Texto: Marcos Anubis
Fotos e revisão: Pri Oliveira
Interpretar a obra de outro artista não é uma tarefa fácil. É preciso confiança e ousadia para que o cover não caia no lugar comum e seja uma versão piorada da original. Neste domingo (21) no Teatro Guaíra, em Curitiba, o cantor, músico e compositor maranhense Zeca Baleiro deu uma aula de como fazer uma homenagem de uma forma profunda e inspiradora.
O convite para interpretar a obra de Zé Ramalho foi feito em 2013 pelos curadores do projeto Banco do Brasil Covers. Mesmo se sentindo honrado pela oportunidade, a princípio Zeca ficou reticente em aceitar. A partir desse momento o compositor mergulhou na obra de Ramalho e tomou a decisão de recriar algumas das pérolas da MPB. “Me senti um pouco desafiado a tornar um pouco minha a obra do Zé”, disse Zeca durante a apresentação no Guaíra.
A princípio seriam realizados apenas 9 shows, mas no último, em Salvador, Zeca resolveu registrar o projeto em um CD/DVD o que justificou a prorrogação da tour.
O show
Pouco depois das 21h, as cortinas do palco do Guaíra se abriram para Zeca e sua banda: Tuco Marcondes (guitarra, violão, cítara, banjo e bandolim), Fernando Nunes (baixo), Pedro Cunha (teclados, samplers, sintetizadores e acordeon), Adriano Magoo (teclados, samplers, sintetizadores e acordeon) e Kuki Stolarski (bateria e percussão).
“Ave De Prata” abriu a apresentação. Na sequência Zeca apresentou releituras de várias canções importantes na carreira de Zé Ramalho, como “A Terceira Lâmina” e “Kriptônia”. Todas as músicas foram recriadas por Zeca e sua banda e transformadas em arranjos belíssimos. Isso fez com que clássicos como “Garoto De Aluguel”, “Táxi Lunar” e “A Dança Das Borboletas” renascessem em novas versões.
Um fato que chamou muito a atenção durante o show foi a capacidade que Zeca teve de mergulhar de forma profunda no universo de imagens criado por Zé em suas letras. Ramalho carrega uma aura ao estilo Bob Dylan, pois em sua obra ele consegue retratar por meio das palavras histórias que mexem com o imaginário do ouvinte.
Essa imersão fez com que Zeca Baleiro conseguisse dar a sua cara ao repertório e tomasse para si, durante o show, algumas das mais belas páginas da MPB.
Um dos momentos mais emocionantes do show foi “Vila Do Sossego”. Antes da música, Zeca relembrou a primeira vez em que ouviu uma música de Zé Ramalho e pediu que o público lhe desse um sinônimo em “curitibanês” para a palavra “admiração”. “Tesão, piá!”, disseram os fãs. Zeca riu e emendou: “Mas não foi tesão que eu senti pelo Zé, foi outra coisa”. Na sequência, ajudado pelo público, ele entendeu e incorporou o sentido da expressão usada na capital paranaense.
Durante a música um telão posicionado atrás do palco exibiu três gigantescas imagens religiosas, compondo um belo cenário para a execução de um dos maiores sucessos de Zé.
Outro destaque foi “Avôhai”, cantada por toda a plateia com muita emoção. No final as cortinas do palco se fecharam e quando se abriram novamente Zeca retornou apenas com um ukelelê tocando “A Serpente E A Estrela”. Na sequência Zeca disse que abriria uma exceção e cantou “Telegrama”, a única canção do show que faz parte de seu repertório autoral.
“Frevo Mulher”, cantada em dueto com a plateia, encerrou uma noite realmente especial no Teatro Guaíra. No final Zeca e a banda desceram do palco e foram para o meio do público cumprimentar os fãs, de forma muito carinhosa.
Simpatia e inteligência
Zeca nos concedeu uma entrevista exclusiva pouco antes de subir ao palco do Teatro Guaíra. Nela, ele fala sobre como foi o processo de imersão no mundo poético cheio de imagens metafóricas de Zé. Ele também abordou a importância dos parceiros musicais que o acompanham desde o início de sua carreira, entre eles o cantor Fagner.
A simpatia ao atender a imprensa e a forma inteligente com que Zeca responde as perguntas mostram um perfil de um grande artista. Confira três músicas do show: “Vila Do Sossego”, “Admirável Gado Novo” e “Avôhai”.
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