O grupo inglês se apresenta no dia 15 de outubro, no Cwb Hall, com abertura da banda estadunidense Christian Death

O guitarrista do The Mission, Simon Hinkler, é um daqueles raros artistas que ajudaram a moldar um gênero musical específico.

Afinal, nos 17 anos ao lado da banda inglesa (de 1986 a 1990, voltando em 2011), ele definiu muitos parâmetros do que hoje é chamado de Gothic Rock e, nos anos 1980, era conhecido como Dark.

Atualmente, apesar de terem enfrentado inúmeros modismos musicais que surgiram e desapareceram nas últimas décadas, Wayne Hussey (vocal e guitarra), Simon Hinkler (guitarra), Craig Adans (baixo) e Alex Baum (bateria) continuam na ativa, fazendo shows ao redor do mundo e mantendo vivo um profundo legado que ainda está sendo construído.

Esse protagonismo é mais do que merecido porque o The Mission influenciou inúmeras bandas e gêneros musicais nos últimos 38 anos.

O Gothic Metal, por exemplo, está diretamente ligado ao som que o grupo criou por meio das texturas sonoras sombrias e das temáticas das letras. “Eu fico muito orgulhoso, mas não é uma surpresa porque é exatamente assim que a música funciona de geração para geração. A melhor música influencia as melhores bandas novas a fazer algo novo e bom”, comenta Simon Hinkler.

Mesmo assim, desde que começou a atuar profissionalmente nesse cenário, o guitarrista confessa que a relação que ele mantém com a música mudou radicalmente. “Para ser honesto, não acompanho a cena musical. Ao longo dos anos, a música se tornou algo diferente para mim. Na minha adolescência, eu era obviamente um grande fã, mas quando comecei a tocar em bandas, fiquei mais interessado em músicas antigas que, na época, eu era jovem demais para apreciar. Agora, a música é algo com o qual eu trabalho e tento fazer bem, mas não ouço muito mais”, complementa.

O The Mission se apresenta no dia 15 de outubro (terça-feira), no Cwb Hall, com abertura da banda estadunidense Christian Death.

O show faz parte da turnê “D-Tour” (um trocadilho com a palavra inglesa “detour”, que significa tomar uma direção diferente da rota planejada).

Os ingressos estão à venda na plataforma Bilheto, com valores a partir de R$ 150 + taxa administrativa (meia-entrada).




The Mission x Curitiba, uma relação de amor levemente conturbada

Nos dois últimos shows que o The Mission fez em Curitiba, a banda teve que enfrentar situações bem complicadas e que ficaram marcadas na memória dos músicos ingleses.

A primeira aconteceu em 2014, quando o grupo se apresentou no Espaço Cult, no Largo da Ordem.

Naquela ocasião, diversas falhas técnicas na estrutura do palco deixaram o grupo e o staff de apoio em pânico e quase fizeram com que a banda cancelasse o show. “Nunca vou esquecer essa noite porque tivemos problemas o tempo todo”, conta Hinkler.

Na época, o guitarrista mantinha um “diário de turnê” no qual relatava os acontecimentos dos shows ao redor do mundo e o capítulo de Curitiba rendeu algumas páginas. “A passagem de som começou às 18h30, passou do horário de entrada às 20h, passou do horário de palco às 22h e foi até às 23h30. O P.A. estava completamente destruído e soava como um megafone horrível e doloroso para os ouvidos. Choques no microfone principal estavam medindo um novo recorde de 78 volts”, escreveu.

Mesmo assim, perto do horário da apresentação e quando muitas pessoas já tinham entrado no local, os integrantes do grupo resolveram fazer uma reunião no camarim e acabaram decidindo tocar, em respeito aos fãs que receberam a banda com muito carinho.

No hotel, após o show, essa decisão foi retratada passo a passo pelo próprio Hinkler nesse diário pessoal. “Às 11:30, era hora da verdade: ou fazíamos, ou não fazíamos. Foi decidido que faríamos, mas com uma explicação de que as pessoas poderiam pedir o reembolso, se quisessem. O anúncio foi feito pelo nosso técnico tradutor, o Ari, que estava muito estressado e está se sentindo extremamente mal até hoje. Tocamos o set completo e trouxemos a casa abaixo. Muito Rock. O Craig torceu o tornozelo e o Wayne machucou a coxa”, complementou.

