Texto: Marcos Anubis
Fotos, revisão e tradução: Pri Oliveira

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A terceira noite do Psycho Carnival, que aconteceu no último domingo (7) no Jokers Pub, foi uma das melhores dessa edição do festival. Os shows reuniram bandas novas, o retorno de um dos veteranos dos 17 anos do evento, o incrível peso Psycho/Metal/Punk dos holandeses e um momento em que a amizade e a música superaram barreiras.


Luisonz

A apresentação do trio paraguaio Luisonz certamente ficará marcada na história do Psycho Carnival como uma das mais divertidas da história do festival. “Nosso show foi o que fazemos sempre: tocamos, nos divertimos, bebemos, fumamos e erramos (risos). Ao final, muitas pessoas vieram dizer que gostaram do nosso show e que tínhamos chamado a atenção”, diz a baixista da banda, Kim.

O grupo chama o seu estilo de “Maconhabilly”, um Psychobilly movido a aditivos “naturais”. Nessa linha de pensamento, uma dançarina vestida de forma sensual, com os seios à mostra e usando um chicote, ficou no palco durante toda a apresentação fazendo uma performance. Desde sua chegada em Curitiba, auxiliado pelos amigos da cena local, o vocalista e guitarrista Fer Petar aprendeu boa parte dos palavrões da língua portuguesa e soube usá-los com muito bom humor.

Os integrantes do Luisonz já vieram como espectadores a várias edições do Psycho Carnival. Essa, entretanto, foi a primeira vez que a banda subiu ao palco para abrir uma das noites do festival. “Estávamos muito nervosos e emocionados por ser a nossa primeira apresentação no Psycho Carnival. Após tantos anos assistindo e admirando as bandas que se apresentavam aqui, foi uma honra sermos presenteados com essa oportunidade”, conta Kim. “Como temos apenas dois anos de banda, dividir o palco com grupos que têm tanta história nos orgulhou muito. Foi uma experiência inesquecível!”, complementa.

Com a boa repercussão de seu show, o Luisonz foi convidado a se apresentar na terça-feira (9) no Lino’s Bar. Essa foi outra experiência marcante para o trio paraguaio. “Recebemos o convite graças ao Guilherme do Skullbillies que, desde a nossa chegada, fez com que nos sentíssemos em casa. Para nós, foi um sonho tocar nesse lugar histórico. No Lino’s o show foi mais relaxado. Tocamos mais músicas, durante mais tempo e com mais interação do público. O Lino’s respira Rock ‘n’ Roll. Nos sentimos em casa. O astral das pessoas que estavam lá era muito legal. As bandas e o público foram muito legais conosco. Vendemos todos os CDs e camisetas que levamos. Ficamos muito felizes!”, diz Kim.

Nesta edição do Psycho Carnival, o Luisonz viveu o grande momento de sua carreira. O show fez com que a banda se tornasse conhecida fora de seu país e, certamente, conquistou muitos fãs brasileiros. “Ficamos surpresos, pois algumas bandas que admiramos há tantos anos, como o Ovos Presley, falaram muito bem sobre a nossa apresentação. Fizemos muitos amigos e irmãos para toda a vida. Nós estaremos aqui nas próximas edições do Psycho Carnival e esperamos ter novamente a oportunidade de tocar. Não cansamos de agradecer à todos os brasileiros por nos receberem tão bem. Muito obrigada!”, finaliza Kim.


Skullbillies

O quarteto curitibano Skullbillies também fez a sua estreia no festival. O show estava cercado de muita expectativa porque a banda é apontada como um dos destaques da nova geração Psychobilly. Por causa disso, a responsabilidade era grande e o grupo não decepcionou. “Para nós, participar do Psycho Carnival foi uma honra e a realização de um sonho. A Skullbillies ainda é uma banda nova e estamos lutando pelo nosso espaço com unhas, dentes e sangue (artificial)”, diz o baterista Bone Shaker.

Antes do show, com as cortinas fechadas, teias de aranha e bexigas foram colocadas no palco do Jokers Pub. O grupo também encarou a oportunidade como um momento de superação. “Esse evento foi especial para nós, pois marca um período de várias mudanças com altos muito altos e baixos muito baixos. Esta foi a segunda aparição nos nossos shows do zumbi Noel (que vai nos acompanhar daqui pra frente) e também a segunda apresentação com o grande baixista Pepeu Flukeman”, diz o guitarrista Rocker GT. O performático zumbi Noel esteve no palco durante todo o show. Na segunda música do setlist, “Pinga com ódio”, o público ganhou de presente uma garrafa da “mardita”, servida por ele.

