O vocalista e tecladista Sérgio Britto fala sobre o show que a banda faz nesta sexta-feira (24), no Teatro Guaíra, como parte da turnê de comemoração dos 25 anos do álbum “Titãs MTV Acústico”
O projeto “Acústico MTV” rendeu vários álbuns importantes que consolidaram ou, por vezes, até revitalizaram a trajetória de algumas bandas brasileiras.
Inspirados no programa original da emissora estadunidense, o “Unplugged”, os organizadores da versão da MTV Brasil tiveram a competência de produzir CDs/VHS muito marcantes, entre eles, as gravações do Barão Vermelho, de Gilberto Gil e do Capital Inicial.
Nessa lista, um dos mais importantes e originais foi o acústico dos Titãs, lançado em 1997, e que se tornou um dos maiores sucesssos desse projeto. Hoje, mais de duas décadas depois, a banda resolveu prestar um tributo a esse álbum que marcou a história do grupo.
Como parte dessas homenagens, a banda paulista se apresenta nesta sexta-feira (24) no Teatro Guaíra, em Curitiba, com a nova turnê “Titãs Trio Acústico”.
Com realização da Prime, o show celebra os 25 anos de lançamento do álbum que, nesse período, recebeu a certificação de disco de ouro, platina e diamante. Os ingressos ainda estão à venda no site Disk Ingressos com valores a partir de R$ 60,00 + taxas.
A continuação do legado dos Titãs
Desde 2016, com a saída do vocalista Paulo Miklos, os Titãs se tornaram um trio formado por Sérgio Britto (vocal e teclado), Branco Mello (vocal) e Tony Bellotto (guitarra).
Com esse núcleo, que faz parte da formação do grupo desde o início, eles já lançaram a Ópera Rock “Doze Flores Amarelas” (2018) e o álbum “Titãs Trio Acústico” (2021).
O que impressiona os fãs e jornalistas, justamente por não ser uma realidade tão comum no mundo da música, é que as inúmeras mudanças nos Titãs, uma banda que chegou a ter oito integrantes na formação clássica, não comprometeram a qualidade da banda.
Um dos motivos dessa longevidade é a forte relação de amizade entre os três remanescentes, que pode ser vista claramente no palco. “Nós temos muita cumplicidade, pois são muitos anos de convívio”, conta Sérgio Britto.
O nascimento de um clássico
A gravação do álbum “Titãs Acústico MTV” aconteceu nos dias 6 e 7 de março de 1997 no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro.
Na época, a formação da banda contava com Branco Mello (vocal), Paulo Miklos (vocal), Tony Bellotto (guitarra), Sérgio Britto (teclado e vocal), Nando Reis (baixo e vocal), Charles Gavin (bateria), e o falecido Marcelo Fromer (guitarra).
A construção desse projeto ambicioso passou basicamente por duas etapas e começou com os ensaios no apartamento do então baterista da banda, Charles Gavin.
O trabalho começou com a escolha das canções que fariam parte do projeto, o que não foi uma tarefa fácil. Afinal, naquele momento, a banda estava com 15 anos de vida e já contava com nove álbuns de estúdio.
Mesmo assim, o grupo conseguiu definir as 22 canções que fariam parte do CD, das quais sete tiveram participações de convidados. Aí já começaram as adaptações porque cada uma delas ganhou um arranjo diferente, em uma época na qual esse formato desplugado não era tão comum.
Nesse primeiro momento, o grupo também já contou com a participação do músico e produtor Liminha, que ajudou a transformar as canções que foram escolhidas pela banda no formato acústico exigido pelo projeto.
O passo seguinte foi realizar os ensaios no estúdio Nas Nuvens, no Rio de Janeiro, ao lado da orquestra que participaria do show e dos convidados.
Nesse momento de transformação das músicas, a banda contou com a batuta do genial compositor, maestro, músico, produtor e arranjador Jaques Morelenbaum, que trabalhou nos arranjos das canções.
Todo esse cuidado com os detalhes fez com que, nos dois dias de gravação, a banda estivesse muito preparada, mesmo encarando um projeto tão diferente do que eles estavam acostumados. “Nós tivemos uma infraestrutura perfeita para fazer o álbum. Quando nós fomos gravar, já estávamos seguros porque o projeto foi bem desenhado”, conta.
