Texto: Marcos Anubis
Fotos e revisão: Pri Oliveira

Relespública

Certas coisas são necessárias e tradicionais para a vida de um curitibano. Sair com uma blusa de casa, para não passar frio mesmo que esteja fazendo 39 graus de temperatura, passear pela Rua XV, conhecer o complexo da Pedreira Paulo Leminski e gostar de capivaras são algumas delas. Ver um show da Relespública está entre essas necessidades que permeiam o dia a dia de um morador de Curitiba.

Pois eis que no último dia 14, a capital das araucárias teve mais uma oportunidade de cumprir um desses rituais. O show da Relespública no estacionamento da Câmara Municipal, dentro do Curitiba Rock Carnival, foi um daqueles momentos em que a música se sobrepõe à cor, credo, classe social ou interesse musical. Do fã que acompanha as quase três décadas de estrada da banda, até o morador de rua que porventura tenha entrado no local para ver o porquê daquela movimentação, todos se divertiram ao som do trio. Rock’n’roll, no mais puro significado da palavra.

Se você nunca presenciou a energia que a banda impõe ao vivo, você está por fora, piá. Após 25 anos de estrada, Fabio Elias (guitarra e vocal), Emanuel Moon (bateria) e Ricardo Bastos (baixo) continuam com a mesma gana quando sobem ao palco. No setlist, além de seus clássicos como “Garoa E Solidão”, e músicas novas como “Faça O Que Quiser”, o grupo também fez uma homenagem à sua principal influência, o The Who, contando com a participação especial do músico e produtor Renato Ximú. O quarteto tocou algumas pérolas do repertório do trio inglês, como “Baba O ‘Riley”, “Substitute” e “I Can’t Explain”, contando com a voz poderosa de Ximú, apresentado por Fabio Elias como o “Roger Daltrey das araucárias”, em uma referência ao frontman da banda inglesa.

O momento mais emocionante da apresentação foi quando a Reles tocou “Minha Menina”, dos Mutantes, e emendou “Oração De Um Suicida”, do Blindagem. Fabio Elias pediu a participação do público e foi atendido. As quase 4 mil pessoas cantaram a letra da canção a capella. “Quando a Terra se acabar, você vai chorar, não adianta mais. Vendo esta terra não compensa, rezando na presença de um gigante cogumelo. Teu retrato é poeira, luminosa, nebulosa brilha tanto e ninguém vê. Era um mundo tão bonito, caprichado de milagres. Deus gostava de florir”, diz o texto. Não é todo dia que é possível ver e ouvir o público local cantando um dos maiores clássicos da história da música paranaense, a plenos pulmões.

O Rock Carnival é uma iniciativa sensacional e que deveria ser realizada mais vezes durante o ano. Com pouco investimento é possível levar cultura à população e começar a construir um cenário diferente para a música local. A química é simples: se o público passar a conhecer e valorizar os artistas de sua cidade, os shows dessas bandas receberão mais público e, assim, elas terão condições para gravar e mostrar os seus trabalhos de forma mais incisiva. Todo mundo ganha: a cidade passa a ter mais atrativos culturais, o público passa a ter mais informação e o poder público faz a sua parte, difundindo e apoiando os filhos de sua terra. É pedir demais?

Antes do show, no camarim, a Relespública concedeu uma entrevista exclusiva para o Cwb Live falando sobre a oportunidade de tocar para um público que provavelmente nunca tinha visto a banda antes, sobre o aguardado lançamento da biografia do trio, que está sendo escrita pelo jornalista Sandro Moser, e sobre a cena musical de Curitiba e suas dificuldades. Confira no vídeo abaixo.


Relespública - Rock Carnival 2015