Texto: Marcos Anubis
Revisão: Priscila Oliveira
Pesquisa de imagens e multimídia: Jana Santos
Fotos: Reprodução/Sebastião Marinho/Arquivo Globo, Reprodução/CpDoc JB, Reprodução/Site UOL

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Para realizar a primeira edição do Rock In Rio, entre os dias 11 e 20 de janeiro de 1985, era preciso erguer uma estrutura sem precedentes na história do showbiz brasileiro. A primeira providência foi escolher o local no qual tudo seria construído. A solução encontrada foi criar a Cidade do Rock em um terreno na Ilha Pura, localizado em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, que foi cedido pela Construtora Carvalho Hosken.

O investimento inicial foi de 4,5 milhões de dólares. As obras na área, que tinha 250 mil metros quadrados, começaram em agosto de 1984. Para nivelar o terreno, que precisava ser erguido em 1,5 metro, foram usados 13 mil metros cúbicos de aterro, transportados em 71 mil caminhões. Foi construída uma subadutora, que tinha um quilômetro de extensão, para levar água até a Cidade do Rock. Também foi criada uma lagoa de estabilização com aguapés para receber a água dos banheiros.

Porém, no início de setembro, as obras pareciam não progredir. Mais uma vez Medina se mostrou disposto a cancelar o Rock In Rio, acreditando que não haveria tempo suficiente para terminar a Cidade do Rock. Quando se encaminhava para uma reunião na Artplan, que deveria encerrar o projeto, o empresário foi abordado por três rapazes em um Passat branco que o reconheceram e agradeceram efusivamente pela oportunidade de ver grandes bandas do cenário internacional.

O fato foi tão marcante que fez Medina mudar de ideia. No dia seguinte, o número de operários foi triplicado. O terreno foi cercado por um muro de três metros de altura e dois quilômetros de extensão e 400 banheiros foram instalados. Para dar um ar “tropical”, 450 coqueiros e 85 palmeiras foram plantados. A estrutura em volta do local também foi alterada e, entre outros serviços, surgiram alguns campings. O maior deles era chamado de Caracol e tinha 210 mil metros quadrados, espaço suficiente para a instalação de 3.000 barracas.

A Cidade do Rock acabou sendo concluída apenas dois meses após o emocionante encontro de Medina com os adolescentes, fato que deu novo ânimo ao empresário e fez com que, finalmente, a estrutura do Rock in Rio saísse do papel.

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O mapa da Cidade do Rock

Dificuldades políticas

No dia 21 de setembro, a obra foi embargada pela Secretaria Municipal de Obras do Rio de Janeiro, sob a alegação de que existiam construções irregulares, litígios de terras, e de que não havia licença para a realização do festival naquela área de Jacarepaguá. Na verdade, essa era uma briga política com o governador do Rio, Leonel Brizola, pois a Artplan tinha feito a campanha publicitária de Moreira Franco, o oponente de Brizola nas eleições.

Medina acabou recorrendo a Tancredo Neves, que seria eleito o presidente do Brasil, e ele intercedeu a favor da realização do evento. Ficou acordado que o festival aconteceria, mas que a Cidade do Rock precisaria estar desmontada no prazo máximo de um mês após o término do festival. Além disso, toda a estrutura deveria ser doada a comunidades carentes.

O palco das estrelas

Outra tarefa hercúlea foi a construção do palco no qual pisariam as grandes estrelas do festival. Idealizado pelos coreógrafos Kaká e Mario Monteiro, ele media 5,6 mil metros quadrados, sendo oitenta metros de boca e vinte de altura. Doze estacas foram cravadas a 15 metros abaixo do nível do solo, permitindo que a estrutura suportasse dez toneladas de peso. Mil chapas de compensados de madeira foram usados no piso do palco, que ficava a três metros do público e a uma altura de 3,3 metros.

Foram construídos três palcos giratórios em cima da estrutura principal. Isso permitia que, enquanto um artista se apresentasse, o equipamento da banda que viria a seguir já estivesse pronto quando o show acabasse.

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Ney Matogrosso inaugurando o palco da Cidade do Rock

Luz e som

O responsável pela iluminação do festival foi o lighting designer Peter Gasper, que teve uma sacada inteligente para ajudar a diminuir os custos do festival. O iluminador viajou à Alemanha para uma reunião com a equipe do Queen, que se apresentaria no Rock in Rio nos dias 11 e 18 de janeiro. Como o equipamento ficaria no Brasil durante mais de uma semana, Gasper acertou que a iluminação seria usada em todos os dias do evento, com a Artplan pagando o aluguel restante.

O movimento hidráulico das luzes, porém, só seria usado no show da banda inglesa. Só a iluminação que seria direcionada para o público tinha 2 milhões de watts, suficiente para iluminar uma cidade com 60 mil habitantes. A estrutura ficou pronta no dia 23 de dezembro de 1984.

O equipamento de som foi alugado da Clair Brothers, sediada nos Estados Unidos, já que nenhuma empresa brasileira tinha a qualidade e a quantidade necessárias para atender um festival desse porte. O sistema reunia 250 caixas de som, sendo 120 nas laterais do palco e 130 nas torres de luz, para que toda a Cidade do Rock recebesse o mesmo nível de decibéis. Elas eram comandadas por quatro mesas de som de 32 canais cada.

Toda a parafernália tinha 70 mil watts de potência e pesava 100 toneladas. Por causa da maresia, que podia danificar os equipamentos, a estrutura só foi armada entre os dias 3 e 8 de janeiro. Perto do palco, em uma área de 5 mil metros quadrados, foram montados doze camarins, duas coxias para o equipamento de som, uma grande sala de estar para convidados e um restaurante com capacidade para 120 pessoas que funcionava 24 horas por dia.

A obra civil da Cidade do Rock foi inaugurada no dia 5 de dezembro de 1984 com uma festa para 1,5 mil operários que trabalharam na construção. Eles puderam usufruir de toda a pompa que o momento exigia. Duas beer gardens foram montadas, abastecidas por dois caminhões tanque totalizando 50 mil litros de cerveja. Em quatro horas de festa, 5 mil foram consumidos, além de 10 mil salgadinhos e 3,8 mil litros de refrigerante.

Festa e advertências

No dia 9 de janeiro, Roberto Medina convidou todos os artistas que se apresentariam no Rock In Rio para uma festa na casa dele, localizada em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca. Estiveram presentes Erasmo Carlos, Rita Lee, Whitesnake, Queen, Iron Maiden, George Benson, Al Jarreau, Rod Stewart, Baby Consuelo, Pepeu Gomes, Elba Ramalho, Moraes Moreira, Alceu Valença, Nina Hagen, Ivan Lins, Barão Vermelho, Lulu Santos e James Taylor.

Em dado momento da confraternização, Medina pediu a atenção de todos e fez algumas considerações. A principal delas era que, como todos os artistas já haviam recebido 50% dos cachês de cada um deles e a outra metade seria paga após os shows, não seriam tolerados atrasos nas apresentações. O recado dava a entender que os horários deveriam ser respeitados, caso contrário o pagamento viria com “descontos”. Porém, não seria bem assim…

Confira como era o comércio informal fora do evento, qual era a expectativa nos dias que antecederam ao Rock In Rio e como foi a abertura dos portões da Cidade do Rock.