A apresentação acontece neste sábado (13), na Pedreira Paulo Leminski, como parte da programação do Festival Crossroads Dia Mundial do Rock

“Voz disfarçada de gente”. Nos 31 anos nos quais esteve à frente do Blindagem, a banda mais importante da história da música paranaense, o vocalista e compositor Ivo Rodrigues conquistou esse adjetivo por meio de muito talento e sensibilidade na interpretação de canções que ficaram marcadas para sempre na vida dos fãs.

Mesmo assim, desde a morte de Ivo, em 2010, pouquíssimas iniciativas foram criadas para homenagear o cantor, como costumeiramente acontece com os grandes expoentes da cultura no estado do Paraná.

Neste sábado (13), a 7ª edição do Festival Crossroads Dia Mundial do Rock abrirá espaço para o projeto “Ao Ivo e As Cores”, comandado pelo filho do cantor, o baterista Ivan Rodrigues, e pelo guitarrista Gabriel Teixeira, filho de Paulinho Teixeira, parceiro do vocalista nas bandas A Chave e Blindagem.

O show tem tudo para ser uma das mais importantes homenagens já realizadas até hoje para exaltar o legado de Ivo e, sem nenhuma dúvida, levará o público a uma viagem às raízes do Rock paranaense.




Grandes nomes da música paranaense

A banda que participará do show na Pedreira é formada por Rodriggo Vivazs (que foi o primeiro vocalista a entrar no Blindagem, após a morte de Ivo), Amândio Galvão e Gabriel Teixeira (guitarras), Marcos Dank (baixo) e Ivan Rodrigues (bateria).

Entre as músicas que farão parte do repertório, estão “Buraco no coração”, “Me provoque pra ver” e “Todo roqueiro é gente fina”, da banda A Chave, e “Miragem”, “Vida gozada” e “Oração de um suicida”, do Blindagem.

É possível que o grupo também toque a canção “O velho homem do Folk”, faixa-título do único trabalho solo que faz parte da extensa discografia de Ivo.

O CD foi gravado em 2009/2010 no estúdio do guitarrista da banda curitibana Syd Vinicius, Anselmo Neto, pouco antes da morte do vocalista. O lançamento só aconteceu em 2017, de maneira póstuma, com produção de Ivan Rodrigues.

Certamente, o show na Pedreira será emocionante para todo o público, mas Gabriel e Ivan sentirão um impacto ainda maior.

Afinal, levar para o maior palco de Curitiba as músicas que os pais deles eternizaram na memória dos fãs será um presente enorme para os dois. “Quando surgiu o convite para tocar no festival, eu me emocionei na hora só de imaginar que teria a oportunidade de fazer essa homenagem no Pilarzinho, que sempre foi o nosso bairro, no lugar de shows mais incrível do mundo e com um público sensacional!”, diz Ivan.

Porém, mesmo sabendo de toda a carga emocional que estará presente tanto no palco quanto entre o público, o baterista tem noção de que essa será uma experiência sem precedentes na vida das pessoas que estão envolvidas com o projeto. “Só na hora para saber exatamente o que eu vou sentir, mas quero desfrutar de cada momento imaginando o meu pai no palco, ao lado da gente”, complementa Ivan.

Não é exagero dizer que o legado de Ivo com o Blindagem e com a banda A Chave será “defendido” com sangue e lágrimas por esses fiéis escudeiros. “Será demais porque é muito legal representar essa história do Ivo, um cara que tem tudo a ver com a cultura de Curitiba”, afirma Gabriel.




Memórias que nunca serão esquecidas

Ivan e Gabriel guardam muitas lembranças que eles dividiram com Ivo Rodrigues, com os integrantes do Blindagem e com os inúmeros parceiros musicais que passaram pela trajetória da banda.

Aliás, a primeira vez que Gabriel tocou uma música em público, ainda na infância, foi em um churrasco na casa do vocalista e que contou com a presença de ninguém menos do que o poeta Paulo Leminski! “O meu pai chamou todo mundo e falou: ‘o Gabi está começando a tocar, toca uma aí’! Eu toquei ‘Love me tender’ e o Ivo cantou”, conta. Que maneira de estrear!

Outra dessas histórias inesquecíveis aconteceu no ano 2000, quando o Black Maria (grupo do qual Gabriel ainda é o guitarrista) estava gravando o álbum “Demorô”.

Naquele dia, a produção da canção “Verdura madura”, uma das muitas parcerias de Ivo e Paulinho Teixeira, estava a cargo dos músicos jamaicanos Vince Black (ex-guitarrista do Black Uhuru) e Amlak Tafari (baixista do Steel Pulse). As duas bandas foram grandes nomes do Reggae mundial nos anos 1980/90.

