O show reuniu mais de 25 mil fãs e ratificou a capital paranaense como a casa da banda britânica no Brasil
A Pedreira Paulo Leminski está oficialmente reinaugurada! Não, o jornalista que vos fala não está delirando.
Para explicar e justificar essa alegação, é preciso voltar a 2008, quando o Iron Maiden fez a última grande apresentação na Pedreira antes do período tenebroso no qual o local de shows mais tradicional de Curitiba ficou às moscas, fechado pelo Ministério Público do Paraná.
Naquela apresentação da turnê “Somewhere Back In Time”, o Iron mostrou um dos melhores setlists da história da banda, que incluía clássicos como “Powerslave”, “Wasted years”, e “Can I play with madness”.
Depois disso, a Pedreira passou seis anos fechada e só foi reaberta em 2014. Desde então, ela já recebeu vários shows de bandas grandes, entre elas, os gigantes Kiss (duas vezes), David Gilmour, Alice In Chains e Motörhead. Porém, ainda faltava a chamada cereja no bolo. Não falta mais!
Nesse sábado (26), com a Pedreira Paulo Leminski completamente lotada por mais de 25 mil fãs, o Iron voltou a Curitiba para reparar esse dano histórico, dessa vez, com a turnê “Legacy of The Beast”. A realização do show foi da RW7.
As primeiras execuções das canções de “Senjutsu”
Quando as luzes se apagaram e o clássico “Doctor, doctor”, do UFO, começou a soar na Pedreira, o público se preparou para receber os ídolos que passaram quase uma década longe de Curitiba.
O último show do Iron Maiden na capital paranaense tinha sido em 2013, no longínquo e frio BioParque, localizado na divisa com o município de São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba (leia neste link a nossa cobertura).
Ou seja, a expectativa dos fãs era enorme e seria plenamente saciada pela banda.
Bruce Dickinson (vocal), Dave Murray, Adrian Smith e Janick Gers (guitarras), Steve Harris (baixo), e Nicko McBrain (bateria) pisaram no palco (totalmente decorado com os temas orientais que são a base do mais recente álbum do Maiden, “Senjutsu”, lançado em setembro do ano passado) tocando justamente a faixa que dá nome ao álbum.
Na parte final da música, aconteceu a primeira aparição do mascote Eddie. Vestido com roupas de samurai, para delírio do público, ele deu um passeio pelo palco exibindo uma tradicional espada Katana e simulando uma luta com Gers.
Em seguida, veio “Stratego” e a sensacional “The writing on the wall” que, apesar de ser uma música nova, já caiu nas graças dos fãs.
A faixa foi lançada com um clipe de animação, que teve o enredo criado pelo próprio Bruce Dickinson, e retrata a realidade da maioria das pessoas no mundo, esmagadas por poderosos burocratas que não dão a mínima para a população de seus respectivos países.
Entre as referências presentes no vídeo, estão os EUA, a China e a Inglaterra. No clipe, Eddie surge como um libertador da humanidade, subjugando cada um dos poderosos mandatários dessas nações.
A atitude de iniciar os shows da tour com três faixas do novo álbum mostra claramente que, apesar das quase cinco décadas de vida, o grupo ainda tem muita lenha para queimar e não se prende somente aos louros do passado.
Aliás, “Senjutsu” pode ser considerado o melhor álbum do Iron desde “Fear of The Dark” (1991), pois a banda mostra uma criatividade e uma coesão nas composições bem mais consistentes do que nos últimos trabalhos lançados por eles.
Clássicos imortais
Na sequência, o palco ficou escuro durante alguns momentos, com sons de tiros e aviões soando nos alto-falantes.
Então, quando Nicko fez a contagem no chimbau para começar a emblemática “Revelations”, do álbum “Piece of Mind” (1983), as luzes se acenderam e o público pôde visualizar a representação de uma igreja na qual os vitrais estavam decorados com imagens de Eddie em quatro encarnações do mascote: o Faraó de “Powerslave”, o soldado de “The Trooper”, a figura congelada de “Seventh Son of Seven Son” e e a besta de “The Number of The Beast”.
