O baixista do trio curitibano Os Catalépticos faleceu nessa segunda-feira (30), mas deixou um grande legado de paixão à música



Mais do que nunca, o Psychobilly está em toda parte. O título de uma das músicas mais emblemáticas do trio curitibano Os Catalépticos, que faz parte do álbum de estreia do grupo, “Little Bits of Insanity” (1998), resume bem o sentimento dos fãs da banda nesse momento.

Nessa segunda-feira (30), o baixista dos Catalépticos, Gus Tomb (52), morreu de maneira inesperada. No início de agosto, ele tinha sido internado por causa de um problema no fígado, mas estava se recuperando.

Porém, como a família estava com Covid, os médicos acharam que não era seguro voltar e terminar a recuperação em casa. Apesar dos cuidados, Gus acabou contraindo a doença dentro do hospital e faleceu por causa de complicações causadas pela enfermidade. O enterro aconteceu nessa terça-feira (31), no Cemitério Água Verde.



Três amigos e um só objetivo

Juntos, os Catalépticos Vlad Urban (vocal e guitarra), Gus Tomb (baixo) e Mutant Cox (bateria e vocal) construíram uma história que nem o mais criativo roteirista poderia imaginar.

Afinal, o grupo nasceu de maneira despretensiosa e acabou se tornando um dos maiores nomes da história do Psychobilly. “No começo da banda, a ideia do Gus era só fazer um som diferente, talvez gravar ou participar de uma coletânea. Ele não pensava nem em fazer shows. No fim, nós acabamos criando um estilo e fizemos muitas coisas legais”, diz Mutant Cox.

Os três músicos curitibanos montaram a banda em 1996, conquistaram o mundo, e encerraram as atividades em 2006, no auge do grupo.

A volta aos palcos, com um show lotado no Jokers Pub, em Curitiba, aconteceu em 2017. Leia neste link a nossa cobertura da apresentação.

Antes de começar a trabalhar com os Catalépticos, Gus Tomb fez parte do Paz Armada e dos Missionários (banda curitibana que foi uma das pioneiras do Psychobilly brasileiro). Posteriormente, após o fim do trio, em 2006, Gustavo participou do Mão de Ferro.

Nesses 25 anos de trajetória, além de participarem de diversas coletâneas, os Catalépticos lançaram os álbuns “Little Bits of Insanity” (CD – 1998), “From Beyond the Grave” (EP – 1999), “Zombification” (CD – 2000), “Psychopath Fever” (EP – 2003), “One More Tattoo” (CD – 2005), “Morto Ao Vivo – Ao Vivo Na Garagem Que Grava” (CD – 2005), e “Hungry For Meat, Thirsty For Blood” (EP – 2019).

O grande diferencial dos Catalépticos foi a atitude de quebrar a linha tradicional do Psychobilly e incorporar elementos de estilos musicais mais pesados, entre eles, o Heavy Metal, o Hardcore e o Punk.

Com essa coragem de ser diferente, o trio passou a fazer um Power Psychobilly extremo que se tornou referência para várias bandas ao redor do mundo. “Eram três meninos descobrindo o mundo por meio da música. Isso foi uma coisa muito bonita de se ver”, diz Dora Urban.



Trajetória internacional

No ano 2000, os Catalépticos lançaram o álbum “Zombification” pela gravadora alemã Crazy Love Records. Na época, o responsável pelo selo, Guido Neumann, organizou um festival na cidade de Essen, na Alemanha.

No evento, ele contou com a parceria do baixista do Demented Are Go, Grischa, e foi nessa ocasião que ele conheceu pessoalmente o trio curitibano. “O The Polecats foi a atração principal nessa noite e ali eu conheci os três rapazes. O Gus era grande como um urso, mas muito simpático e amigável. A performance deles foi inacreditável, cheia de energia e perfeita, assim como era nos discos! Eles eram uma banda fantástica formada por caras muito legais e fizeram sucesso dentro e fora do Brasil. O grupo conquistou fãs e amigos em todo o mundo. Meu coração dói e a morte do Gus é uma grande perda para a família, os amigos e a cena”, diz Guido.

Além de construírem uma importante obra fonográfica em mais de duas décadas de vida, os Catalépticos também tocaram nos mais representativos festivais de Psychobilly do mundo, entre eles, o Big Rumble, na Inglaterra.