Apesar de todas as barreiras enfrentadas, para o Skullbillies, o saldo da estreia no Psycho Carnival foi positivo. “Infelizmente não conseguimos tocar todo o nosso repertório, pois o Pepeu teve apenas uma meia dúzia de ensaios para pegar um monte de músicas. Mas com muita dedicação e força de vontade, conseguimos tocar boa parte do nosso repertório que é totalmente autoral”, diz Bone Shaker. “Não foi nossa melhor apresentação, mas fizemos o melhor e estamos muito orgulhosos com isso. Esse foi nosso primeiro Carnival participando como músicos e esperamos ser convidados novamente”, finaliza.


Voodoo Stompers

Após quase uma década de ausência, o trio paulista Voodoo Stompers retornou em grande estilo ao Psycho Carnival. “Depois de oito anos, foi sensacional e realmente incrível voltar ao festival, no mesmo palco do Jokers! Não esperávamos uma recepção tão calorosa do público. O pessoal ficou vidrado durante o show inteiro, curtindo muito, aplaudindo, se socando e dançando” diz o baixista do grupo, Marcial.

No começo da apresentação, a banda teve alguns problemas na captação do baixo que foram prontamente resolvidos pela equipe técnica do festival. “O pessoal do som foi muito atencioso e profissional (o baixo deu problema em alguns momentos e tudo foi resolvido rapidamente). Acreditamos muito que esse show foi o empurrãozinho que precisávamos para voltar aos palcos com todo gás!”, complementa.

O trio apresentou músicas com “Welcome to the Nightmare” e “Attack of the Space Cockroaches”. A presença no Psycho Carnival parece realmente ter reacendido o ânimo da banda para retomar definitivamente o seu trabalho. “Tudo teve uma ótima organização, com ótimas bandas e vários amigos. É realmente emocionante fazer parte disso! O maior festival de música underground do país é um festival de Psychobilly e prometemos não demorar mais oito anos para tocar nele novamente!”, finaliza o baixista.


Cenobites

O show da banda holandesa Cenobites, no último domingo (7), foi um dos melhores dessa edição do Psycho Carnival. O peso que P.G. Vogeli (baixo e backings) Dimitri Hauck (vocal), Rudo Reject (guitarra) e Timothy Lovell (bateria) conseguiram impor ao vivo no Jokers Pub foi impressionante. “Nós realmente costumamos tocar bem alto”, disse Dimitri após o show. O público que lotou a casa e se quebrou no wreck durante o show da banda pôde sentir isso de perto.

O som do Cenobites une Psychobilly, Punk, Hardcore e Heavy Metal de forma magistral. Em uma entrevista concedida ao Cwb Live antes do festival, Dimitri disse que nem todos na cena Psycho mundial gostam do som que o Cenobites faz. A razão seria justamente essa fusão com outros estilos, principalmente o Heavy Metal, o que deixa as músicas ainda mais agressivas. Alheios a esse tipo de “polêmica”, o público que praticamente lotou o Jokers recepcionou os holandeses de uma forma mais do que calorosa.

O setlist apresentado pelo grupo reuniu músicas mais antigas, entre elas “Murderer’s Fate” e a versão para “Don’t Talk to Me” de G.G. Allin, além de algumas faixas de seu excelente novo álbum, “Aftermath – The Nuclear Sessions”, como “El Camino Del Amor” e “The Deal”. O Cenobites toca com uma velocidade e um peso que transcendem o Psychobilly. E diante dessa potência sonora, Dimitri se destaca por ser um frontman nato, daqueles que cantam durante todo o tempo com o pé em cima do retorno de palco, encarando a plateia.
Para coroar uma apresentação marcante, no final do show o vocalista desceu do palco, se infiltrou na roda de wreck e acabou sendo levantado e carregado pelo público.


