Texto: Marcos Anubis
Revisão: Pri Oliveira
Fotos: Jonas Tucci

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A conexão emocional ou até espiritual ao interpretar uma canção é essencial para um artista se diferenciar. Mergulhar na atmosfera da música que está sendo cantada ou tocada, porém, não é uma característica tão comum em um mercado fonográfico cada vez mais descartável.

Destaque da nova geração da MPB, o cantor e compositor gaúcho Filipe Catto interpreta suas canções de uma forma bem intensa. “Eu sou um cantor visceral. No palco, sempre gostei de me despir ao máximo das amarras. Com o ‘Tomada’, isso se intensificou mais. Eu gosto que a música me arrebate no palco porque, só assim, eu posso contagiar o público a sentir isso também”, diz Filipe.

Nesta sexta-feira (13), sábado (14) e domingo (15), Filipe Catto se apresentará na Caixa Cultural Curitiba. Os shows fazem parte da turnê divulgação do seu mais recente álbum, “Tomada” (2015).

As três apresentações serão em uma casa com menor capacidade de público (125 pessoas). Essa proximidade com os fãs, certamente, tornará a performance ainda mais especial. “Fazer um show em um lugar intimista torna o show muito mais catártico. É uma oportunidade da gente se despir de uma forma única na frente do público. Eu já fiz várias vezes o ‘Tomada’ nesse formato intimista e sempre é muito gostoso porque vira uma celebração pessoal com aquelas pessoas. Eu acho um barato”, diz.

A banda que acompanhará Filipe nos três shows é formada por Ana Karina (baixo e vocal), Faba (guitarra), Lucas (piano e teclado) e Michelle (bateria). O quarteto está ao lado do vocalista há mais de um ano, viajando o Brasil com a nova turnê. “A banda é fundamental para construir tudo quando a gente está no palco. Nós temos uma relação muito próxima. Os meninos estão comigo desde o início desta turnê. Já fizemos novos arranjos, incluímos novas músicas durante esse período e eles são de uma assistência e um companheirismo sem igual”, elogia.

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Uma carreira curta, mas muito produtiva

A vida artística de Filipe Catto começou ainda na infância, cantando em bailes e festas com seu pai. Profissionalmente, sua carreira teve início em 2006. Dois anos depois, ele montou o show “Ouro e Pétala”, ao lado do diretor João Pedro Madureira. Em 2009, foi lançado seu primeiro EP, “Saga”, que foi disponibilizado para download gratuito pela internet.

Em 2011, a faixa-título de seu debut foi incluída na trilha sonora da novela Cordel Encantado. No mesmo ano, Filipe lançou seu primeiro álbum, “Fôlego” e, em 2013, o CD/DVD ao vivo “Entre Cabelos, Olhos e Furacões”.

Os mais de dez anos de estrada percorridos pelo cantor até hoje formam uma carreira ainda relativamente curta, mas com bastante produção. Atualmente, sua evolução como intérprete e compositor pode ser sentida em seu novo álbum.

Na visão de Filipe, “Tomada” reflete melhor a sua forma de compor e de se expressar por meio de suas canções. “Ele é um disco que contempla melhor quais são as minhas aspirações, meus desejos artísticos e o fato de compor em parceria, que é uma coisa nova nesse disco. E, principalmente, a função de intérprete das minhas próprias canções e das músicas de outros compositores. Eu me realizo muito no palco cantando as canções. O ‘Tomada’ é um show extremamente intenso, o mais intenso que eu já fiz”, afirma.

Apesar de ter nascido em Lajeado, no interior do Rio Grande do Sul, Filipe foi criado em Porto Alegre. A capital gaúcha, desde os anos 1970, é berço de um cenário musical fantástico.

Ali nasceram várias bandas e artistas que são referências tanto no mainstream quanto no underground, como o recém-extinto Defalla, o cantor, músico e compositor Nei Lisboa e o grupo Engenheiros do Hawaii.

Esse ambiente criativo teve um forte impacto na carreira de Filipe que, inclusive, já gravou versões para músicas de alguns desses artistas, entre eles Nei Lisboa, Apanhador Só e Cachorro Grande. “Porto Alegre me influencia até hoje. Eu estou sempre em contato com os compositores e artistas e tentando saber o que está acontecendo lá”, diz.

A ligação da música gaúcha com outros países da América do Sul também ajudou a construir os conceitos musicais que Filipe carrega consigo. “A cidade me alimenta muito. Porto Alegre tem uma atmosfera diferente. Nós temos uma cultura muito virada para o eixo sul da América Latina. Então, os artistas latino americanos (do Uruguai e da Argentina, por exemplo) passam bastante por lá e isso também formou muito a minha estética. O Tango e a Milonga estão dentro da minha música de uma maneira muito forte”, complementa.