Em 2019, o grupo se apresentou no Psychobilly Meeting, na Espanha. No show, que aconteceu na cidade espanhola de Pineda de Mar, a organização do festival promoveu uma noite só com bandas brasileiras e fez uma homenagem ao Psycho Carnival.

Além dos Catalépticos, também participaram o Hillbilly Rawride e o Sick Sick Sinners, de Curitiba, e o The Mullet Monster Mafia, de Piracicaba.

Naquela ocasião, a banda percebeu o entusiasmo e o orgulho que Gus estava sentindo ao ver o respeito que os Catalépticos ainda tinham fora do país. “Na primeira noite na Espanha, nós tomamos sete garrafas de vinho enquanto conversávamos sobre os velhos tempos, contando histórias e celebrando aquele momento. Depois, o show lavou a alma do Gustavão”!, conta Vlad.



A retomada

Em 2017, o criador do selo Neves Records, Alexandre Neves, estabeleceu uma parceria para lançar em vinil o primeiro álbum dos Catalépticos, “Litte Bits of Insanity” (1998).

O evento aconteceu no Jokers Pub, em Curitiba, durante a programação do festival Psycho Carnival. Naquele momento, Gus estava fora da cena e a banda ainda não pensava em retomar as atividades.

Porém, tanto os organizadores do lançamento quanto o público perceberam a alegria que o baixista estava sentindo ao reencontrar velhos amigos e os companheiros de banda. “Eu via na cara dele (e ele me disse depois) que o Gustavo não imaginava o quanto a banda era querida pelo pessoal. Ele não parava de me agradecer e isso é uma amostra do quanto o Gus era simples, afinal, era eu que precisava agradecer por eles terem gravado esse disco”, conta Neves.

O impacto do lançamento foi muito grande e isso fez com que a banda decidisse voltar a tocar. O show aconteceu em setembro daquele ano no Jokers Pub completamente lotado.

Nos meses que antecederam a volta, Gustavo se dedicou ainda mais ao instrumento para retomar a velocidade e a precisão. “O Gus comprou um encordoamento diferente pra tocar sem muito esforço e um amplificador que já separava o slap do som natural. Ele estava muito feliz!”, diz Vlad.

No ano seguinte, os Catalépticos voltaram a se apresentar no Psycho Carnival após 12 anos e aproveitaram para relançar em vinil o álbum “One More Tattoo”, também pela Neves Records. “Nós conversamos por cerca de uma hora. No papo, o Gus me explicou que a banda estava voando na época desse disco e que ele achava que ali tinha sido o auge do grupo no sentido de composição e de velocidade. O Gustavo adorava aquele disco. Naquela noite, nós também conversamos sobre família, futebol, discos e bandas. Aquele cantinho lá em cima no Jokers nunca mais será o mesmo”, diz Neves.

Desde o início de 2021, a banda estava trabalhando no projeto de um novo CD, que tinha acabado de ser aprovado.

O álbum se chamaria “Dirty Old Blood” e a capa já tinha sido criada pelo artista gráfico Oscar Hertin. O pacote do projeto também envolveria outros itens, inclusive, um mascote dos Catalépticos.

Porém, não houve tempo para concretizar essa ideia. “Eu e a Larissa (companheira do guitarrista) já estávamos pensando nos próximos passos. Então, eu mandei uma mensagem contando a novidade para o Gustavo, porque sabia que isso poderia dar um pouco de força para que ele enfrentasse a doença. Infelizmente, ele já não estava mais com o celular”, conta Vlad.



Uma relação que vai além da música

Nas quase três décadas de amizade, mesmo antes de montarem a banda, Cox e Vlad aprenderam algumas lições na convivência com Gus. “Ele me ensinou muitas coisas em todos esses anos. Uma delas é levar muito a sério o trabalho que você gosta. A nossa relação dentro da banda e com a cena psychobilly era de extrema dedicação. Nós também tivemos o programa de rádio que eu apresentava, o Transylvanian Express (ele ajudou muito no começo), e o fanzine Monstro, que nós fazíamos com o apoio de outras pessoas”, conta Vlad.

