O novo álbum do grupo remete a um som mais “rural”, uma das paixões do vocalista Fabio Elias
Poucas bandas curitibanas retratam tão bem o jeito de ser dos habitantes da capital paranaense quanto a Relespública.
Afinal, com 33 anos de trajetória, Fabio Elias (guitarra e vocal), Ricardo Bastos (baixo e backing vocals) e Emanuel Moon (bateria) já gravaram várias músicas que são a cara de Curitiba, entre elas, “Garoa e solidão”.
Nesta terça-feira (8), o trio está escrevendo mais um capítulo dessa longa história com o lançamento do álbum “Só Em Si”.
Esse é o 6º trabalho de estúdio da Reles e, apesar de manter a essência da banda, ele apresenta uma sonoridade um pouco diferente do que os fãs estão acostumados.
A continuação da história de um velho personagem
“Só Em Si” é uma espécie de continuação do álbum “As Histórias São Iguais” (2003), um dos trabalhos mais cultuados da Relespública e da música curitibana em si.
O CD, que está sendo lançado pelo selo Volts, foi gravado em maio deste ano no estúdio Áudio Stamp, em Curitiba, com produção artística e musical de Marcelo Crivano e engenharia de som do produtor Virgílio Milléo.
Já a belíssima capa, que mostra a imagem de um mod de costas, trajado com um sobretudo preto (que lembra o próprio Fabio Elias) e a direção de arte ficaram a cargo da artista gráfica Kênia Pouey.
A imagem da capa ainda utiliza as cores e a forma circular que remetem ao The Who e ao próprio movimento mod, além de mostrar um piso que parece fazer referência ao palco do lendário bar curitibano 92 Graus.
O CD foi criado a partir de um roteiro desenvolvido por Fabio Elias e Crivano com a intenção de que as músicas sejam ouvidas em sequência, como acontece com os discos de vinil.
Nesse enredo, o jovem inconformado de “As Histórias São Iguais”, que vivia há quase duas décadas e que hoje estaria perto do 50 anos de idade, é retratado como alguém que acompanhou a evolução (ou involução) do mundo. Porém, uma coisa não mudou: ele continua sendo um desajustado.
A grande diferença é que, dessa vez, ele acredita que o caminho para um futuro melhor está no mantra “olhem pra dentro de vocês” e isso muda a maneira de agir desse personagem. “É um reflexo da minha própria história e de qualquer jovem urbano que viveu o sonho e viu ele se transformar com o tempo e a idade. É sobre teimar em envelhecer e não mudar a essência”, explica Fabio Elias.
A tracklist do álbum tem oito faixas que foram compostas em épocas diferentes. Algumas são canções antigas que falavam sobre a sensação de não pertencer à sociedade da época e outras são músicas novas que foram compostas no período da pandemia.
Nessa parcela das composições que nasceram durante o surgimento da Covid-19, estão algumas indicações que abordam o sentimento conservador que se alastrou pela geração da qual o personagem faz parte.
Dentro dessa realidade, a ideia central é que as promessas de um futuro melhor não se concretizaram e isso fez com que as pessoas se voltassem para o pensamento que os pais e avós tinham.
“Só Em Si” ainda conta com a participação especial dos músicos Mark Cleverson (Hillbilly Rawhide), que toca violino em “Toda manhã”, e Wagner Aleixo (steel guitar na faixa-título e banjo em “Olhe pra dentro de você”).
Essa é a terceira parceria da Reles com o produtor Marcelo Crivano. As anteriores foram em “Sem Ninguém Ao Lado” (2001) e “As Histórias São Iguais” (2003).
Reles desplugada
Outra novidade, e surpresa para os fãs que estão acostumados com o som tradicional da Reles, é que todas as bases das faixas de “Só Em Si” foram gravadas com um violão folk Martin que, de maneira bem simples, foi plugado em um amplificador valvulado Vox AC 30.
Dessa vez, a guitarra só foi usada para gravar os solos e overdubs, captada em linha com os pedais na mesa de som, que ainda passavam por um pré-amp Avalon. “É uma sonoridade diferente de tudo o que eu já tinha feito, mas gostei muito do resultado dessa experiência. Ainda estou me acostumando com esse som, o que torna o lance ainda mais interessante”, conta.
Essa nova configuração gerou uma sonoridade bem na linha do Rock Rural de Sá, Rodrix & Guarabyra e, pasmem, até a uma linha mais sertaneja. O grande exemplo disso é a faixa “Pobre morre no mar”.
A mudança não comprometeu a alma da banda, que continua soando como a Relespública de sempre. Além disso, o peso que Bastos e Moon acrescentam nessa levada mais limpa mantém a pegada do grupo.
“Toda manhã”, por exemplo, que abre o álbum, tem o “clima The Who” que sempre caracterizou o trabalho do grupo e dá o ritmo do que o ouvinte vai sentir nas sete faixas seguintes.
Ao mesmo tempo, essa liberdade criativa que a banda incorporou também retrata a evolução do próprio personagem que é o protagonista do álbum.
Afinal, nessas mais de duas décadas, ele também viveu muitas coisas diferentes e deixou para trás alguns preconceitos musicais. “Eu passei pelo Sertanejo nesses anos todos e resolvemos isso musicalmente dentro da banda. Fiquei muito feliz em ver a cozinha da Reles moendo a cana!”, finaliza Fabio Elias.
Ouça o álbum “Só Em Si” e assista ao vídeo da Relespública tocando “Garoa e solidão” na Zombie Walk de 2020.
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