Texto: Marcos Anubis
Tradução e revisão: Pri Oliveira
Fotos: Reprodução/Facebook Saxon

O baixista Nibbs Carter fala com exclusividade ao Cwb Live sobre o novo álbum da banda, os alicerces da N.W.O.B.H.M. e o show em Curitiba realizado em 2011



Manter-se fiel ao seu estilo não é algo comum. As influências do mercado musical, as modas que vêm e vão e a pressão das gravadoras muitas vezes obrigam as bandas a se “adequarem” ao jogo. Na contramão dessa realidade, os britânicos do Saxon estão completando 40 anos de estrada sem se desviar da sua linha de trabalho.

Fidelidade

O grupo foi um dos primeiros a se destacar dentro da N.W.O.B.H.M. (New Wave of British Heavy Metal), estilo que surgiu no final da década de 1970. A característica principal do gênero que nasceu em meio ao Punk e ao chamado Rock Arena, que tinha gigantes como Queen e Led Zeppelin, era um som direto, enérgico e bem tocado. Uma espécie de meio-termo entre a grandiloquência de um e a crueza do outro. A junção desses elementos fez com que a N.W.O.B.H.M. rapidamente se tornasse um celeiro de grandes bandas, como o Iron Maiden e o Def Leppard.

Ao longo de sua trajetória, o quinteto formado por Biff Byford (vocal), Nibbs Carter (baixo), Nigel Glockler (bateria), Paul Quinn e Doug Scarratt (guitarras), lançou álbuns que se tornaram essenciais na história do Heavy Metal, como “Wheels of Steel” (1980) e “Cruzader” (1984). “40 anos é um tempo longo! Para fazer uma banda como a nossa seguir em frente, você tem que se comportar como se estivesse em um ambiente familiar”, afirma Nibbs.

O baixista, inclusive, não nega que a competitividade do Heavy Metal é um combustível que os impulsiona até hoje. “Há sempre uma certa atmosfera de tensão e prazer que surge quando tentamos competir com outras bandas. Nós gostamos de impressionar, então, você não pode sentar e ficar esperando que o mundo sinta-se feliz com o que você fez no passado”, argumenta.

Todos esses ingredientes reunidos fazem com que, essencialmente, o trabalho desenvolvido pelo Saxon ao longo dessas quatro décadas seja o grande motivo que os mantêm juntos até hoje. “Eu diria que em alguma fase da carreira da banda surgiu um sentimento de orgulho que se tornou o grande motivador para irmos em frente. Nós temos muito orgulho do nosso trabalho”, complementa.

Conseguir sobreviver aos inúmeros obstáculos que uma longa trajetória impõe a qualquer banda, certamente já justifica o entusiasmo de Nibbs. Mas conseguir manter o respeito dos fãs em função de ter conseguido manter intacta a sua personalidade talvez seja o grande legado que o grupo carrega até hoje. “A sobrevivência é um instinto que todos nós temos. Bandas de Rock precisam agitar no palco e fazer música nova. Mesmo quando os tempos estão testando a força da banda, se você pode fazer um show, em qualquer lugar, com a presença do público, o momento em que ele demonstra que está gostando do que está vendo é como o sangue fresco escorrendo através das veias. O público ama a música, e nós amamos o público!”, afirma.



O processo de composição e gravação do novo álbum

Para celebrar as quatro décadas juntos, o grupo está lançando “Battery Ram”, seu 21º trabalho de estúdio. “Quando nós realmente começamos a gravar as músicas para este álbum, já tínhamos escrito a maioria das faixas, e havia mais Metal em todas elas do que no nosso último grupo de álbuns”, explica Nibs. “Quando isso se tornou evidente, nós nos mantivemos focados nesse tema, e tomamos cuidado para não nos desviar muito disso. Stay Metal!”, complementa.

“Battery Ram” não foge do que a banda construiu até hoje. Estão ali os riffs criativos das guitarras de Paul Quinn e Doug Scarratt, o ritmo e a pulsação do baixo de Nibbs e da bateria de Nigel Glockler e o vocal interpretativo e rouco de Biff Byford. Não é necessária nenhuma mudança quando se tem esses ingredientes. “Para ser honesto, nunca houve um plano desde o início para fazermos um álbum mais Metal. Biff gostou muito das minhas demos e então nos reunimos para começar a escrever as canções do CD”, conta.

Assim, com as primeiras ideias de músicas sendo colocadas em pauta, o processo de composição foi se desenvolvendo e as canções de “Battery Ram” foram surgindo aos poucos. “Nós começamos com os meus riffs para a faixa-título, em seguida ‘Devil’s Footprint’, ‘Queen of Hearts’, ‘Hard & Fast’ e ‘Stand Your Ground’. Eu tinha as músicas ‘Destroyer’ e ‘To the End’ também, mas nós não trabalhamos nelas até mais tarde nas sessões. Nigel já tinha a ‘Kingdom of the Cross’. Eu ajudei Paul com ‘Eye of the Storm’, então Paul e Biff finalizaram  a ‘Top of the World’. Uma música do Doug, ‘Three Sheets to the Wind’, foi adicionada como uma faixa-bônus”, revela o baixista.