Além da conexão musical, Gus também dividiu alguns valores pessoais com os integrantes dos Catalépticos. “O principal ensinamento que ele me deu é que, se você vai fazer alguma coisa, faça bem feito, com 100% de dedicação. Aí, a coisa vai pra frente e dá certo”, diz Cox.

Por ser mais velho do que o baterista dos Catalépticos, que entrou na banda com apenas 17 anos de idade, Gus procurava dar orientações em várias situações, inclusive pessoais. “Ele foi quase um pai pra mim. Quando eu larguei tudo para trabalhar só como músico, ele escreveu uma carta enorme na qual me dava alguns conselhos. Ele falava muito para eu pensar bem nessa decisão e me preocupar com o futuro”, lembra Cox.



Foco total no trabalho

A banda curitibana Ovos Presley é uma das pioneiras do Psychobilly no Brasil e tem uma trajetória que correu em paralelo com os Catalépticos.

O vocalista do Ovos, Ademir, teve o primeiro contato com os integrantes da cena psychobilly curitibana justamente quando conheceu o baixista dos Catalépticos que, na época, ainda tocava nos Missionários. “Eu conheci o Gustavo em um show dos Missionários no 92 Graus. Ele foi o primeiro cara da cena psychobilly com quem eu conversei. Ele foi muito atencioso comigo, lembro até que ele me passou o número do telefone dele (risos)”, conta Ademir.

Na convivência com o baixista, a “linha mestra” da personalidade de Gustavo se mostrava de maneira bem clara e impressionava os amigos. “Sempre tive muito respeito por ele. Eu vi o Gustavo concretizar muitas coisas que ele planejava. Ele conseguia materializar os planos com muito afinco, perseverança e empenho. Isso é valoroso em uma pessoa!”, diz Ademir.

Uma das grandes lições que Gustavo deixa para qualquer banda underground é a manutenção da perseverança em tudo que o artista for fazer. “Ao lado do Vlad e do Cox, ele deu uma aula sobre o que uma banda tem que fazer pra construir uma carreira sólida e conquistar respeito no mundo underground, o que não é fácil! Todas as tribos curtem os caras, seja maloqueiro, punk ou metaleiro, não só os psychobillies. Os Catalépticos são uma banda que tem o maior respeito em todo o mundo e isso não é de graça!”, complementa Ademir.

Nos Catalépticos, Gus mostrava muita dedicação e também pedia que os companheiros tivessem a mesma atitude. “Era impressionante! Nós chegamos a ensaiar em todos os dias da semana antes de tocar no Big Rumble, por exemplo. Passávamos duas vezes o repertório e repetíamos se saía alguma coisa fora. Chegou um momento no qual estávamos ensaiando no escuro, de tão pegadas que as músicas estavam”, conta Vlad.

Esse foco é claramente percebido por quem ouve os álbuns dos Catalépticos ou viu a banda ao vivo. Afinal, a velocidade e a precisão das linhas de baixo realmente impressionam.

Porém, poucos conhecem o esforço que foi necessário para chegar a esse nível de excelência. “O Gus tinha uma dedicação incomum com as artes, as gravações e o visual. E isso não só com a parte estética da banda, mas também com a execução do baixo. Ele treinava durante horas e horas, desenvolvia mecanismos e técnicas para conseguir tocar mais rápido. Isso tanto no começo da banda quanto depois que voltamos, porque ele não pegava no baixo há alguns anos”, diz Vlad.

A seriedade que Gustavo transparecia é confirmada inclusive por pessoas que conviveram indiretamente com ele. “O Gus era um cara muito organizado. Eu não sei como ele aguentava esses dois malucos (risos). Eu acho que ele dava esse equilíbrio para a banda”, diz a irmã de Vlad, a cantora Dora Urban.

A história do trio curitibano mostra que esse foco no trabalho, um alicerce que a banda construiu logo no começo, foi essencial para o reconhecimento que viria com o passar dos anos. “Sinceramente, eu acho que essa dedicação e esse cuidado com os detalhes fez toda a diferença nos Catalépticos. Na hora de fazer uma música (e isso também era uma coisa ímpar no Gustavo), ele mostrava uma musicalidade absurda para um cara que tinha pouquíssimo conhecimento teórico. Ele criava melodias que passeavam na sua cabeça. O Gus também era um letrista muito bom porque as letras dele eram sempre criativas, com elementos fortes, contanto histórias com desenvolvimento. Não era na loucura, era tudo desenvolvido”, revela Vlad.



