O show na capital paranaense faz parte da turnê “Nós Somos Família”

Algumas bandas internacionais fizeram, e ainda fazem parte da cena underground curitibana de uma maneira muito forte.

Nos anos 1980/90, por exemplo, o skate (e o freestyle com a Caloi Cross e a BMX) eram muito fortes na capital paranaense, principalmente, nas pistas do Ambiental II e da Praça do Gaúcho.

Naquela época, as sessions dos jovens eram turbinadas por alguns álbuns repletos de peso e representatividade.

Nessa lista, estavam “Licensed to Ill” (1986), dos Beastie Boys, e a lendária trilha sonora do filme “Judgment Night” (1993), que tinha diversas músicas gravadas por parcerias inusitadas, entre elas “I love you Mary Jane” (Sonic Youth e Cypress Hill), “Disorder” (Slayer e Ice-T) e “Just another victim” (Helmet e House of Pain).

O Suicidal Tendencies era uma das bandas mais cultuadas por essa turma e, por isso, no show que o grupo fez nesse domingo (14), no Tork N’ Roll, o público curitibano lotou praticamente a casa para assistir à gangue do vocalista Mike Muir.

A apresentação faz parte da turnê “Nós Somos Família”, que também passou por São Paulo e Rio de Janeiro e, agora, segue para Porto Alegre e Belo Horizonte.

A abertura da noite coube aos grupos Mustaphorius (Curitiba), Eskröta (São Paulo) e Bayside Kings (Santos).

Mike Muir (vocal), Ben Weinman e Dean Pleasants (guitarras), Tye Trujillo (baixo) e Jay Weinberg (bateria) abriram o show com “You can’t bring me down”, do álbum “Lights… Camera… Revolution!” (1993), um dos maiores clássicos do grupo.

Logo de cara, o público abriu uma roda que tomava conta de toda a área em frente ao palco do Tork, terminando na house mix! O mais impressionante é que os cycos curitibanos fizeram com que ela tivesse a mesma intensidade durante toda a apresentação.

Além do foco em Mike Muir (o único integrante original que ainda faz parte da banda), a atenção do público também estava voltada para o garoto Tye Trujillo, de apenas 16 anos!

A curiosidade se justifica porque, como o próprio nome já entrega, ele é filho de Robert Trujillo, o baixista da formação clássica do Suicidal Tendencies que, atualmente, faz parte do Metallica.

No setlist do show, o ST brindou o público com músicas de praticamente todas as fases da banda. Entre elas, “I saw your mommy…” e “I shot the Devil”, do autointitulado álbum de estreia do grupo, lançado em 1983, e “Cyco vision”, do disco “Freedumb” (1999).

“War inside my head” foi um dos pontos altos do show, cantada por todo o público em uma roda de pogo que deve ter feito Mike Muir sentir orgulho dos fãs curitibanos.




Um Cyco no jornalismo esportivo curitibano

André Pugliesi é conhecido por ser um dos mais talentosos e bem informados jornalistas esportivos de Curitiba.

Profissionalmente, ele trabalhou durante 18 anos no jornal Gazeta do Povo e foi o responsável por algumas das mais importantes iniciativas do portal dentro dessa editoria.

Porém, poucos sabem que André é fanático pelo Suicidal Tendencies e chegou até a criar um blog especializado na trajetória dos Cycos de Venice.

Essa história começou ainda na adolescência, quando André, da mesma maneira que muitos jovens curitibanos da época, costumava arriscar uns “rolês” de skate, quase sempre embalados pela poderosa trilha sonora do ST.

Naqueles tempos, o saudoso walkman, posteriormente substituído pelo maldito e trepidante CD Player, era o companheiro nas sessions no Jardim Ambiental II e, invariavelmente, as fitinhas azuis da Sony oriundas do Paraguai eram devidamente carregadas com sons do Suicidal.

A guinada definitiva nessa conexão aconteceu em 2009, quando André quebrou o braço esquerdo em três lugares quando estava disputando uma aparentemente inofensiva peleja futebolística.

Por causa desse infortúnio, a prática esportiva foi deixada de lado, momentaneamente, e o jovem teve que arrumar uma maneira de passar o tempo.

A solução foi começar a fazer uma profunda pesquisa sobre o Suicidal, na tentativa de entender como a banda surgiu e se desenvolveu. “O início do ST, lá nos anos 1980, sempre foi muito obscuro e poucas informações estavam disponíveis. A gente só conhecia o que vinha nos encartes dos discos e CDs”, conta.

Nesse mergulho na história do grupo, ele acabou vasculhando o jurássico Myspace (o precursor das plataformas de música digital) e localizou o perfil do baixista original e integrante fundador do Suicidal, Louichi Mayorga.

Após entrar em contato com o músico, André disse que, se fosse a Los Angeles em alguma ocasião no futuro, gostaria de conhecer o ídolo.

