro”, complementa.
Na visão de Philippe, a classe artística brasileira também tem culpa por esse estado de coisas. “Na década de 1970 a MPB tinha algumas coisas mais engajadas. Aí chegou o Rock, no final desse período. Tinha a Rita Lee e algumas coisas assim, mas era meio establishment. Não tinha nenhum cunho social. Eram mais os ‘popzinhos’ que chegavam nas rádios. Era a MPB que ainda carregava essa bandeira”, analisa.
A abordagem dos problemas do país com uma maior profundidade, na visão de Philippe, foi conquistada mais fortemente na sua geração. “Isso coube ao Rock brasileiro dos anos 1980. E a carga de trazer um pouco mais de consistência, de lucidez de volta às rádios, ficou para o pessoal de Brasília”, diz.
Diferente do Punk Rock de São Paulo, o de Brasília tinha mais “lirismo” em suas letras. Isso porque enquanto os paulistas metiam o dedo na ferida sem dó nem piedade, a turma da capital nacional abordava de forma mais profunda as mazelas do Brasil. “Isso veio do nosso background, porque os nossos pais eram acadêmicos lá em Brasília. E aí, quando o rock brasileiro começou a explodir, nós não estávamos no lugar certo porque Brasília é um pouco isolada, mas nós estávamos com o texto correto”, analisa.
Esse cenário só foi possível porque existia todo um contexto cultural envolvido na vida desses adolescentes. “Isso não apareceu do nada. O pessoal viajava, falava outra língua, os pais eram acadêmicos, teve muita leitura e existia uma programação infantil na TV que era adequada”, relembra.
A partir da metade da década de 1980, a realidade do jovem brasileiro começou a mudar drasticamente. Começando pela música, quando as grandes gravadoras descobriam que podiam “vender” seus artistas e ganhar muito dinheiro com isso.
Dali em diante, essa mudança se estendeu a outras áreas que formam a personalidade de um cidadão. “O que aconteceu nos anos 1980? As loiras começaram a invadir as televisões, tiraram do ar pessoas como o Daniel Azulay e começaram a empurrar brinquedos e discos garganta abaixo das crianças. E são essas crianças que hoje são os adultos”, analisa.
Toda essa manipulação midiática desembocou na realidade atual do país e ajudou a formar, ou desinformar, a maioria das pessoas. “Se não estamos vendo muitos letristas no mainstream (no independente tem coisas legais, eu me refiro ao que está chegando até as rádios), se não estamos vendo esse nível de texto, tem um certo motivo. Pouca leitura, muita televisão… Então, como cidadão, eu fico um pouco triste vendo o que está acontecendo. E, como pai, eu fico estarrecido com a falta de articulação”, complementa.
A onda de oportunismo
Dentro do clima de guerra que foi criado no país nos últimos anos, não foram poucos os artistas que se aproveitaram da ingenuidade do momento para alavancar as suas carreiras. Alguns se tornaram “escritores”, outros reformularam o teor de suas músicas para se adequar ao pensamento atual.
Para músicos que sempre tiveram um nível alto de contestação, fica claro que nada poderia ser mais oportunista. “Eu vejo artistas cheios de opinião. Mas, engraçado, o que eles estavam fazendo nos últimos 30 anos? Ah, estavam cantando o seu ‘blá blá blá’, ‘vamos tocar na rádio’. Agora você vem com discurso? Eu não consigo ter o mínimo respeito por isso. E a gente conhece muitas dessas pessoas”, critica Philippe.
No entanto, na visão dele, mesmo com esse mar de interesses obscuros, ainda é possível separar o joio do trigo. “É muito simples: você tem que analisar o artista pela sua obra, não pelo que ele fala entre a obra. Nesses dias, até o Chitãozinho e o Xororó estavam dando discurso político. Pô, jure!”, diz. “Isso meio que dilui o discurso, fica uma coisa meio boba. É mais pra levantar a galera. Não é que as pessoas não tenham o direito de falar sobre x ou y, mas isso tem que vir de um lugar sincero”, complementa.
Agora, o país foi colocado em uma situação complicada e está nas mãos de suas autoridades a missão de guiar a população para uma realidade melhor. É aí que mora o perigo. “A perspectiva não é boa. Eu fico preocupado. O que vai acontecer agora, depois de toda essa movimentação? Olha quem ficou! Que beleza! A gente vê o Collor lá, o Renan, todos indiciados por alguma coisa! E a gente corre para onde? Como cidadãos, nós cumprimos o nosso papel. Vamos torcer para que todos cumpram. Somos uma gota no oceano, mas eu durmo tranquilo”, opina.
A verdade é que as mazelas do Brasil não existem por acaso. Foram séculos de exploração e pouca ou nenhuma preocupação com a educação das pessoas. O resultado de todo esse despreparo está sendo colhido atualmente. “O brasileiro está tão acostumado a aceitar qualquer coisa que, se aparecer algo legítimo, um político bem-intencionado ou um artista com embasamento, será que as pessoas têm as ferramentas para sacar a diferença? Ou no meio do ruído é tudo a mesma coisa? Isso me preocupa muito!”, diz.