Experiências que nunca serão esquecidas

Seguindo essa linha de trabalho, os integrantes dos Catalépticos viveram inúmeras experiências marcantes. “Tudo foi muito novo, como as viagens para tocar fora do país e a possibilidade gravar em selo gringo ou lançar um álbum. Tudo isso era graças a essa dedicação sem limites no trabalho que ele gostava. Só temos o que temos hoje por causa dos Catalépticos e boa parte disso saía da cabeça do Gustavo”, diz Vlad.

Esse quase obsessão por fazer as coisas de maneira profissional é reconhecida até pelos companheiros de outras bandas. “Desde que eu comecei a sair à noite no finado e talvez ‘zumbificado’ underground curitibano, o Gustavo sempre esteve por lá. O que mais me impressiona em relação ao Gus é a capacidade que ele tinha de planejar as coisas, executar o que imaginou e ter constância no objetivo. Isso era admirável!”, conta o vocalista da banda curitibana Krappulas, Breno.

Nesse momento pesado tanto para os companheiros de banda quanto para os fãs, uma questão é unânime: a música dos Catalépticos viverá para sempre. “É uma perda muito grande, dói demais, mas o legado que ele deixou é gigantesco. É lindo a gente ter a chance de parar e olhar pra tudo isso. Ele conseguiu fazer o que queria, cumpriu o dever dele. Eu só tenho a agradecer por ter o privilégio de ter convivido com ele e fazer parte de tudo isso”, afirma Cox.



Gigante gentil

Uma das referências musicais de Gus Tomb era a banda dinamarquesa Nekromantix. Esteticamente também existe uma grande conexão porque o baixista do grupo, Kim Nekroman, usa um baixo em formato de caixão que se tornou um dos instrumentos mais icônicos da história do Psychobilly.

No Brasil, e em qualquer parte do mundo, o “coffin bass” de Gus também é uma marca impressionante. Em todos os shows dos Catalépticos, os fãs sempre faziam questão de pedir para tirar uma foto ao lado do instrumento. Na verdade, o registro se tornava uma espécie de troféu para essas pessoas.

Essa conexão entre os Catalépticos e o Nekromantix se tornou ainda mais forte quando os dois baixistas se conheceram. “Gus, o gigante gentil. Na primeira vez que ouvi falar dos Catalépticos, eu vi uma foto do Gus com o coffin bass dele e fiquei pensando: “que diabos, ele também tem um coffin bass (risos)’! Eu conheci o Gus, o Vlad e o Cox quando eles estavam em um festival na Inglaterra, nos anos 1990, durante uma festa que durou a noite toda e foi até o início da manhã”, diz Kim Nekroman.

No mais recente show do Nekromantix em Curitiba, que foi realizado em 2016, no Jokers Pub, Gus fez questão de apresentar a banda ao filho dele, que é um grande fã do grupo. “Não apenas o físico, mas também o comportamento que ele tinha dava a impressão de que o Gus era o pai ou irmão mais velho da banda. Ele era um cara calmo, mas sempre muito amigável e acessível. Na última vez que o Nekromantix tocou em Curitiba, o Gus levou o filho (que já era mais alto do que eu) e nós conversamos longamente sobre a vida e a música”, conta Kim.



A cara do Psychobilly latino-americano

O baterista e produtor Orleone faz parte das bandas Sick Sick Sinners (ao lado de Vlad Urban e Mutant Cox) e The Mullet Monster Mafia.

De acordo com ele, que também participa da organização do festival Psycho Carnival, Gus representa a alma do Psychobilly fora da Europa. “A partida do Gustavo é uma perda inestimável para todos nós! Foi um cara que deixou sua marca, escreveu sua história e se eternizou por meio de sua arte. O Gus personificou a imagem do Psychobilly latino-americano. Sua imagem, marcada pela cartola e pelo coffin bass, deram identidade a uma cena em crescimento em meados dos anos 1990. Ao lado dos meus irmãos Vlad Urban e Mutant Cox, ele colocou o Brasil no circuito mundial”, diz Orleone.