No final, o resultado provou que o repertório dos Titãs já era repleto de composições dignas de serem reconstruídas. “Eu acho que as nossas canções propiciam isso, pois são músicas bem-feitas, com letras interessantes e relevantes, e tudo isso foi favorável”, relembra Sérgio.
Convidados escolhidos a dedo
Nos dois dias de gravação, a banda de apoio que fez parte do show ainda teve a participação do multi-instrumentista Liminha (que também produziu o projeto), do percussionista Marcos Suzano e de uma orquestra composta de 12 músicos.
A lista de convidados também foi grande e se tornou um dos fatores que deixou o acústico ainda mais especial. Entre eles, estavam o músico, cantor e compositor argentino Fito Paez, em “Go back”, a cantora Marisa Monte, que interpretou “Flores”, e o reggae man jamaicano Jimmy Cliff, em “Querem meu sangue”.
Porém, para os fãs, a presença principal certamente foi a do vocalista Arnaldo Antunes, que tinha saído do grupo em 1992 para seguir carreira solo. Ele interpretou a canção “O pulso”, do álbum “Õ Blésq Blom” (1989), um dos mais criativos da história dos Titãs.
Uma experiência única
O processo de criação e gravação do álbum “Titãs Acústico MTV” foi uma experiência nova para todos os integrantes do grupo, afinal, eles eram essencialmente uma banda elétrica e pesada.
Justamente por isso, quando terminaram o segundo show que foi gravado para fazer parte do álbum e do VHS, eles perceberam que tinham acabado de fazer história. “Foi um momento de encontro com amigos, com pessoas queridas, e com o público. Eu lembro que, quando terminanos a gravação, nós já sentimos uma vibração especial em relação àquele espetáculo. A gente sabia que tinha feito algo diferente”, afirma.
Depois do lançamento, que aconteceu em maio de 1997, o sucesso foi imediato e fez com que os shows da turnê de divulgação do álbum percorressem o Brasil de Norte a Sul.
Nessas apresentações, os Titãs tocaram em locais cada vez mais espaçosos, justamente para acomodar o público que estava ávido por ver o grupo ao vivo. “Os primeiros shows no sul do Brasil foram surpreendentes porque nós passamos a tocar em ginásios para 15 ou 20 mil pessoas, e os ingressos se esgotaram quase que imediatamente”, conta.
Nesse período, algumas das apresentações mais marcantes para a banda foram realizadas no nordeste do país ao lado da cantora, instrumentista e compositora Rita Lee que, em 1998, também lançou um álbum da série “Acústico MTV”.
Titãs em movimento
Apesar das quatro décadas de sucesso, os Titãs não param de produzir. Atualmente, a banda está gravando um álbum de inéditas, produzido por Rick Bonadio e Sérgio Fouad.
As gravações estão acontecendo no estúdio Midas Music, em São Paulo, nas datas que banda têm disponíveis antes dos shows que o trio tem feito em todo o Brasil. “Está sendo muito prazeroso, com um clima de descontração e cooperação, porque nós reunimos um time muito bacana pra fazer esse disco. É um álbum que tem muitas músicas mais pesadas do que as que nós estávamos lançando ultimamente, mas também algumas acústicas. O grosso dele é um disco mais elétrico e nervoso”, conta.
Obviamente, na composição das músicas que farão parte do CD, a amizade que o trio mantém há mais de 40 anos se refletiu diretamente nesse processo que, via de regra, abre espaço para todos e surge de duas maneiras: a individual e as parcerias.
Dessa maneira, quando estão trabalhando em um novo álbum, os três integrantes definem na base da conversa quais são as canções que se mostram mais adequadas para o projeto. “Tudo que a gente acaba gravando tem que ser um pouco consensual, aceito por todos. Nada é imposto e isso é uma marca dos Titãs desde o período no qual nós éramos em oito e ela ainda prevalece”, explica.
O nome e a data de lançamento do novo álbum ainda não foram revelados. O que fica claro é que a banda está feliz por estar valorizando o legado que foi construído ao longo dos anos e, ao mesmo tempo, ainda continuar produzindo material novo. “É a nossa maneira de comemorar esses 40 anos de estrada fazendo algo inédito. É o que nos mantém vivos. Fazer músicas novas é uma coisa que estreita as nossas relações”, complementa.
