Splippleman mostrando sua conexão Curitiba/Londres no Jokers Pub

Splippleman mostrando sua conexão Curitiba/Londres no Jokers Pub

 

Texto e vídeos – Marcos Anubis

Revisão e fotos – Pri Oliveira

 

Gravar no estúdio mais famoso do mundo já seria um fato para chamar a atenção. Afinal, o Abbey Road foi a casa dos Beatles e de outros grupos importantes, como o Pink Floyd. Mas, felizmente, não se trata apenas disso. O som do Splippleman é bom, muito bom. No último sábado (24) a banda fez o lançamento de seu debut, “Welcome to the Magic Room – Splippleman at Abbey Road”, no Jokers Pub, em Curitiba.

O quinteto é formado por Lincoln Fabrício (voz, violão), Fábio Serpe (guitarra, violão e backing vocals), Ricardo Bastos (baixo), Emanuel Moon (bateria) e Sérgio Justen (piano, teclados).

O som do grupo reúne influências que vão de Beatles, The Who e passam, pelo menos aos ouvidos deste jornalista, por algumas bandas dos anos 1990, como o Lemonheads e o Ride, no álbum “Carnival Of Light” (1994). “O Lincoln acrescenta influências mais atuais enquanto o Fábio e o Sérgio são fãs de Beatles, então está tudo em casa. Aproveito para tocar um pouco diferente, segurar e enriquecer mais as levadas e fazer algumas experiências diferentes. Mas não consigo me segurar por muito tempo e sempre acho um lugarzinho para exagerar um pouco nas viradas”, diz Moon.

 

London Calling

 

“Welcome to the Magic Room – Splippleman at Abbey Road” é um registro que já nasceu histórico para a música curitibana. O disco foi concebido devido à crença da banda em sua música. Nada caiu do céu, no trabalho do quinteto. Foram os próprios músicos que entraram em contato com o Abbey Road e começaram a viabilizar a gravação do CD.

O processo teve início em 2014. Após a mixagem e masterização da música “Me Myself”, a banda entrou em contato com o estúdio inglês sondando uma possível gravação. “Nos surpreendemos quando verificamos que a possibilidade de alugar o Abbey Road para gravação não era tão absurda quanto pensávamos, pois o preço não difere tanto dos estúdios de ponta aqui do Brasil”, conta Moon.

A partir daí, vendo que o sonho era viável, a banda passou um ano preparando a viagem para a Inglaterra. “Ensaiamos bastante para gravar a maior parte ao vivo, aproveitando ao máximo as 24 horas de estúdio que podíamos pagar”, diz o baterista.

Passada essa fase de preparação era hora de encarar o desafio de gravar todo o CD utilizando o pouco tempo disponível. Mas logo na chegada a Londres, o grupo teve uma recepção no mínimo curiosa, fruto de um mal entendido causado pelo entusiasmo dos curitibanos. “Ao pisarmos no estúdio nós já fomos enxotados pelo segurança, pois estávamos tirando fotos na escadaria sem antes termos nos anunciado”, relembra Moon. Resolvido o impasse, era chegada a hora de transformar o sonho em realidade. “Depois que tudo ficou esclarecido fomos recebidos pelo Cris com a seguinte frase: ‘Welcome to the magic room’, que acabou sendo escolhida para o título do CD”, conta.

Mesmo com o pouco tempo que tinham para gravar, a experiência de estarem no mesmo estúdio por onde passaram nomes como David Gilmour e Paul McCartney acabou marcando os curitibanos de uma forma muito forte. “Foi maravilhoso estar naquele lugar. Conhecíamos cada pedacinho dele (cadeiras, fones, o chão, os equipamentos) por meio das fotos. Foi a realização de um sonho para todos. E como se não bastasse, ainda vimos um show do The Who e dos Stones. Além disso, a Reles ainda se apresentou em um pub local”, conta Moon.

O nome Splippleman veio por meio de um personagem criado pelo filho de Lincoln. “Ele acabou ganhando ‘vida’ por meio do Gladson Targa quando ele foi convidado para fazer uma arte para o single de ‘Me Myself’ e também para o nosso EP”, conta Moon.

O clipe de “Me Myself”, aliás, chama muito a atenção pela canção e pela animação que foi criada para o personagem. O trabalho foi realizado pela Cia de Canalhas. “Nós já tínhamos gravado quatro músicas no estilo ‘ao vivo correndo no estúdio’ e o Lincoln apareceu com a ‘Me Myself’ e a ideia de mixar no Abbey Road, por meio do site do estúdio”, revela o baterista.