No fim desse papo, Louichi acabou passando o telefone da casa dele para o fã brasileiro e deixou no ar a possibilidade de que esse encontro improvável poderia realmente acontecer.

Um ano depois, Pugliesi desembarcou na Cidade dos Anjos, em uma viagem de férias ao lado de um amigo, e resolveu colocar em xeque aquele papo.

Para isso acontecer, o jornalista foi até um telefone urbano no qual as pessoas usavam moedas para fazer as ligações (o bisavô dos smartphones), ligou para Louichi e disse que estava na área.

Para surpresa do jovem brasileiro, o baixista foi enfático: “Venham para cá amanhã, nós vamos fazer um churrasco”!

No dia seguinte, a dupla curitibana seguiu de carro para o habitat natural do Suicidal, o distrito de Venice, na Califórnia, sem ter a mínima ideia do que encontrariam.

Chegando lá, Louichi foi extremamente atencioso e fez questão de conhecer a história daqueles dois jovens brasileiros.

Além disso, o músico estadunidense dividiu com os curitibanos várias as lembranças e relíquias do Suicidal que foram vivenciadas de 1982 a 1987, período no qual o baixista fez parte da banda californiana.

Mayorga gravou apenas o álbum de estreia do ST, autotitulado, em 1983, e “Join the Army” (1987), mas a contribuição do baixista foi essencial para definir o estilo que o grupo seguiria dali para frente.

A saída de Louichi também foi um marco na trajetória da banda, afinal, os companheiros Grant Estes (guitarra) e Amery Smith (bateria) também resolveram se retirar e isso fez com que o vocalista Mike Muir precisasse reformular quase completamente o grupo.

Obviamente, os dois jovens viveram umas das tardes mais marcantes da vida deles, porque não é sempre que um fã tem a oportunidade de conhecer pessoalmente um ídolo, ainda mais, em outro país e na própria casa do músico!

Voltando ao show em Curitiba, o baterista Jay Weinberg (ex-Slipknot), o baixista Tye Trujillo e os guitarristas Ben Weinman e Dean Pleasants, cuidaram para que o peso e o groove da banda soasse alto nos alto-falantes do Tork.

Porém, não há como negar que o vocalista Mike Muir é o que mais chamou atenção porque, mesmo aos 61 anos, ele ainda mantém o mesmo entusiasmo dos anos 1980, correndo de um lado para o outro do palco.

Nos raros momentos de descanso, o cantor tomava alguns goles em copos vermelhos que continham um líquido misterioso e, como se fosse um pugilista, cuspia parte da bebida em um pequeno balde posicionado em uma mesinha atrás dos P.A.s.

Na sequência, ele retomava a maratona frenética sem demonstrar o peso da idade. “É sempre impressionante ver como o Mike Muir consegue manter o estilo que o consagrou como um dos mais significativos frontmans do Metal”, opina Pugliesi.

Todo esse entusiamo de Muir ainda arrebata fãs, inclusive, entre os jovens, pois eles percebem que a entrega do vocalista do palco vem realmente do fundo da alma. “De alguma forma, eles continuam com uma certa relevância que vai além do passado de um dos conjuntos mais influentes do gênero”, analisa.

Outro momento marcante, por toda a conexão que o esporte tem com a cidade de Curitiba, foi “Possessed to skate”, do álbum “Join the Army” (1987).

Além dessa peculiaridade, a relevância dessa música se torna ainda mais forte porque Mike é irmão de Jim “Red Dog” Muir, uma das lendas do skate californiano e integrante da equipe Z-Boys, formada por grandes nomes do esporte naquela região.

Em “Nós somos família”, Mike chamou ao palco as integrantes da banda Eskröta para que todos cantassem juntos a canção, gravada como uma homenagem aos fãs brasileiros.

O single, lançado no dia 5 de julho, contou com a participação de Badauí (CPM22), B. Negão (Planet Hemp), João Gordo, Rodrigo Lima (Dead Fish), Supla, os campeões mundiais de Skate Sandro Dias e Pedro Barros, Fernanda Lira (Crypta), Marcão Britto e Thiago Castanho (Charlie Brown Jr.) e diversos músicos da cena underground nacional.

“Pledge your allegiance”, do álbum “How Will I Laugh Tomorrow When I Can’t Even Smile Today” (1988), encerrou o show, com o palco sendo tomado por fãs que subiram para cantar e se divertir com a banda.

A apresentação acabou com uma nítida demonstração da forte relação que o Suicidal Tendencies tem com os fãs brasileiros.

Afinal, em todo o mundo, o Brasil (e Curitiba, especialmente) possui um longo histórico de receptividade e carinho para com os Cycos da Califórnia.

Assista ao vídeo de “You can’t bring me down”, gravado ao vivo no show do Suicidal Tendencies, no Tork N’ Roll, em Curitiba.

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