A gravação contou com as participações de Ivo e de Paulinho e, no momento no qual as vozes estavam sendo registradas, uma situação ficou marcada na mente e no coração do guitarrista. “Quando o Vince e o Amlak ouviram o Ivo cantar, eles disseram: ‘que voz! Esse cara não é famoso’? Os dois ficaram impressionados com o vozeirão que ele tinha! Depois, o meu pai também fez um solo fantástico e, dali em diante, os nossos amigos jamaicanos desenvolveram essa admiração pela força, a presença e a história que o Ivo carregava”, conta Gabriel.

Aliás, na infância, essa canção fazia com que Gabriel quebrasse a cabeça para entender uma parte da letra que diz a enigmática frase “venha e traga os bandidos”.

Por incrível que pareça, a explicação estava mais próxima do que ele imaginava. “Eu não entendia esse papo de trazer os bandidos. Então, eu perguntei para a Alice Ruiz e ela me explicou que ‘nós’ éramos os bandidos, as crianças, os filhos deles! Quando os nossos pais se reuniam para fazer um churrasco, eles falavam: ‘venham e tragam os bandidos’ (risos)”, conta.

Ivan tem uma lembrança ainda mais pessoal porque ela foi vivenciada naquela que seria a última viagem que ele fez com o pai.

Na ocasião, no amanhecer de 1º de janeiro de 2010, o baterista estava chegando em casa após passar o réveillon com os amigos e encontrou o pai se preparando para viajar a Santa Catarina, pois o Blindagem se apresentaria no Festival Psicodália. “Ele tinha passado recentemente por um transplante de fígado bem-sucedido e estava se arrumando para sair. Quando eu cheguei, estava indo direto para o banho quando ele me perguntou se eu queria ir com eles. Porém, depois de uma festa intensa, eu respondi que não”, conta.

Entretanto, alguma coisa fez com que Ivan repensasse rapidamente essa decisão. “Durante o banho, me deu um estalo, eu mudei de ideia e pedi para ele me esperar”, complementa.

Na sequência, Ivan e o pai se juntaram a Paulinho Teixeira e seguiram de carro até Santa Catarina. Naquela noite, além do Blindagem, o lineup ainda contou com Os Mutantes e com a banda gaúcha Pata de Elefante.

Pouco antes dos paranaenses subirem no palco, Ivan foi conferir o setlist e percebeu que o Blindagem abriria o show com a belíssima “Se eu tivesse”, faixa do álbum “Cara e Coroa” (1987).

Porém, apesar de ser uma das canções do Blindagem que ele mais gosta, Ivan não concordou muito com a decisão do grupo. “Eu achei que seria um erro abrir com uma balada depois de um show pesado (do Pata de Elefante), mas meu pai sorriu e disse: ‘é justamente por isso que vamos começar de leve’. Dito e feito!”, conta.

Obviamente, com a sabedoria que a estrada deixou impregnada na mente dos integrantes do Blindagem, eles sabiam que o público receberia muito bem a sequência das músicas do setlist. “O começo foi hipnotizante, foi crescendo como eles queriam e culminou em um momento histórico quando eles tocaram ‘With a little help for my friends’, na versão do Joe Cocker, com a participação da incrível Michele Mara. Quem viu não esquece porque foi uma verdadeira aula! Essa acabou sendo a última viagem que eu fiz com meu pai”, finaliza o baterista.

Todas essas histórias estarão pairando neste sábado (13), no palco da Pedreira Paulo Leminski. Afinal, o legado que essas duas gerações das famílias Rodrigues e Teixeira (ao lado dos seus respectivos companheiros de banda) continuam deixando para a música paranaense merece ser exaltado e aplaudido pelo público que, certamente, terá a chance de presenciar um momento único.

A 7ª edição do Festival Crossroads Dia Mundial do Rock tem realização do bar Crossroads e da produtora Planeta Brasil.

O evento terá 30 atrações musicais, entre elas, a banda paulista Autoramas, os capixabas do far From Alaska e os curitibanos da Relespública (que está completando 35 anos de trajetória e é um dos maiores nomes do Mod brasileiro) e Djambi (um dos mais antigos e representativos grupos de Reggae em Curitiba).

Além de assistir aos shows, o público também terá diversas opções de entretenimento (gastronomia, feira de expositores, espaço kids e atividades radicais).

Os ingressos estão no 2º lote e podem ser adquiridos na plataforma Cheers. Os valores são: R$ 300, 00 + taxa administrativa (inteira) e R$ 150,00 + taxa administrativa (meia-entrada). O Combo Leve 4 Pague 3 custa R$ 900, 00 + taxa administrativa (inteira) e R$ 450,00 + taxa administrativa (meia-entrada). Menores de 9 anos de não pagam.

A meia-entrada é válida para estudantes, maiores de 60 anos, professores, doadores de sangue, pessoas com deficiência (PCD) e de câncer.

A programação de shows começa às 12h. A classificação etária é livre. Menores só entram se estiverem acompanhados dos pais ou responsáveis.

A Pedreira Paulo Leminski fica na Rua João Gava, 970, no Abranches. Confira neste link o lineup completo e todas as informações sobre o evento.

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