Estar prestes a acrescentar mais um capítulo na história dos Titãs é importante para o trio, sobretudo porque mostra que banda mostra que não parou no tempo. “O fato de estarmos na ativa, compondo e gravando um novo álbum, dá essa sensação de plenitude. Não no sentido de que você já fez tudo o que tinha pra fazer, mas de que a gente sempre tem a possibilidade de fazer coisas novas. Isso é o que mais nos estimula e dá prazer”, diz.
Contestadores
O trabalho dos Titãs sempre foi marcado pela contestação social. Por isso, muitas músicas da banda fazem sentido até hoje, pois parecem se encaixar eternamente no contexto do Brasil.
Essa longevidade das letras mostra o quanto as músicas são relevantes, mas também escancara a dura realidade de que o país é um ciclo contínuo de problemas que não são solucionados.
Entre essas obras-primas, está “Desordem”, do álbum “Jesus Não Tem Dentes No País Dos Banguelas” (1987). Outro clássico absoluto dos Titãs é “Polícia”, do disco “Cabeça Dinossauro” (1986).
Esses dois trabalhos estão na lista dos melhores do Rock nacional e trazem músicas que tratam de temas sensíveis até hoje na sociedade brasileira. Entre elas, estão “Igreja”, “Estado violência”, “Dívidas”, “Porrada” e “Bichos escrotos”.
Essa postura corajosa que procura questionar o establishment é uma característica que acompanha o trabalho de várias bandas dos anos 1980, pois elas não tinham medo de colocar o dedo nas feridas que o país tinha (e ainda tem). “Essas são questões que sempre vão permanecer, como o fato de questionar o poder instituído, por exemplo. O abuso do poder e a violência policial, assim como outros assuntos dos quais a gente já tratou, são questões que permanecem e não são exclusividade nossa”, diz.
Uma das músicas mais marcantes da carreira dos Titãs é justamente “Polícia”, que ganhou inclusive uma versão pesadíssima do Sepultura que é tocada até hoje nos shows da banda. “A maneira como a polícia funciona não só no Brasil, mas no mundo, é uma coisa que sempre será passível de questi
onamento. Isso não quer dizer que a corporação não tenha sentido. A gente sempre tratou desses assuntos com isenção e de uma maneira que faz com que elas permaneçam”, analisa.
40 anos de realizações e também de tristezas
O ano de 2022 também marca um momento triste na história dos Titãs, pois faz 21 anos que o guitarrista Marcelo Fromer faleceu de maneira traumática, atropelado por uma moto em São Paulo.
Durante os 19 anos nos quais esteve ao lado dos companheiros, Fromer foi fundamental para a formatação estética dos Titãs e para as composições da banda. Desde o início, todos os integrantes da banda contribuíram para criar uma linguagem, algo que fizesse parte do vocabulário dos Titãs.
Durante quase duas décadas, e de maneira bem intensa, Marcelo Fromer foi um dos protagonistas dessa caminhada. “O Marcelo participou de tudo isso. Além disso, ele tinha a função de estabelecer conexões entre a banda e outras pessoas do meio artístico e empresarial. O Fromer era um cara muito focado nisso e a maneira dele ser contribuiu muito para o êxito da banda”, afirma.
“Doze Flores Amarelas”
Um caso raro de “projeto engavetado” na trajetória vitoriosa dos Titãs é a Ópera Rock “Doze Flores Amarelas”, que estreou com dois ensaios abertos no Festival de Curitiba, em 2018. Leia a nossa cobertura neste link.
Esse contratempo aconteceu não por vontade da banda, mas por causa dos altos custos envolvidos.
Por isso, surpreendentemente, o grupo só conseguiu fazer alguns shows desse projeto nas cidades de Curitiba e São Paulo.
O motivo é simples: eles não tinham como financiar a turnê porque as apresentações envolviam outros músicos, um aparato cenográfico grande e um enorme telão de LED. “Ela se tornou praticamente inviável. Como nós vivemos um período de aperto financeiro e falta de incentivo para a área cultural, é praticamente inviável”, revela.
Porém, mesmo com a frustração inicial, o grupo ainda pensa em arrumar uma maneira de apresentar a Ópera Rock em uma turnê pelo Brasil. “Eu acho que a história que a gente conta é atual e tenho certeza de que permanecerá atual ainda por alguns anos”, complementa.
Motivos para comemorar
Apesar de todas as novidades que cercam os Titãs atualmente, a mais comemorada pela banda e pelos fãs é que o show em Curitiba marcará a volta aos palcos do baixista e vocalista Branco Mello.