Filipe usa a sua voz de contratenor de forma eclética. Suas músicas abrangem vários estilos, entre eles o Samba-canção e o Blues. Sua base, entretanto, está na MPB.

A Música Popular Brasileira sempre foi um celeiro de artistas talentosíssimos. Porém, nas últimas décadas, a preocupação com o texto das canções de um dos estilos que mais representa o país parece ter ficado em segundo plano.

Sem compactuar com essa banalização da arte, Filipe acredita que ainda é possível alcançar o grande público sem perder a preocupação com a qualidade das letras e harmonias. “A MPB está em um momento de grandes compositores, intérpretes e letras. Temos que nos preservar, tentar ser cada vez mais sinceros e mais verdadeiros, sem nos preocuparmos tanto em como atingir ou como chegar na mídia ou no grande público. Essa é a nossa função. O que eu sinto é que, hoje, o público está encontrando a MPB por meio da internet e isso está fortalecendo e aumentando muito o nosso público”, analisa.

Inquieto, Filipe ainda não está trabalhando no sucessor do álbum “Tomada”. No momento, o cantor tem procurado aproveitar a turnê de seu mais recente CD. “Estou sempre em busca de repertório, sempre ouvindo coisas e informalmente, de forma natural, absorvendo conteúdo e compondo. Tem um instante em que isso se torna algo, mas ainda não estou nesse momento. Ainda estou curtindo a turnê do ‘Tomada’, que eu quero que continue durante todo esse ano de 2017”, explica.

Aos poucos, as ideias que farão parte de seu próximo trabalho vão surgindo. “De uma forma muito suave e sutil, eu já estou coletando coisas para que as músicas comecem a me dizer o que tenho que fazer. Eu inverti o fusível, não estou mais tão preocupado com o que eu quero dizer. Estou mais preocupado em poder receber essas canções e interpretá-las da melhor maneira possível para que elas me digam qual será a estética do álbum, a atmosfera e o conceito”, complementa.

A grande inspiração

A maior influência na carreira de Filipe talvez tenha sido a cantora Cássia Eller. Dona de uma voz rouca e potente, que representava a atitude Rock‘n’roll dentro da MPB, ela marcou a vida do vocalista gaúcho de forma muito forte. “A Cássia me influenciou muito musicalmente porque eu a via na TV e achava que era uma figura muito interessante e deslocada, diferente de tudo o que eu tinha visto. E, como eu me sentia também muito deslocado, a Cássia era um exemplo, uma força. Especialmente quando eu mergulhava no repertório dela, nas canções que me influenciaram muito a olhar para a música brasileira de uma forma diferente. Acho que a Cássia foi a artista que me trouxe a MPB. Foi por causa dela que comecei a me expressar, também”, conta.

A importância de Cássia na música brasileira vai além de sua musicalidade. Afinal, atualmente, personalidades contestadoras e sem medo de dizer o que pensam estão em extinção no cenário musical do país. “Artistas como a Cássia são aqueles seres que passam muito raramente no planeta, aliando tudo o que é de música, comportamento e importância social. Ela trouxe, de uma forma muito natural, espontânea e verdadeira, muitas transformações. Até mesmo depois da morte da Cássia, quando a guarda do filho ficou com a esposa dela. Isso foi um grande marco para todos, para os direitos gays”, afirma.

As apresentações de Filipe Catto acontecem de sexta (13) a domingo (15) na Caixa Cultural Curitiba. “Eu amo Curitiba! Estou sempre aí! Tenho muita gratidão de sempre ser chamado para fazer meus shows em Curitiba e ter esse público que eu adoro. Com alguns fãs eu tenho até uma relação mais próxima, de tanto que já fui aí e isso é muito lindo. Estou feliz demais em poder estrear 2017 com shows em Curitiba”, finaliza.

Os bilhetes custam R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada). Correntistas que pagarem com cartão de débito Caixa têm direito à meia-entrada. A compra também pode ser feita com o cartão vale-cultura.

Os ingressos podem ser comprados na bilheteria da Caixa Cultural Curitiba. Os horários de atendimento são: de terça a sábado, das 12h às 20h, e aos domingos, das 16h às 19h.

Na sexta-feira (13) e sábado (14) as apresentações começam às 20h. No domingo, o show terá início às 19h. a classificação etária dos shows é de 14 anos. A Caixa Cultural Curitiba fica na Rua Conselheiro Laurindo, 280, no Centro.