Dentro desse protagonismo, estava a dedicação que Gus sempre demonstrou em qualquer projeto do qual participava e que foi um dos motivos para o crescimento da cena psycho brasileira. “A obstinação e o foco que ele tinha foram o motor propulsor, responsável pela solidificação de uma cena que ainda perdura e se tornou respeitada em todo planeta. É lamentável viver em um tempo sombrio no qual tantas vidas são ceifadas de forma abrupta, interrompendo sonhos”, diz.

Orleone recorda que o último encontro dos dois aconteceu em março de 2020 no show da banda estadounidense The Toasters, no Jokers Pub, em Curitiba. “Nós conversamos e brincamos com a minha insistência na pontualidade dos shows que organizamos. Demos risadas, bebemos, celebramos o momento e nos divertimos com boa música e amigos ao redor. Toda a minha solidariedade para a família e todos que conheciam o Gus porque, além de ser um grande músico, ele era um cara que estava sempre zelando pelos seus. Grande abraço, cara! Nos vemos no outro lado”, complementa Orleone.



Generosidade

O tatuador Anderson Rosa, que faz parte do trio curitibano Fish’n Creepers, conheceu Gus Tomb em 2003 durante a 9ª edição da Psychobilly Fest, no antigo Cine Music Bar. “Troquei poucas palavras com ele, mas eu logo percebi que era um uma pessoa honesta e muito legal. Em outra ocasião, eu encontrei o Gus no bar Slainte. Ele estava em uma mesa com alguns amigos e a banda Mão de Ferro e me convidou para sentar com eles. Eu estava sem nenhum centavo no bolso e ele me pagou várias beras! Foi demais porque eu estava em uma roda de gente importante (risos)”, conta Anderson.

A partir dali, nasceu uma amizade que foi se consolidando. “Com o tempo, ele começou a ver os meus desenhos e as minhas pinturas. Então, eu dei de presente um quadro no qual eu pintei uma araucária e ele começou a frequentar o meu estúdio de tatuagem. Uma vez, quando coloquei The Cramps pra rolar na loja, ele disse: ‘estou no lugar certo’! Ele me contou que curtia muito Demented Are Go, Nekromantix, e que o baixo que ele tinha era inspirado no coffin bass do Kim Nekroman”, diz.

Nessas conversas, o Psychobilly era um assunto recorrente. “Ele dizia que os Catalépticos e o Nekromantix eram as únicas bandas que tinham um fundo Metal e a galera lá fora meio que não aceitava isso. Uma vez, ele comentou: ‘Hoje, essas bandas de psychos são todas pauleira’! Então, eu disse: ‘Você sabe que tem um pouco de culpa nisso né’? Ele respondeu: ‘Eu sei’ (risos)”, conta.

Anderson acabou fazendo muitas tatuagens em Gustavo e manteve uma relação de camaradagem com o baixista. “O Gus sempre me deu vários presentes. Na última vez que os Catalépticos tocaram no Psychobilly Meeting, ele me deu uma camisa do festival e me convidou pra fazer uma camisa para eles. Inclusive, ele tatuou na perna o desenho que eu criei. O cara tinha um coração muito grande. Sinto que perdi um grande amigo”, diz Anderson.



“Grandão com cara de bravo”

Porém, se o lado musical de Gus é conhecido e admirado, as qualidades pessoais não ficam atrás. Afinal, ele tinha quase dois metros de altura e sua presença impunha respeito por onde passava.

Mas a pessoa que se mostrava por trás desse gigante era muito diferente. “Eu nunca esqueço da maneira doce e engraçada que ele tinha, apesar de ser um cara ‘grandão e com cara de bravo’ (eu dizia isso pra ele). Cada show que o Gus fazia era uma aula de sonzeira, paixão e atitude. E não só com os Catalépticos porque o Mão de Ferro também marcou a cena”, diz a ex-baterista das bandas curitibanas As Diabatz e CwBillys, Clau Marques.

Atualmente, Clau está morando na Espanha, mas continua sendo uma das figuras mais atuantes da cena psychobilly de Curitiba.

A distância em relação a capital paranaense fez com que, para a baterista, o impacto da morte de Gus fosse ainda mais forte. “Eu acho que a gente fica um pouco sem palavras pra descrever a importância de alguém querido por tantos, que marcou a nossa vida de alguma maneira e que, com certeza, nunca será esquecido. A partida dele foi repentina e inesperada. Ele nos deixou com os corações mais vazios, mas cheios de gratidão”, complementa.