Referências
Quando uma pessoa tem um ídolo, ele acaba se tornando a referência para esse fã em vários aspectos da vida dele. Por isso, a responsabilidade desse músico, esportista, ator ou outra figura pública qualquer é enorme. “O artista, bem ou mal, tem um espaço na mídia e isso tem que ser usado de uma maneira responsável. Não é dando discurso, não é isso, mas passando uma coisa positiva”, diz Philippe.
Nesse ponto, os fãs da Plebe Rude e de outras bandas que possuíam ou ainda têm essa preocupação social, foram muito bem “preparados” para encarar as suas vidas. “Existem muitos fãs da Plebe que entendem a nossa proposta. Eu conheço pessoas que deixaram de entrar no Exército, que viraram professores ou foram estudar Sociologia por causa da Plebe, por influência direta. Isso é o que mais me orgulha! Quando um professor chega pra mim e fala que usa as nossas letras nas aulas dele ou quando vemos provas de vestibular ou teses que usaram letras da Plebe”, conta.
“Às vezes, só do inferno é que se vê o céu”
Se hoje ainda é difícil uma banda despontar fora do eixo Rio-São Paulo, imagine na primeira metade da década de 1980. “Nós estávamos em Brasília, longe de tudo e de todos, apanhando da polícia e mandando músicas para a censura”, relembra.
Ironicamente, coube aos Paralamas do Sucesso (que não eram de Brasília, mas cresceram lá) a honra de ser a primeira banda da capital do Brasil a conseguir gravar um álbum. “A gente achava legal que finalmente alguém de Brasília tivesse conseguido gravar. Aí, fomos escutar a música e ela dizia: ‘minha turma já está lá e é por isso que eu também vou’. O quê? O Aborto cantando ‘Que país é este?”, a Plebe cantando ‘Até quando esperar’ e é isso que consegue gravar? (risos). ‘Que papo careta, só tô tirando chinfra com a minha lambreta’. Não era transgressor, pra nós era constrangedor”, relembra Philippe.
Na sequência dessas ironias do destino, Herbert e sua banda se tornariam essenciais na trajetória da Plebe Rude. “A gente perde o amigo, mas não perde a piada. Nós sacaneávamos o Herbert sem conhecê-lo, vide a música ‘Minha renda’. Só que, como a Plebe era coerente, esse nosso lado sacana encantou o Herbert. Ele abraçou a banda e depois nos produziu. Isso é legal! Você tem que ser você, é preciso ter uma faísca assim”, diz.
“É pedir demais, me diga, coerência da própria geração? Se você não vê, é daltônico como o resto da nação”
Independentemente das modas passageiras ou dos oportunistas do momento, Philippe e a Plebe Rude souberam navegar por águas que, bem ou mal, os trouxeram até aqui. “Coerência e postura são coisas que a Plebe sempre teve. E sofremos muito por causa disso, mas é uma decisão bem consciente. Nós somos desse jeito”, afirma.
Paralelamente, esse caminho também foi trilhado pelos fãs que acompanharam a trajetória da banda. “Quem vai a um show da Plebe tem um nível de discernimento mais alto. No álbum novo, especialmente, na ‘Anos de luta’, nós dizemos ‘sua geração se acomodou ou o nível de exigência diminuiu?’. Eu realmente não sei”.
Não é possível saber o que o futuro nos reserva. Evoluiremos como nação, ou permaneceremos daltônicos? “Agora eu vejo tudo pelo prisma de pai, pois o meu filho vai completar cinco anos. Ele vai estar bem porque vai ter esse discernimento em casa, mas e quem não tem essa ajuda para guiar? O Rock de Brasília teve isso. Nossos pais sempre foram muito presentes e isso fez a diferença”, relembra.
O fato é que, olhando para trás e vendo o que a banda construiu, bem como as influências que ela deixa até hoje na música e na sociedade brasileira, Philippe pode sorrir com tranquilidade. “Enquanto artista eu não tenho como não me orgulhar da obra da Plebe, sabe? Nós sempre fomos coerentes, as músicas são atuais até hoje. Fizemos o Faustão há duas semanas e o texto estava lá, passando embaixo das músicas para o Brasil inteiro ver, sem mudar uma vírgula”, afirma. “Eu acredito no bem maior que a música pode fazer. Sem sacanagem, eu tenho essa visão meio romântica. A música mudou a minha vida”, finaliza Philippe Seabra.
Assista a duas músicas do show: “Anos de luta” e “Até quando esperar”.
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Basta usar o código CWBLIVE. Aproveite porque a Belas Letras possui o catálogo de biografias e livros relacionados ao mundo da música mais completo do Brasil!
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Excelente texto e entrevista com o Philippe. Concordo plenamente , pois acompanho a Plebe desde o seu início, e sempre tive essa mesma percepção sobre a coerência, fidelidade e autenticidade que a Plebe sempre teve e mantem até hoje.