Texto e foto: Marcos Anubis

O show contou com a abertura de outro expoente do Rock brasileiro, a banda paulista Autoramas



Há quem diga que o Rock brasileiro está morto, ou moribundo. Ledo engano. O show do grupo Barão Vermelho, nessa quinta-feira (7) no Teatro Positivo, em Curitiba, mostrou que boas canções e letras ainda resistem ao mar de lama que tomou conta da música nacional que atinge o grande público, atualmente. A banda, que estava em stand by desde 2005, retornou no ano passado para comemorar os 30 anos do lançamento do seu primeiro disco, “Barão Vermelho”, de 1982, fazendo a turnê “+ 1 Dose”.

As cortinas vermelhas do palco do teatro se abriram perto das 22h. O grupo começou a noite com “Por que a gente é assim?”, seguida de “Ponto fraco” e “Pense e dance”, sem intervalo entre elas. Após esse início de tirar o fôlego, o guitarrista e vocalista Frejat saudou o público e explicou que a tour era uma forma de tocar músicas que fizeram parte da trajetória do grupo e que nem sempre são incluídas no repertório. “É importante que a molecada veja o que é um show do Barão”, explicou.

A trinca inicial já dava o tom do que seria a apresentação. Durante quase duas horas, a banda presenteou os fãs com um setlist formado só por clássicos como “Billy Negão”, “Carne de pescoço” e “Política voz”, passando por todas as fases e discos da sua trajetória. “Meus bons amigos”, do disco “Carne Crua”, lançado em 1994, teve o seu refrão cantado em uníssono pelas mais de 2.000 pessoas presentes. “O amor sem fim não esconde o medo de ser completo e imperfeito”, diz a letra.

A formação atual do Barão tem o vocalista e guitarrista Frejat, Guto Goffi na bateria, Fernando Magalhães na guitarra, Rodrigo Santos no baixo e Peninha na percussão, além da participação do tecladista Mauricio Barros, remanescente da formação original do grupo, ao lado de Frejat e Gutto. A química entre os músicos, fruto de décadas tocando juntos, é impressionante.

Era perceptível o caráter de celebração com que a banda está encarando essa turnê. Os músicos pareciam estar realmente se divertindo no palco, interagindo entre eles e com o público sem forçar a barra. O comportamento do público também chamou a atenção pelo respeito que demonstravam. Shows de rock sempre são marcados pela sinergia entre artistas e seus fãs. Atualmente essa interação parece ainda maior. As pessoas, por conta da quase extinção do rock nas rádios, TVs e mídia em geral, trocado por “artistas” de gosto duvidoso, parecem ávidas por boa música e letras que tenham algo a dizer.

Homenagens

Frejat dedicou a música “O Poeta está vivo”, ao vocalista do Charlie Brown Jr., Chorão, falecido na última terça-feira. “Ele era um cara muito talentoso, com todos os seus céus e infernos pessoais”, afirmou. As homenagens se estenderam a mais dois ícones do rock nacional com “Quando o sol bater na porta do seu quarto”, da Legião Urbana e “Tente outra vez”, de Raul Seixas. Um dos maiores sucessos de Cazuza, “O tempo não para”, foi tocada em uma versão bem mais pesada.

Antes de “Sorte e azar”, o vocalista revelou que, durante a remasterização do primeiro disco da banda, eles encontraram músicas que nem lembravam que tinham sido gravadas. Entre essas canções perdidas estava “Down em mim” com Cazuza, o vocalista do grupo na época, cantando em espanhol. “Declare Guerra”, clássico do disco homônimo lançado em 1986, trouxe para os velhos e novos fãs uma das letras mais diretas e bem escritas do grupo. “E pra piorar quem te governa não presta. Declare guerra aos que fingem te amar. A vida anda ruim na aldeia. Chega de passar a mão na cabeça de quem te sacaneia”, diz a letra. Escrita há quase três décadas atrás, ela tem a magia que só grandes canções possuem: não envelhece.

“Down em mim”, que une o ritmo do blues, uma letra melancólica e um solo de guitarra sensacional, foi emocionante. “E da privada, eu vou dar com a minha cara de panaca pintada no espelho e descobrir, sorrindo, que o banheiro é a igreja de todos os bêbados”, diz a letra. Um dos hinos da história do rock, “(I Can’t Get No) Satisfaction”, dos Rolling Stones, encerrou a noite. Frejat largou a guitarra e cantou a música bem próximo ao público.

Ver um show de Rock sempre foi uma válvula de escape para várias gerações. Em meio ao caos da vida moderna isso fica ainda mais evidente. Ouvir canções bem construídas e bem tocadas, acompanhadas por letras que dizem algo, que fazem as pessoas pensarem, é quase um programa em extinção. Felizmente ainda existem bandas como o Barão Vermelho que proporcionam esses momentos únicos para os amantes da boa música.

Confira o início do show do Barão Vermelho com as músicas “Por que a gente é assim?”, “Ponto fraco” e “Pense e dance”.

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