A letra de “Revelations” começa com um poema/oração composta no final do século 19 pelo poeta e escritor inglês G.K. Chesterton que pode ser encaixada na realidade de qualquer país do mundo na atualidade. “Oh, Deus da Terra e do altar. Curve-se e ouça o nosso clamor. Nossos governantes terrenos vacilam. Nosso povo anda à deriva e morre. As paredes de ouro nos sepultam. As espadas do desprezo separam. Não tomai de nós vosso trovão, mas levai nosso orgulho”.
Depois, para apresentar “Blood brothers”, Bruce se dirigiu aos fãs curitibanos arriscando até algumas palavras em português. “Boa noite, Curitiba! Eu vou falar em inglês para não destruir a sua língua”, disse.
O vocalista ressaltou o período de dois anos e meio de pandemia, no qual a banda não conseguir vir ao Brasil para se apresentar. “Esta é a nossa primeira noite no Brasil! É muito bom estar aqui após esses anos nos quais nós ficamos sem ver e ouvir vocês, sem sentir os fãs brasileiros! Nós estamos de volta e não vamos embora!”, complementou.
Depois, as luzes se apagaram e o palco foi iluminado por uma forte luz vermelha, com um coro gregoriano demoníaco soando para anunciar “Sign of the cross”.
Ao mesmo tempo, uma grande cruz repleta de luzes foi colocada no palco, e Bruce cantou a música vestido com uma espécie de hábito de monge, ao melhor estilo do filme “O Nome da Rosa”.
Aliás, durante a música, foi impressionante perceber como a voz de Dickinson consegue se adaptar e dar uma nova roupagem a canções que não foram gravadas por ele.
Afinal, o original foi registrado por Blaze Bayley no álbum “X-Factor” (1995), e o ex-frontman do grupo sabidamente tem um alcance vocal muito mais limitado.
“Flight of Icarus” veio em seguida, retratando a ascenção e queda do personagem Ícaro que, na mitologia grega, morreu ao tentar voar muito perto do Sol com suas asas de cera.
Durante a música, Bruce disparou labaredas de fogo na imagem de Ícaro que, no final, acabou se desfazendo.
Na sequência, o vocalista pegou uma lanterna com uma luz verde e a banda deu início a “Fear of the dark”, que se tornou um clássico principalmente para a geração que conheceu o Iron a partir do início dos anos 1990.
Depois, na soturna “Halloweed be thy name”, Bruce cantou dentro de uma cela e, quando saiu, uma corda usada para executar prisioneiros caiu em cima dele, retratando a saga do personagem que é descrito na letra.
O número da Besta!
Em “The number of the beast”, enormes labaredas surgiram no palco, transformando a Pedreira Paulo Leminski em um verdadeiro Inferno.
Logo em seguida, Bruce soltou o tradicional “Scream for me Curitiba” e a banda iniciou “Iron maiden”.
Na parte final da música, o público ficou espantado com uma cabeça gigantesca de um Eddie demoníaco que foi inflada atrás da bateria de Nicko.
No final, a banda saiu do palco durante alguns minutos. Na volta, quando o velho Eddie surgiu novamente, dessa vez vestido com uma roupa que retratava a bandeira da Inglaterra, os fãs logo reconheceram que era chegada a hora de “The trooper”.
Depois veio “The clansman”, música do álbum “Virtual XI” (1998) que retrata o herói escocês William Wallace, que lutou bravamente ao lado dos clãs da Escócia contra as constantes investidas do Rei inglês Edward I.
A batalha mais famosa vencida por ele aconteceu na ponte de Stirling, em setembro de 1297.
“Run to the hills” veio em seguida para fazer todo o público cantar. Na parte de trás do palco, uma imagem imensa mostrava dois Eddies, um com a roupa de “The tropper” e outro caracterizado como o samurai de “Senjutsu” diante de um cogumelo atômico causado por uma explosão nuclear.
No final, Bruce acionou um dispositivo colocado atrás da bateria, e várias explosões eclodiram em todo o palco.