Ao final do processo de composição e gravação, Nibs e seus companheiros de banda se sentiram satisfeitos com o resultado que atingiram. “O álbum ‘Battering Ram’ é como eu sinto que o Judas Priest escreveria uma música do Saxon! Quando eu comecei a escrever o riff para essa música, eu só imaginava: ‘Sem papo furado! Atitude simples e direta faz uma canção de Metal clássica’. Mas a parte da introdução, que se repete no meio da música, na verdade foi adicionada mais tarde e foi originalmente escrita para ser parte da música ‘Sacrifice’. Às vezes é assim que as nossas músicas surgem: juntas!”, explica o baixista.



A escolha da capa e do nome

Tanto a música “Battering Ram”, que dá nome ao álbum, quanto a capa do CD carregam um significado que foi idealizado  pela banda.

Seguindo a linha ideológica do Saxon e suas raízes, a faixa-título tem todo um contexto que a cerca. “A ideia por trás da canção é sobre o poder e a energia do Rock, do Metal e das multidões selvagens em nossos shows tentando chegar à frente do palco”, explica.

Já a ideia da capa veio do vocalista Biff Byford. “A cabeça da morte com os chifres de carneiro em frente a uma máquina de guerra rompendo os portões em direção à fortaleza… Isso está ligado ao poder do Metal/Rock  e à energia do público nos shows. A multidão em um show batendo contra as grades em frente ao palco! Incansavelmente, música após música… Coisa selvagem!”, diz o baixista.

Os alicerces de um estilo

A história do Saxon se confunde com a da N.W.O.B.H.M. Com a percepção de quem vive o estilo desde o seu início, Nibbs acredita que, mesmo após quase meio século de seu surgimento, ele ainda continua vivo e forte o suficiente para se manter em evidência. “As bandas da New Wave of British Heavy Metal que se tornaram famosas ainda são capazes de realizar turnês ao redor do mundo e mostrar ao público a fonte original de energia que deu início a toda a cena. Elas ainda conseguem promover e gravar novos trabalhos”, analisa.

Um fator que influencia fortemente esse cenário é a mudança do mercado musical. Ao longo dos últimos anos, as gravadoras foram apostando cada vez mais em ritmos e artistas descartáveis. Os grupos que conseguiram resistir a essa banalização da música são, realmente, sobreviventes. “É caro fazer uma turnê com produção, e nem todas as bandas originais sequer existem mais. Mas a Internet tem provado ser uma grande fonte para os fãs do gênero e é possível encontrar vídeos e clipes de qualquer uma das bandas de N.W.O.B.H.M. no YouTube . É divertido fazer parte desse gênero não tão sério, e é algo a ser comemorado!”, complementa.

Um dos sintomas dessa “modernidade” é a miscigenação de ritmos. Hoje o Heavy Metal está cada vez mais absorvendo outros estilos, como o RAP, e isso leva a duas realidades: a resistência dos mais puristas e o interesse das novas gerações por essas bandas híbridas. “Eu acho que, se um RAP encontra o seu caminho em qualquer gênero de música, ele tem que ser capaz de melhorar a canção”, opina. “Pessoalmente, eu gosto de um RAP aqui e outro ali, mas eu não consigo imaginar RAP em uma música do Saxon, a menos que fosse feito por um Mega Star. Mesmo assim, apenas uma música! Isso nunca seria um novo formato para nós. O RAP está associado ao lado de lá e o Metal está associado ao lado de cá!”, complementa.

Ainda assim, Nibbs não se limita a ouvir só Heavy Metal e surpreende ao revelar um grupo brasileiro que está entre os seus favoritos. “Eu acho que não conheço nenhuma banda brasileira atual, mas sempre fui um grande fã do ritmo latino e adoro a atmosfera do som dos Novos Baianos. Espero vê-los em breve no Brasil!”, conta.

Os Saxões em Curitiba

No dia 23 de outubro de 2011 o Saxon tinha acabado de lançar o álbum “Call to Arms”, o 19º trabalho de sua carreira. Para promover o CD, a o grupo fez uma minitour pelo Brasil e o show de encerramento foi no Master Hall, em Curitiba. No setlist a banda apresentou músicas que na época eram novas, como “When Doomsday Comes (Hybrid Theory)” e “Hammer of the Gods”, e também vários clássicos como “Princess of the Night”, “Dallas 1 PM” e “Denim and Leather”.  E, ao que parece, a recepção dada ao grupo pelos fãs curitibanos ficou marcada na memória de Nibbs, pois ele se lembra até do local do show. “Foi uma noite muito louca! Nos apresentamos no Master Hall, durante a  turnê ‘Call to Arms’. O público foi incrível, como de costume. Nós estivemos em turnê com esse álbum por alguns meses, mas esse show fez parte da nossa turnê sul-americana, onde nós tivemos a oportunidade de dizer olá novamente. Eu espero que possamos nos apresentar outra vez no Brasil!”, relembra.

Nos próximos meses a turnê do álbum “Battering Ram” passará por vários países europeus, como Alemanha, Suécia e Dinamarca. Em 2016, Nibbs revela que, se depender da vontade da banda, o Saxon voltará ao Brasil. E, quem sabe, Curitiba seja incluída mais uma vez nesse roteiro. “Eu tenho certeza de que faremos alguns shows dessa turnê no Brasil, mas ainda não temos uma agenda de datas definida. Eu acredito que no final da Primavera (Outono no Brasil) é uma possibilidade. Senão, mais tarde, talvez no Outono (Primavera no Brasil). Mas o nosso desejo de tocar aí é de 100%. O seu país sempre nos fez sentir bem-vindos e amados”, finaliza Nibbs.

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