Por isso, a apresentação deve ser carregada de emoção, pois o músico está retornando à turnê após ter realizado uma cirurgia para a retirada de um tumor na hipofaringe no final do ano passado. “Ele vai tocar baixo e, talvez, cantar uma ou duas canções porque nesse quesito ele ainda está em processo de recuperação. A partir desse show, ele vai participar de todos os que nós fizermos. Pra gente, é uma alegria enorme e mais um motivo para o público comparecer ao show!”, diz.
A volta da banda aos palcos após dois anos de incertezas, angústias e perdas por causa da pandemia também é uma espécie de retomada para os Titãs.
Afinal, na realidade atual da indústria fonográfica, o sustento das bandas vem praticamente dos shows.
Assim, de maneira cruel (mas necessária), o cancelamento dos eventos desde o início de 2020, por causa da insegurança sanitária, tirou o sustento de inúmeros profissionais em todo o país. “A gente ganha pouquíssimo com streaming e não se vende mais CDs. Isso causou uma dificuldade enorme para a classe como um todo, para todo mundo que é envolvido com o show business. Foi um momento especialmente difícil, e eu acho que é por isso que essa retomada tem sido muito prazerosa para nós”, analisa.
Uma vida dedicada à música
Em 2022, os Titãs estão completando simplesmente 40 anos de trajetória e, nesse período, Sérgio Britto viveu intensamente cada segundo.
Porém, como diz o ditado, “nem tudo foram flores”. Afinal, a banda foi obrigada a enfrentar mudanças na formação e passar por todos os modismos musicais momentâneos que surgiram na indústria fonográfica nessas quatros décadas.
Essa sobrevivência em meio a tantos obstáculos que surgiram pelo caminho, fato raro no mundo da música, é motivo de orgulho para os Titãs. “Nós temos discos muito bons, com momentos de alta e de baixa. Isso é a nossa paixão de adolescente, pela música, pela canção, e eu acho que nós realizamos e continuamos a realizar isso plenamente”, diz.
Acima de tudo, a certeza de que a trajetória foi muito bem aproveitada vem justamente nas turnês e no contato direto com os fãs durante os shows. “Nós constatamos que existe um elo forte com o público, com as pessoas que se identificam com a nossa música e carregam isso na vida. Pra gente, não existe recompensa maior e nem melhor”, afirma.
Os Titãs se apresentam nesta sexta-feira (24) no Teatro Guaíra, local que a banda conhece muito bem e que já proporcionou grandes momentos ao grupo.
Basicamente, os fãs curitibanos que forem ao show poderão fazer parte de uma grande celebração dos 25 anos do “Titãs Acústico MTV” e dos 40 anos de vida do grupo.
Ou seja, não faltam motivos para conferir a nova turnê dos Titãs. “A nossa relação com Curitiba realmente é muito especial! Nós já chegamos a fazer dois shows por noite na época do ‘Acústico MTV’. Temos uma relação muito próxima e eu acho que a recíproca é verdadeira porque temos um público bacana, grande e fiel”, finaliza Sérgio Britto.
Os ingressos para o show estão à venda no site Disk Ingressos e custam a partir de R$ 60,00 (meia-entrada) + taxa adm. Os bilhetes também podem ser adquiridos no quiosque da empresa, que fica localizado no Ventura Shopping (de segunda a sexta, das 11h às 22h, aos sábados, das 10h às 22h, e aos domingos, das 14h às 20h), e no Call center (41) 3315-0808 (de segunda a sexta, das 9h às 22h, e aos domingos, das 9h às 18h).
O pagamento pode ser efetuado em dinheiro e com cartões de crédito/débito Visa e Mastercard.
A meia-entrada é válida para estudantes, maiores de 60 anos, professores, doadores de sangue, portadores de necessidades especiais (PNE) e de câncer. Clientes Clube Prime e Clube Disk Ingressos possuem 50% de desconto na compra de até dois ingressos por titular. As promoções não são cumulativas e possuem os descontos previstos por lei.
Na compra do ingresso e na entrada do teatro, é obrigatória a apresentação de documento previsto em lei que comprove a condição do beneficiário.
A casa abre às 20h e o show começa às 21h15. A classificação etária é livre. O Teatro Guaíra fica na Rua Amintas de Barros, s/n, no Centro.
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