Essa maneira educada de tratar fãs e bandas é uma das qualidades mais mencionadas por quem fala sobre o baixista dos Catalépticos. “O Gus foi um dos grandes músicos de Curitiba. Ele era um dos diferenciais dos Catalépticos e uma pessoa muito educada e cortês. Sua partida precoce deixa um grande vazio na cena”, diz o ex-baterista do Kingargoolas, Celso Costa.

A fotógrafa Camila Zanon, que acompanha a cena psychobilly curitibana desde o início dos anos 2000 e fotografou várias edições do festival Psycho Carnival, também afirma que o coração do gigante era ainda maior do que a altura que ele tinha. “Por trás da cara de mau, do aparente jeito fechado e do tamanho ‘assustador’, estava um cara extremamente educado, tranquilo, com um ótimo senso de humor e inexplicavelmente inteligente. Além da admiração que eu já tinha pelas bandas das quais ele fez parte (o Gustavo era um músico incrível e dono de uma personalidade única até para tocar), eu também passei a gostar da pessoa que ele era”, diz Camila.

Na relação de amizade entre os dois, mais uma vez, fica clara a preocupação de Gus no sentido de incentivar o trabalho dos amigos. “A importância que ele teve para o Psychobilly e para toda a cena e cultura underground, não só de Curitiba, mas do mundo todo, é inegável! Lembro de como fiquei feliz e orgulhosa quando ele elogiou as minhas fotos e de como fiquei triste por não ter fotografado o retorno deles”, conta Camila.

Diante desses relatos, fica evidente o impacto cultural e pessoal que o baixista teve na vida de muitas pessoas da cena. “Os Catalépticos têm uma enorme importância na minha vida, na minha história. Eles estarão sempre na minha lista de bandas favoritas, daquelas que trazem boas lembranças de um tempo que infelizmente não volta mais. O legado que ele deixou é imenso (ainda bem!) e sempre será lembrado. E o mais legal é que ele sabia disso”, complementa Camila.



O respeito aos fãs

A sócia-proprietária do bar Lado B, Regina Walger, guarda na memória um momento marcante que aconteceu na entrega do Prêmio Fun (que era oferecido pelo jornal curitibano Gazeta do Povo), em 2001. “Naquele ano, o Gus ganhou novamente como melhor baixista e, na festa, eu estava nas coxias observando. Acho que o J.R. (proprietário do bar 92 Graus) iria entregar o troféu, mas ele me chamou e disse: ‘entrega você, ele vai gostar’! Então, o Gus estava recebendo os aplausos de todos, agradeceu, olhou para mim e levou um susto! ‘Nossa, você? Que legal! Obrigado’! Ele me deu um abraço e saímos do palco. Em Curitiba, é difícil uma unanimidade de opinião em relação a músicos, mas o Gustavo era unanimemente o melhor. Foi um dia muito especial, nunca vou esquecer”, conta Regina.

Já o assistente de planejamento e controle de produção, Lauro Wons, que conheceu o trabalho dos Catalépticos em 2004, dois anos antes do fim da banda, lembra como descobriu o som do trio curitibano. “Naquela época, eu tinha internet discada em casa e, navegando, eu vi aquela logo da caveira com topete (símbolo dos Catalépticos) e fiquei curioso. Daí, fui pesquisar, ouvi algumas músicas e fiquei louco por aquele som pesado e rápido”, conta Lauro.

Pouco depois, um show dos Catalépticos no 92 Graus foi a confirmação de que, para o gosto musical de Lauro, a banda tinha algo diferente no som que fazia. “Foi muito massa! Por meio deles, eu conheci o Psychobilly e fui pesquisando e descobrindo cada vez mais bandas. Eles foram a minha maior influência para entrar mais nesse mundo do underground e do Psychobilly”, diz.

Porém, a influência da banda na vida de Lauro foi além da música. “Os Catalépticos transformaram a minha visão de cultura e arte e também a minha personalidade. Isso me ajudou muito na vida em si. Na sequência, eu conheci os integrantes do grupo e vi que são pessoas muito legais e receptivas com o público e os amigos”, diz.