The Meantraitors

“Nós acabamos de chegar em São Petesburgo e já estamos sentindo tanta falta do Brasil!”, diz o guitarrista e vocalista da banda russa The Meantraitors, Stas Bogorad. “A única coisa a fazer é voltar em breve. Queremos agradecer ao Vlad Urban por ter nos dado essa oportunidade de ouro de participarmos do Psycho Carnival, pela sua ajuda e preocupação conosco”, complementa. O sentimento demonstrado de forma extremamente sincera por Stas, se justifica. Afinal, após cruzar o mundo para tocar pela primeira vez no Brasil, o trio infelizmente não pôde contar com a sua força máxima.

O problema aconteceu em Madrid, no embarque do baterista Dima Gainutdinov para o Brasil. Lá, o músico descobriu que seu passaporte tinha validade de quatro meses e a legislação brasileira exige que ela seja de seis meses. O imprevisto acabou pegando toda a banda de surpresa. “Isso foi um pesadelo repentino para todos nós, que costumamos viajar muito e até mesmo para a Europa Ocidental, onde não precisamos de um visto. Lá, a lei diz que os passaportes precisam ter três meses de validade. Mas o Brasil não pede visto para os russos, por isso foi terrível descobrirmos um dia antes do festival que o nosso baterista não poderia vir com a gente”, explica Stas.

Diante desse grande problema que ameaçava cancelar um dos grandes momentos na história do The Meantraitors, a banda ainda fez uma última tentativa para tentar resolver a situação. “Deixamos o Dima em Madrid com todo o dinheiro que tínhamos, na esperança de que ele pudesse renovar o seu passaporte no consulado russo. No entanto, isso não foi possível durante o final de semana. Além disso, eles precisariam de vários dias para emitir um novo passaporte”, complementa.

Como a situação de Dima era irreversível naquele momento, a solução foi contar com um velho conhecido da cena Psycho brasileira. “Nós só poderíamos esperar por algum milagre, e ele aconteceu: no aeroporto de São Paulo, na manhã do dia 7 de fevereiro, um dia antes do nosso show como atração principal no Psycho Carnival, o Vlad nos disse que tinha um baterista para tocar conosco. Ele pediu um set de músicas que poderíamos tocar e passou para o Cox (o cara que nos salvou). Chegamos no Jokers às 19h para termos várias horas para praticar. Nós ensaiamos algumas músicas e o Cox era muito bom”, conta Stas. O multi-instrumentista curitibano Mutant Cox (Sick Sick Sinners, 99 Noizagain e Hillbilly Rawhide) é um dos músicos mais talentos da cena Psychobilly mundial. Stas Bogorad e o baixista Alexey Serykh não poderiam ter feito uma escolha melhor.

A banda fez um show curto no encerramento da terceira noite do Psycho Carnival, pois não houve tempo para ensaiarem muitas músicas. Mesmo assim o trio foi bastante aplaudido porque o público entendeu a situação. “Tocamos por volta de doze músicas. Todas as pessoas já sabiam do ocorrido e nos apoiaram de todas as maneiras possíveis. Eu amei os fãs! A cena brasileira me parece muito saudável e promissora. As pessoas sabem muito sobre música, sobre a história da banda, e nos respeitam muito”, agradece Stas. “Eu disse a eles quando estava no palco que não poderíamos tocar as novas músicas porque o Cox não as conhecia, mas isso não foi um problema, pois apenas tocamos as que ele sabia. Essa situação foi bastante difícil pra mim, mas ao mesmo tempo foi muito legal ver que vencemos esse obstáculo e que todos os fãs estavam muito felizes”, complementa.

Os elogios de Stas se estendem à produção do festival e à estrutura que lhes foi oferecida em Curitiba. “Eu adorei o Jokers Pub. O som estava fantástico, o público foi incrível e tudo foi muito legal. Curitiba é uma cidade amistosa e com uma cena underground que nos fez sentir em casa. Estamos ansiosos para voltar assim que possível. Nós também conversamos com o Vlad a respeito de uma turnê brasileira num futuro próximo”, conta.

Em suas quase três décadas de estrada, o The Meantraitors certamente enfrentou algumas situações complicadas. Mas Curitiba e sua cena Psychobilly certamente ficarão marcadas na memória desses simpáticos russos. “Mais uma vez, Vlad Urban, muito obrigado! Agradecemos também ao Cox, ao Andrey e a todos os psychobillies que conhecemos no Brasil!”, finaliza Stas.