Relembre neste link como foi a nossa cobertura do show no Espaço Cult.

Em 2022, o The Mission voltou a tocar em Curitiba, dessa vez na Ópera de Arame, com abertura do Gene Loves Jezebel do vocalista Michael Aston (os irmãos Jay e Michael, fundadores do GLJ, comandam duas versões diferentes da banda).

Porém, apesar de estar em um dos locais mais icônicos e estruturados da capital paranaense, mais uma vez, a banda passou por uma situação estranha e nada usual nos quase 40 anos de vida do grupo.

O problema aconteceu porque a reação dos fãs que estavam na Ópera não foi exatamente o que o grupo esperava ou estava acostumado a presenciar. “Eu certamente me lembro do lugar, a grande estufa em forma de teatro de ópera. Quando chegamos para a passagem de som, achamos que seria uma ótima noite, mas foi tudo um pouco estranho. Deduzi que metade do público não era realmente fã da banda, eles só vieram para ver o que estava acontecendo. Este foi um dos públicos mais silenciosos para os quais eu já toquei, o que parece estranho porque, em 2014, o público em Curitiba foi bem agitado”, diz.

Naquela noite na Ópera, por causa de todo esse anticlímax, os integrantes do grupo tocaram apenas uma música no bis e saíram do palco nitidamente incomodados.

Essa situação constrangedora fez com que os fãs ficassem sem ouvir o clássico “Tower of strength”, que fecharia o show.

Relembre neste link como foi a nossa cobertura.




A conexão com o Brasil

A relação do The Mission com o Brasil começou em 1988, quando o grupo fez um show lendário no Canecão, no Rio de Janeiro.

Naquele momento, a banda estava surfando nas ondas do sucesso e era o principal nome do Dark em todo o mundo.

Mesmo assim, o próprio Rock nacional ainda estava começando a se consolidar e a vinda de bandas internacionais ao Brasil não era nada comum, principalmente as que estavam em evidência.

Justamente por causa disso, os integrantes do grupo foram surpreendidos com a quantidade de fãs que eles tinham no Brasil e a idolatria que esses jovens demonstraram. “Para todos nós, foi emocionante vir à América do Sul pela primeira vez. Era uma parte do mundo que eu nunca pensei que veria. Em 1988, estávamos desfrutando de grande sucesso na Grã-Bretanha e na Europa, então, ao assinar com a Polygram, estávamos ganhando exposição em todo o mundo. De certa forma, tudo estava acontecendo tão rápido para a banda que não parecia surpreendente ir para a América do Sul, para os EUA ou para o Japão”, conta.

Nas lembranças que o guitarrista guarda daquela primeira vinda ao Brasil, está uma situação que a banda viveu fora do ambiente musical, quando Hinkler e seus companheiros foram conhecer o mítico ladrão de bancos britânico Ronald Bigs, que morava no Rio de Janeiro desde o início dos anos 1970. “Sempre lembrarei que conhecemos o famoso Ronnie Biggs naquele show no Rio. Foi ótimo tocar para o nosso primeiro público brasileiro, muito vocal e entusiasmado, como acontece em todos os países sul-americanos nos quais tocamos. Bem, tirando aquela vez na Ópera de Arame (risos)”, diz.

Nesses shows no Brasil, a paixão de alguns integrantes do The Mission pelo futebol ficou bem evidente para os fãs.

Afinal, a banda costuma colocar bandeiras de times ingleses no palco, conforme a preferência clubística de cada um deles.

Nos shows de 2014 em Curitiba, por exemplo, o amplificador de Wayne estava decorado com uma bandeira do Liverpool, time do qual ele é um fanático torcedor.

Hinkler não é um grande fã do esporte bretão, mas costuma acompanhar com regularidade a seleção inglesa que, nos últimos anos, tem feito boas campanhas nas competições de seleções.

