Texto: Marcos Anubis
Fotos e revisão: Pri Oliveira
O público curitibano pôde ver de perto alguns dos nomes mais importantes do Hard Rock/Heavy Metal das últimas décadas
A gélida noite dessa quarta-feira (12), em Curitiba, reuniu alguns monstros sagrados do Hard Rock na Ópera de Arame: o guitarrista, cantor e compositor americano Richie Kotzen e a banda The Dead Daisies.
Mas os dois se apresentaram em situações bem distintas. Afinal, se Kotzen já tem um público fiel que acompanha seus shows na capital paranaense, o TDD ainda não é um grupo tão conhecido.
Certamente, isso mudou após o show, pois com uma performance impressionante, o quinteto conquistou muitos fãs que não conheciam o trabalho da banda.
As Margaridas Mortas
O primeiro a pisar no palco foi o The Dead Daisies para apresentar a “Live & Louder World Tour 2017”. Apesar de ser um termo perigoso de ser usado, neste caso, o rótulo de “supergrupo” é justificável.
Afinal, a formação da banda conta com nada menos do que John Corabi (Mötley Crüe, The Scream) no vocal, Doug Aldrich (Whitesnake, Dio) e David Lowy (Red Phoenix, Mink) nas guitarras, Marco Mendoza (Thin Lizzy, Whitesnake) no baixo e Brian Tichy (Ozzy Osbourne, Foreigner) na bateria.
O quinteto abriu o show com “Long way to go” seguida por “Mexico”. Logo de cara, o show entusiasmou o público. O motivo é simples: as músicas do The Dead Daisies têm uma pegada que mescla Hard Rock com pitadas de Metal de uma forma bem equilibrada.
O setlist incluiu versões para cinco canções, entre elas, “Helter skelter” dos Beatles e “Highway star” do Deep Purple.
A discografia do grupo, formado por David Lowy em 2012, tem cinco trabalhos lançados: “The Dead Daisies” (2013), “Revolucion” (2015), “Make Some Noise” (2016) e o ao vivo “Live & Louder” (2017), além do EP “Face I Love” (2014).
Um dos últimos guitar heroes
Todos os integrantes do The Dead Daisies são músicos experientes e talentosos, mas dois deles se destacam.
O primeiro é John Corabi, que teve uma performance sensacional. Mesmo próximo de completar 60 anos de idade, sua voz ainda mantém o alcance e o drive que sempre a caracterizaram.
Um exemplo disso foi quando ele regeu o público durante a potente “Join together”, do The Who.
Mas a figura que mais chama a atenção na banda é o guitarrista Doug Aldrich e sua tradicional Gibson dourada. Dono de uma técnica apurada, Doug rouba a cena nos solos e riffs pesadíssimos.
Ao mesmo tempo, era impossível não lembrar que Aldrich foi o último guitarrista a integrar a banda do cantor Ronnie James Dio. Com o vocalista, que morreu em 2010, Doug gravou o álbum “Killing the Dragon” (2002) e os CDs/DVDs “Evil or Divine” (lançados respectivamente em 2005 e 2003) e “Holy Diver Live” (2006), cuja turnê passou por Curitiba com um show no Master Hall no mesmo ano.
“Midnight moses”, versão para a canção da The Sensational Alex Harvey Band, encerrou a apresentação. Após o show, a banda veio até um stand montado nas laterais da Ópera e atendeu os fãs, distribuindo autógrafos.
Richie Kotzen
Após uma rápida mudança no palco, foi a vez do guitarrista americano Richie Kotzen desfilar todo o seu feeling e virtuosismo na Ópera de Arame.
Richie se tornou conhecido nos anos 1980 quando integrou o Mr. Big e o Poison. Atualmente, ele também faz parte de outro supergrupo, o The Winery Dogs, ao lado de Billy Sheehan (baixo) e Mike Portnoy (bateria). A banda, inclusive, se apresentou em Curitiba no ano passado, também na Ópera de Arame.
Porém, foi em sua carreira solo que as reais qualidades de Richie puderam ser exploradas de forma mais forte, essencialmente nos últimos anos.
No álbum “Salting Earth”, lançado em 2016 e, principalmente, no excelente “Cannibals” (2015), Kotzen parece ter encontrado a maneira perfeita de mostrar a sua arte.
“End of earth” abriu o show. Acompanhado por Dylan Wilson (baixo) e Mike Bennet (bateria), Kotzen mostra um domínio absurdo dos seus dois “instrumentos de trabalho”: a guitarra e a voz.
Apesar de basear a sua música na veia pulsante do Hard Rock, Richie não tem medo de navegar por outros estilos. “This is life”, por exemplo, parece ter saído dos estúdios da Motown nos anos 1960. Por cima de uma levada Soul, Richie esbanja alcance vocal e, realmente, canta com a alma.
Depois de “Cannon ball”, o trio tocou duas músicas em formado desplugado: “I would” e “High”, com Richie no violão e voz, Mike no cajon e Dylan no baixo acústico.
Na sequência, depois de Mike demonstrar a sua técnica em um solo de cajon e bateria, veio um dos pontos altos da noite. “Fire” teve uma execução primorosa, com direito a um solo de guitarra longo e inspiradíssimo.
Em vários momentos do show, Richie deixou a guitarra para tocar um piano elétrico. Mas os solos continuaram ali, agora sendo executados nas teclas do instrumento com um drive impressionante. “You Can’t save me” encerrou o show.
O fato negativo da noite foi a presença do público que ocupou pouco mais de 1/3 da Ópera. Isso contraria, na prática, a pesquisa que foi divulgada nessa terça-feira (11) afirmando que, entre os usuários da plataforma digital Deezer, são os curitibanos os que mais escutam Rock no Brasil.
É possível usar o argumento de que o clima estava frio, mas quantas oportunidades os fãs de Curitiba ainda terão para ver tantas feras reunidas em um só palco?
Realmente o show do The Dead Daisies foi bom. Agora quanto ao astro da noite… Minha opinião é o retrato puro da decepção! Show frio! Distante! Aliado a isto a péssima qualidade sonora, revelando completo descaso com os ouvidos do público. Mudei de lugar algumas vezes e a baixa qualidade foi a mesma! Sinceramente rasguei o meu dinheiro. Não aguentei as músicas de elevador e caí fora antes do fim do show! Este Richie Kotzen não é o mesmo da minha época de adolescente, quando era realmente um herói da guitarra! Prefiro acreditar que estava em um péssimo dia, até mesmo porque não teve qualquer interação com o público. Concluindo: não concordo com esta reportagem! Não há dúvida quanto a sua tonelada de técnica, mas não vi feeling e nem um solo realmente empolgado. Na Curitiba fria, foi um balde de água gelada.