A música então foi gravada no Audio Stamp, em Curitiba, e enviada para ser mixada e masterizada por Cris Bolster no Abbey Road. “Ali começou o nosso contato com o estúdio. O resultado foi tão fantástico, tanto pela qualidade da música como da gravação e mixagem, que resolvemos ‘descartar’ as gravações anteriores e trabalhar somente o single, preparando um clipe”, diz. Faça uma visita virtual em 360 º ao Abbey Road neste link disponibilizado pelo Google.

Veja abaixo nosso álbum de fotos no show do Splippleman no Jokers Pub.

 

Ecos da Reles

 

Musicalmente, é normal um instrumentista ficar ligado à sua banda. Moon e Ricardo estão há 25 anos na Relespública, ao lado do guitarrista e vocalista Fabio Elias, e a história deles como músicos fica obviamente conectada com o trio. “A Reles é um pouco diferente porque nós três crescemos tocando e ouvindo música juntos, então as influências são praticamente as mesmas. Claro que cada um com suas preferências particulares”, diz o baterista.

Moon teve poucas experiências musicais fora da Reles. Nos anos 1990 ele faz parte do Intruders, ao lado de JR Ferreira e Coelho. O trio foi um dos melhores grupos da saudosa década de noventa, quando Curitiba chegou a ser chamada de “Seattle brasileira”, por conta do grande número de bandas e de uma cena musical que estava em evidência. “Mais recentemente, durante a parada da Reles, toquei com o Chicafina e com os Fanfarrones dos queridos Fernando e Walter, integrantes do Eles Mesmos. Todos sempre foram Rock’n’Roll, às vezes um pouco mais Punk, Blues ou Rockabilly, mas não me atrevo a tocar outra coisa”, afirma.

Durante essa período sabático da Relespública, surgiu o Splippleman. “As influências não são tão diferentes. Somente algumas músicas têm uma pegada mais Pop”, analisa. “Eu me criei como baterista tocando na Reles, por isso meu estilo de tocar é mesmo muito ‘Reles’ (risos)”.

 

Repercussão internacional

 

O Splippleman já começa a colher os frutos de sua ousadia. O single “X-Ray Riff Machine”, que abre o álbum “Welcome to the Magic Room – Splippleman at Abbey Road”, foi indicado aos prêmios de Melhor Canção de Rock e Melhor Gravação de Rock no Indie Music Channel Awards, um conceituado portal de música independente nos Estados Unidos.

Ao ouvi-la é possível perceber o porquê de ela ter chamado a atenção internacionalmente. Bem construída, a melodia possui um riff marcante que recebeu elogios até nos estúdios Abbey Road. “Quando nós começamos a gravar essa música o pessoal do estúdio nos mandou parar e nós ouvimos eles dizendo: ‘nice riff, man, wow’. Foda!”, contou Lincoln no show do Jokers.

Devido à indicação, o grupo acabou sendo convidado para acompanhar a cerimônia de entrega do prêmio, que aconteceu no famoso Whisky a Go-Go, em Los Angeles. “Não ganhamos, mas nos deu confiança para prosseguir com o projeto do CD”, diz Moon.

Com esse aval, nada mais inteligente do que procurar caminhos fora do país. Como as músicas da banda são em inglês, o Splippleman tem investido na divulgação do CD em sites internacionais. “É um trabalho que o Fabio Serpe e o Lincoln fazem constantemente e que, para nossa surpresa, rende estes frutos inesperados”, revela Moon.

Em um sempre tortuoso cenário musical curitibano, o Splippleman pode estar mostrando outro caminho para as bandas locais. Investir em um bom produto e divulgar a sua música em outros países pode ser viável e abrir portas para os artistas locais.

Enquanto isso o quinteto continua a divulgação de “Welcome to the Magic Room – Splippleman at Abbey Road” e vai preparando novas canções para o próximo álbum, que também deve ser gravado no estúdio inglês. “Nosso trabalho é bem de formiguinha. A banda é uma satisfação pessoal de cada um e também uma necessidade de fazer um trabalho de qualidade para quem ainda quiser ouvir um bom Rock’n’Roll”, finaliza Moon.

Veja três vídeos do show do Splippleman no Jokers: “X-Ray Riff Machine”, “Running To say Goodbye” e “Feel Sorry”.