Os Three Lions, inclusive, chegaram às finais das duas últimas edições da Eurocopa, o campeonato europeu de seleções (perdendo ambas). “Eu realmente não acompanho mais futebol, mas o Craig e o Wayne são grandes fãs. No entanto, eu assisto às competições internacionais e, neste ano, vi a Inglaterra ser derrotada na final da Eurocopa em uma TV no vestiário de um castelo no qual tocamos na Polônia. Qualquer fã da Inglaterra lhe dirá que a história é sempre a mesma: espere a derrota em circunstâncias frustrantes. Não sei por que nos colocamos nessa agonia. Tudo faz parte de ser inglês, eu suponho”, lamenta.




Clássicos do Gothic Rock

O The Mission lançou dois álbuns que fazem parte da discografia básica de qualquer fã do Rock dos anos 1980.

Afinal, os discos “God’s Own Medicine” (1986) e “Children” (1988) foram um grande sucesso no Brasil e apresentaram o grupo ao país por meio de músicas que se tornaram grandes clássicos, entre elas “Wasteland”, “Severina” e “Tower of strength”.

Em Curitiba, essas músicas faziam parte da programação diária da rádio Estação Primeira, a emissora FM mais importante que a capital paranaense já teve.

Nesse início da banda, os integrantes do Mission usaram as influências musicais que cada um deles absorveu anteriormente para criar uma sonoridade que se tornaria uma das referências do Gothic Rock. “Quando éramos crianças, nós crescemos com o Rock/Pop/Glam do início dos anos 1970, então, isso faz parte do nosso DNA. Depois, veio o Punk e a New Wave para a qual todos nós contribuímos em nossas bandas anteriores”, conta.

Na visão de Hinkler, “God’s Own Medicine” definiu o som do The Mission e mostrou ao grupo qual era o caminho que eles deveriam trilhar. “A gravação desse álbum foi um momento muito criativo. O Wayne já tinha trabalhado com multitracking de guitarras antes do The Mission e eu conhecia a double tracking e a manipulação de fitas, mas no ‘God’s Own Medicine’, nós fomos totalmente fundo nessas técnicas. Com o Tim Palmer produzindo, todos nós mostramos as nossas ideias e o Tim embarcou e expandiu esse conceito por todo o álbum”, conta.

Nessas sessões de gravação, os músicos e o produtor mergulharam em um brainstorm de experimentações que, no final, resultaram em uma obra única que se tornaria uma das principais referências para as bandas de Gothic Rock dali em diante. “A bateria foi a primeira a ser gravada, com a banda tocando as faixas guia DI. Depois, registramos todos os baixos. Tínhamos vários amplificadores configurados e diversas guitarras para escolher. Sentamos na sala de controle para tocar a maioria dos instrumentos e, às vezes, ficávamos em pé na sala de gravação para captar o feedback”, conta.

Especificamente nos registros de guitarra, Hinkler teve a oportunidade de trabalhar cada aspecto dos solos e bases das dez faixas que compõem o disco para que elas refletissem claramente a sonoridade que ele pretendia criar. “Todas as guitarras foram gravadas sem efeitos (que nós adicionamos depois). Rodamos dois reel-to-reels de 24 faixas sincronizados. Muitas dessas partes de guitarra tiveram quatro, seis ou oito performances em pares estéreo, usando guitarras e sons diferentes. Elas tiveram que ser rebatidas em grupos para permanecerem dentro dos limites de 48 faixas. Acho que o álbum definiu The Mission com um novo som diferente de tudo que fizemos antes”, complementa.

Quase quatro décadas depois, o Mission continua lançando material inédito. O mais recente álbum de estúdio do grupo, “Another Fall From Grace”, foi lançado em 2016.

Nos oito anos seguintes, o grupo só gravou alguns singles, entre eles uma regravação do clássico “Tower of strength”, em 2020.

