Texto: Marcos Anubis
Foto: Maurilio Vicente

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O músico, cantor e compositor curitibano Vini Sant lança nesta sexta-feira (3), no Espaço Fantástico das Artes, o seu primeiro EP. “Desassossego” é composto por cinco faixas que apresentam influências da MPB com algumas nuances de Música Eletrônica.

O trabalho de Vini lembra um pouco o do cantor e compositor Tony Tornado, com uma mistura de psicodelia, brasilidade e poesia. Apesar de não ser uma influência direta, Vini acredita que o EP carrega certa “aura” da obra de Tony. “Acho que ele é uma referência inconsciente nesse trabalho. Eu não me inspirei diretamente nele, mas ele está no imaginário coletivo e isso, de uma forma ou de outra, acaba chegando no resultado do trabalho. O Tony Tornado é uma grande artista brasileiro”, explica Vini.

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“Desassossego” foi produzido por Renan D’Ávilla e Pablo Dalmaso. A gravação foi realizada no WS Studio, com o produtor Felipe Bidê, e no home Studio de Renan. No resultado final, a mixagem deixou o som do EP bem atual, principalmente pelas camadas de guitarra sobrepostas que criam uma base densa para os vocais. “Eu admiro muito as linhas de guitarras do Pablo e acho que casou muito bem com as guitarras e os arranjos do Renan. Isso contribuiu muito para alcançar resultados como o da música ‘Escorpião’, que é um Tango/Blues eletrônico. No geral, nós tínhamos referências parecidas e isso fez com que o trabalho tivesse uma linguagem bem definida”, diz. A capa do EP foi criada pelo artista gráfico Julian Grunnüp.

As influências mais fortes na concepção do primeiro trabalho de Vini Sant foram os CDs “Tropix” (2016), da cantora Céu, e “Recanto” (2011), de Gal Costa. As cinco canções do EP foram compostas por Vini e, posteriormente, trabalhadas com os produtores. “Eu compus as letras, melodias e harmonias sozinho. O restante do trabalho é fruto de muita conversa, das trocas de ideias que tive com o Renan e com o Pablo. Eu mostrei as músicas no formato voz e violão para os dois e lembro que uma das coisas que eu falei para eles foi que eu queria uns ‘eletrônicos’ nas canções”, diz.

Além da parte instrumental, Vini também revela uma preocupação com as letras das músicas. “Eu gosto de músicas que, quando eu fico algum tempo sem ouvir e depois volto a escutar, elas me surpreendem com referências que eu não tinha ou com palavras em que eu não havia prestado atenção. Para compor, eu sempre parto de uma ideia para a letra. Pode ser uma história que eu vivi, algo que eu vi ou alguma analogia que eu quero fazer para explicar algo”, explica.

Reunindo essas experiências, Vini tenta transmitir algum tipo de mensagem por meio dos textos, de acordo com a percepção do ouvinte. “Eu acredito muito em boas letras, independentemente do estilo musical que você faça. Apesar de as pessoas me dizerem que quase ninguém presta atenção nas letras, eu continuo tentando oferecer letras que façam pensar as pessoas sentirem algo. Eu tenho certa ‘facilidade’ para criar melodias, então, eu aproveito e tento me esforçar para fazer uma boa letra também”, conta.

Vini é formado em Música Popular pela Universidade Federal do Paraná e é técnico em teatro, graduado pelo Colégio Estadual do Paraná. Ele também integrou o Grupo de MPB da UFPR, com o qual gravou o CD “Terra de Pinho II”, cantando a música “Canção de aluguel”, da poetisa Etel Frota. Com o grupo, ele participou dos espetáculos “Criança de Mim” (2012), “Terra de Pinho II” ( 2013), “À Brasileira” (2014) e “Lilás” (2015). Entre 2012 e 2016, Vini fez parte da banda Lasciva.

Toda essa vivência no ambiente teatral ajudou a construir alguns aspectos do trabalho musical de Vini. “O teatro me ensinou a estar no palco como artista, me ‘libertou’ para que eu criasse a minha própria performance no show. No começo, eu era muito tímido, então, eu cantava parado no palco, mas eu adoro dançar, pular e tentar falar com o corpo, também, e foi o teatro que me abriu essa porta. Hoje, eu subo no palco e danço, me jogo no chão ou danço com o público. Foi o teatro que me deu essa liberdade com a consciência corporal que ele ensina”, explica.

Vini Sant está iniciando uma trajetória em um cenário cheio de armadilhas, afinal, Curitiba é uma cidade sempre complicada para os artistas autorais. “Curitiba é complicada para a música autoral porque o público quer ouvir os ‘rocks clássicos’ e, então, a cidade está há anos tocando as mesmas músicas. Paralelamente, tem um pessoal que já fez e/ou faz muito pela cena autoral. Acredito que a minha missão é tentar juntar quem está fazendo a cena, quem está produzindo um bom material autoral, e tentar trabalhar junto”, analisa.

Essa união de forças, na visão de Vini, é necessária para construir uma cena mais forte. “O processo já começa com o fato de eu chamar a Victoria Mendes e o Rodrigo Zin, que são dois bons cantores e compositores que estão buscando espaço, para mostrar suas músicas ao vivo. Trazer o Zin para esse show também é flertar com o Hip Hop e o Rap, estilos que desde os anos 2000 têm feito a função questionadora do Rock. O que eu quero dizer com tudo isso é que não dá para esperar pelas casas de show. O que temos que fazer é criar o nosso próprio espaço para fazer as nossas músicas. Só assim nós sobreviveremos em meio aos covers”, complementa.

Para a estreia de hoje, Vini procurou construir um roteiro que vai além das músicas do EP. “Depois que o ‘Desassossego’ ficou pronto, eu precisei pensar em como seria esse show. Eu queria que ele contasse uma história por meio das músicas e que tivesse um repertório brasileiro. Como o meu EP deve ter no máximo vinte minutos, eu precisei complementar com outras músicas. Então, eu fui nas minhas referências e busquei o que é o ‘Desassossego’ em Caetano Veloso, Jards Macalé, Gal, Liniker e o As Bahias e a Cozinha Mineira. Ou seja, eu conto a trajetória do personagem que vive esse desassossego e quem me ajuda a contar são esses outros artistas”, explica.

Os ingressos para o show desta sexta-feira (3) no Espaço Fantástico das Artes custam R$ 15 e podem ser adquiridos no local. A apresentação começa às 20h30 e a classificação etária é de 16 anos. A discotecagem será do DJ Julian Grunnüp, que também estará expondo algumas de suas obras. O Espaço Fantástico das Artes fica na Alameda Princesa Izabel, 465, no São Francisco. “A minha expectativa é de que eu consiga contar essa história, apresentar um bom show e que as pessoas consigam fazer essa viagem junto comigo e com os músicos que me acompanham, que são o Renan D’Ávila e o Pablo Dalmaso (guitarras), o Rafael Bueno (baixo) e o Caio Marcel (bateria)”, finaliza Vini Sant.

Ouça o EP “Desassossego”.