Depois, a banda saiu novamente do palco, que foi deixado às escuras. Na sequência, o mítico discurso de primeiro-ministro inglês Winston Churchill conclamando o povo da terra da Rainha a não se render às agressões dos alemães na Segunda Guerra foi exibido nos telões que estavam posicionados ao lado do palco.
Quando as luzes se acenderam, uma gigantesca representação do avião Spitfire estava “voando” em cima do palco, o que causava um efeito fantástico!
A aeronave foi usada pela Royal Air Force (RAF) durante a Segunda Guerra para que o país conseguisse se defender dos constantes bombardeios da Luftwaffe, a força aérea alemã.
No fim, a banda se despediu do público sob os gritos entusiasmados de todos os fãs que estavam presentes na Pedreira.
Nicko ainda ficou alguns minutos no palco, como sempre, jogando baquetas e peles de bateria para o público.
Claramente, todo o grupo mostrava a alegria e admiração que o Maiden desenvolveu pela cidade de Curitiba nos últimos anos.
Afinal, a capital paranaense se tornou a casa do Iron no Brasil por causa justamente dessa ligação com o público.
O reconhecimento chegou a tal ponto que o grupo resolveu estabelecer uma parceria com a cervejaria curitibana Bodebrown para a produção de uma cerveja oficial da banda, a Trooper Brasil IPA Iron Maiden.
Na quarta-feira (24), inclusive, Bruce foi pessoalmente até a sede da Bodebrown para conhecer a fábrica e aprovar o novo lançamento da parceria, a cerveja Aces High, que começa a ser comercializada no mês que vem.
Ver o Iron Maiden pelo menos uma vez na vida é uma necessidade para qualquer apreciador de Rock ou de Heavy Metal. Poucas, ou nenhuma banda no mundo, têm tanta conexão com os fãs quando esses ingleses que continuam se divertindo nos palcos ao redor do planeta porque realmente fazem o que gostam.
Confira os vídeos das músicas “Aces high” e “The writing on the wall”, gravadas ao vivo no show do Iron Maiden na Pedreira, e veja o nosso álbum de fotos.
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Avatar
A abertura da noite ficou a cargo da banda sueca Avatar. O grupo, que é formado por Johannes Eckerström (vocal), Jonas Jarlsby e Tim Öhrström (guitarras), Henrik Sandelin (baixo), e John Alfredsson (bateria) segue a linha do Death Melódico, mas também faz um som muito próximo do Nu Metal, com afinações bem baixas.
Ao vivo, a banda incorpora alguns elementos teatrais na maneira de se portar no palco.
A própria entrada no show na Pedreira teve essa conotação, com Alfredsson andando como se fosse um robô até chegar na bateria.
A banda abriu o show com as pesadas “Hail the apocalypse” e “Colossus”, seguidas por “Paint me red”.
Em todas as músicas do show, o grupo reservou um tempinho para banguear sincronizadamente, o que claramente é um ato pensado e faz parte do enredo dos shows da banda.
Influências e referências
Engana-se quem pensa que o Avatar é uma cara nova dentro da cena, pois eles estão na ativa desde 2001, quando montaram a banda em Gotemburgo. O mais recente álbum do grupo é “Hunter Gatherer” (2020).
De maneira geral, é nítido que o Avatar é competente no som que se propõe a fazer (se não fosse assim, eles não seriam escalados para abrir um show desse porte).
Entretanto, eles não fogem muito do que é tradicionamente apresentado dentro desses estilos nas últimas décadas.
Durante o show, Eckerström mostrou claras influências estéticas e musicais de Marilyn Manson (na maneira de cantar) e de Alice Cooper (nas movimentações de palco e no uso de uma bengala/cetro).
Para encerrar a apresentação, o vocalista pediu que o público o ajudasse a anunciar o título “Smells like a freakshow” e foi atendido.
A plateia, aliás, recebeu muito bem a banda e arriscou até a cantar o nome do grupo em algumas ocasiões.
“Nós prometemos que vamos voltar”, disse o vocalista antes da banda sair do palco sob os aplausos da plateia.
Confira o vídeo das músicas “Colossus” e “Hail the apocalypse”, gravadas ao vivo no show do Avatar na Pedreira, e veja o nosso álbum de fotos.
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