A canção, rebatizada de “ReMission International – TOS2020”, contou com a participação de vários artistas, entre eles o baixista Andy Rourke (ex- The Smiths), os guitarristas Billy Duffy (The Cult), Jay Aston (Gene Loves Jezebel) e Martin Gore (Depeche Mode), e os bateristas Budgie (ex-Siousxie and The Banshees) e Lol Tolhurst (ex-The Cure).

Todos os lucros foram disponibilizados para instituições de caridade, em diversos países, que estavam na linha de frente no combate à pandemia da Covid-19, que dizimou milhões de vidas em todo o mundo. “A pandemia, nossa, que anos esquisitos. Tivemos que cancelar uma longa turnê depois de apenas alguns shows e voltar para casa. Foi uma época horrível. E o pior de tudo, com todas as novas cepas/mutações acontecendo, havia uma sensação de que nunca acabaria. Eu realmente acredito que as pessoas/o mundo mudaram desde então com a incerteza e a insegurança, provavelmente subconscientemente para a maioria. Eu estou definitivamente ciente de estar mais insular desde então”, analisa.

Atualmente, a banda está planejando um novo álbum de inéditas que deve começar a ser gravado no ano que vem. “Estamos dando uma pausa nas turnês e planejamos passar 2025 escrevendo e gravando um novo álbum. Já temos algumas músicas novas que começamos a criar e estamos tocando uma delas nessa turnê”, conta.

Antes da pausa, o The Mission vai completar a fase sul-americana da turnê “D-Tour”, que passará por Argentina, Colômbia e Chile. No Brasil, o grupo também se apresenta no Rio de Janeiro (11) e em São Paulo (13).

O último show na América do Sul acontece justamente em Curitiba, que tem uma das cenas underground mais fortes do Brasil e foi muito influenciada pelo som das bandas inglesas.

Quando vem a capital paranaense, aliás, a estrutura urbana da cidade costuma chamar muito a atenção de Simon. “Lembro de ter ficado impressionado com o quão diferente Curitiba parece, em comparação com o Brasil que todos esperam. Minha primeira impressão foi de que a área na qual estávamos parecia quase uma cidade do centro-oeste dos EUA, com estradas largas e shoppings. Talvez o mais notável seja que o planejamento da cidade oferece parques, árvores na beira da estrada e gramados, o que imediatamente gera uma sensação de bem-estar”, elogia.

Como é possível perceber, apesar da vida agitada que os músicos levam quando estão em turnês, o guitarrista conseguiu perceber algumas características da capital paranaense. “Estou ansioso para estar aí novamente e descobrir mais. Uma das grandes vergonhas de estar em uma banda em turnê é que, embora você viaje para muitos países diferentes, nunca há tempo para ver nada, exceto da janela de um ônibus ou em hotéis e aeroportos”, complementa.

Desta vez, o guitarrista espera que a vinda do The Mission transcorra sem intempéries e que a sinergia com o público, que é tão presente na história do grupo, também se faça presente na capital paranaense. “Gosto muito de estar no Brasil, especialmente em Curitiba, e sou muito grato pela recepção calorosa que vocês nos dão. Estou ansioso por essa turnê. A banda está em ótima forma e será ótimo compartilhar uma atmosfera de celebração com vocês”, finaliza Simon Hinkler.

O show em Curitiba tem realização da produtora AGP Entretenimento. Os ingressos estão à venda na plataforma Bilheto, com valores a partir de R$ 150 + taxa administrativa (meia-entrada).

A meia-entrada é válida para estudantes, maiores de 60 anos, professores, doadores de sangue, portadores de necessidades especiais (PNE) e de câncer.

Na compra do ingresso e na entrada do local, é obrigatória a apresentação do documento previsto em lei que comprove a condição do beneficiário.

A classificação etária é de 18 anos. Menores só entram se estiverem acompanhados dos pais ou responsáveis.

A casa abre às 19h. O Cwb Hall fica na Av. Marechal Floriano Peixoto, 4142, no Hauer.

Aproveite para assinar o Cwb Live, pagando a quantia que você achar justa. É só clicar nesse link da campanha “Eu Apoio o Cwb Live”, que fica hospedada na plataforma Catarse.

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