Texto e foto: Marcos Anubis

defalla

O público que esteve no bar Jokers na última sexta-feira (12), fez uma viagem sem escalas para os anos 1980. O show da banda gaúcha Defalla reuniu a velha guarda consumidora de rock nacional e alguns novos fãs do grupo.

Quando as cortinas vermelhas do palco se abriram, a primeira cena já daria o tom da noite. Enquanto uma introdução sinfônica soava nos alto falantes, o vocalista Edu K, uma das figuras mais carismáticas e irreverentes do rock brasileiro, encarava a plateia, em pé na frente da bateria, com a mão esquerda dentro de sua calça. “Hello motherfuckers, are you really ready for some super damned song?”, perguntou Edu. Aos primeiros acordes de “Repelente”, clássico do álbum “It’s fucking boring to death”, lançado em 1988, a orgia musical se instalou no Jokers.

Todos os músicos estão 100% em forma, tocando bem e com o mesma presença de palco. O baixista Flu mantém o ar tranquilo, a la John Entwistle do The Who, a baterista Biba Meira com seus andamentos quebrados e muito suingue conduz a banda com maestria e o guitarrista Castor Daudt dá o peso e a melodia que a banda precisa. Edu K permanece o frontman perfeito para qualquer banda, irônico, sarcástico e cantando bem.

A banda enfileirou grandes clássicos como “Sodomia”, “I can’t get no (satisfaction”, uma cover dos Stones que nem Mick Jagger imaginaria que poderia ser feita, “Revolution” e “Papaparty”.

Em “Sossego”, cover do soulman Tim Maia gravado pela banda, Edu contou que, na época do lançamento da música, ele recebeu uma ligação do próprio Tim e manteve um diálogo surreal com o falecido cantor. Quando o papo tomou um rumo mais “normal”, Tim elogiou muito a versão do Defalla.

Os dois grandes momentos do show foram “It’s fucking boring to death” e “Não me mande flores”. As duas canções foram cantadas pelos fãs como se fossem hinos. Após o término da apresentação, a satisfação do público presente por ter a oportunidade de ver ao vivo uma das grandes bandas undergrounds brasileiras era visível.

Curitiba, 20 anos depois

Um dos grandes shows do Defalla em Curitiba foi na festa de comemoração de dois anos no ar da saudosa rádio Estação Primeira, no longínquo ano de 1988 no ginásio do Círculo Militar, conhecido na época como Palácio de Cristal. Os gaúchos tocaram ao lado dos grupos Mulheres Negras, Replicantes, Nenhum de Nós e da atração principal da noite, o Ira!.

A última vez que o Defalla tinha tocado na cidade havia sido em 1993, no antigo Aeroanta, uma das mais importantes casas de show que a Curitiba já teve, logo após o festival Hollywood Rock. O guitarrista Castor Daudt revela que esse retorno à capital paranaense foi uma grande experiência para a banda. “Gostei muito. O público foi super bacana, interessado. Coroas quarentões e uma gurizada de vinte e poucos anos curtindo juntos”, diz Castor.

A organização do show também foi ressaltada pelo guitarrista. “O som estava ótimo. A passagem de som foi tranquila e o equipamento estava 100%. É raro as coisas funcionarem perfeitamente em uma produção dessas, mas, neste caso, não sei como, tudo foi perfeito”, elogiou.

A banda é natural de Porto Alegre, mas seus integrantes, atualmente, estão espalhados pelo Brasi. Edu K mora em Florianópolis, Biba Meira e Flu em Porto Alegre e Castor em Maceió. “Eu não ia à Curitiba há quase 20 anos, desde o último show que fiz com o DeFalla. Estava com saudades dos amigos e dessa cidade que eu gosto bastante. Sinto falta de poder ir com maior frequência. Curitiba vicia!”, diz o guitarrista.

A volta e a gravação do novo CD

O Defalla lançou um projeto de crowdfunding, financiamento coletivo, para gravar um novo álbum ainda neste ano. A meta é atingir R$ 50.000 até o próximo dia 30, quando se encerra a arrecadação. O projeto inclui a gravação de um CD, que também será lançado em vinil, e um DVD. Serão oito músicas que já estão em fase de finalização.

Castor revela que a banda já recebeu algumas propostas de gravadoras e selos, mas que nenhuma os atraiu. “Não temos pressa. Temos vontade de gravar músicas novas, mas da maneira correta, do nosso jeito. Sempre foi assim, porque agora faríamos diferente?”, arremata.

A banda sempre esteve misturou vários estilos musicais, do rock ao funk, (americano, cara pálida). Com tantas influências compondo o caldeirão da banda, o que esperar do novo trabalho? “Na verdade nós não sabemos. Nós fizemos um ensaio em Porto Alegre e, de uma hora para outra, saíram dez músicas. Eu mesmo estou curiosa”, conta a baterista Biba Meira.

Considerando a qualidade da obra do Defalla, certamente, eles se colocarão mais uma vez na vanguarda do rock nacional. Para contribuir com a gravação do novo CD do Defalla, acesse esse link.

Assista a três vídeos do show, “It’s fucking boring to death”, “Não me mande flores” e “Repelente”.