A amizade com os integrantes da banda surgiu após a volta dos Catalépticos, em 2017. “Nessa época, eu já estava mais enturmado e conhecia mais gente da cena. O Gus era uma grande pessoa, de um coração amigo e fraterno. Ele foi de grande importância para o Psychobilly, pois influenciou muitas bandas e pessoas. O legado dele ficará para sempre na memória dos amigos e fãs”, conta Lauro.

Ou seja, o impacto musical e pessoal que o trio curitibano tem na cena underground curitibana é gigantesco. “Acho que os Catalépticos são a primeira coisa que vem à cabeça da galera quando falamos de Psychobilly no Brasil. Não creio que exista alguém na cena psycho brasileira que não ame Os Catalépticos e seus integrantes. A gente cresceu aprendendo com os caras e, com o tempo, essa relação de fã/banda se tornou uma amizade e parceria com esses irmãos de palco. O Gus marcou a cena com sua presença, talento e com a sua humildade e coração, sendo sempre fiel a quem ele era, a seus princípios e à música que tocava”, diz Clau Marques.



A admiração dos integrantes da cena

A técnica em mecatrônica Gisele Christyne, que acompanha a banda desde o início dos anos 2000, ressalta o impacto que teve ao ver os Catalépticos pela primeira vez. “Ainda lembro do primeiro show dos Catalépticos que eu fui, lá no 92 Graus. Eles fecharam a noite. A banda tinha três integrantes, com um baterista tocando em pé (que lembrava o Slim Jim Phantom, do Stray Cats), um guitarrista com um topete gigante e, no canto, um cara enorme com um baixo acústico em forma de caixão. Eu fiquei impressionada e passei a ir em vários shows”, conta Gisele.

Na volta do grupo, em 2017, a fã superou até uma cirurgia para acompanhar a apresentação no Jokers. “Na época, eu tinha feito uma cirurgia no maxilar. O meu medo era de não conseguir ir ao show porque eu não podia bater o meu maxilar de jeito nenhum. Porém, eu fui e fiquei no mezanino. Foi sensacional! Depois disso, eu ainda tive a oportunidade de ver eles ao vivo mais algumas vezes e as apresentações sempre foram incríveis!”, complementa.

O proprietário do bar 92 Graus (o tempo do underground curitibano), J.R. Ferreira, conheceu Gus Tomb nas gravações da lendária coletânea “Vampiros de Curitiba” (1990). Na época, Gustavo fazia parte dos Missionários e J.R. da Julie et Joe.

Dali, nasceu uma grande amizade que só aumentou com o passar dos anos. “O meu irmão estudava com o Maurício Lemanski (baterista dos Missionários). Quando a gente abriu o 92, nós tivemos a oportunidade de convidar os Missionários para tocarem na inauguração (que também foi a festa de lançamento da Cruel Maniac, famosa loja curitibana de produtos de skate/surf nos anos 1990). Dessa convivência, ficaram grandes lições sobre gentileza e irmandade. As bandas do Gus sempre se colocaram a disposição para tocar no 92”, diz J.R.

Nas décadas seguintes, tanto Gus quanto J.R. construíram histórias marcantes dentro do cenário cultural de Curitiba. “Ele sempre esteve à frente do movimento underground de Curitiba. Ele é um ícone, eu tenho um respeito enorme pelo Gus. Fica o meu carinho para a esposa e os filhos dele”, complementa J.R.

Além dos fãs, Gus também conviveu com inúmeros músicos e bandas na cena curitibana. Essas relações começaram em uma época na qual a conexão entre as tribos da cidade era muito diferente da atual. “Nossos destinos se cruzaram desde muito cedo. Uma das primeiras vezes que nos encontramos foi no porão do bar Berlin, acho que em 1987, em uma época na qual rolavam algumas tretas entre punks e headbangers. Teve aquele clima pesado e tenso, mas no final rolou um respeito mútuo”, conta o baixista e vocalista da The Secret Society, Guto Diaz.

Guto fez parte de algumas das bandas mais importantes do Heavy Metal curitibano, entre elas, o Epidemic e o Primal.

Daquele momento em diante, depois que o gelo foi quebrado, teve início uma relação de respeito e admiração. “Pouco depois, nós já estávamos tocando nos mesmos palcos, ele com os Missionários (que eram simplesmente incríveis) e eu com a Epidemic. Nos anos 1990 e 2000, já com os Catalépticos (e eu com o Primal), tocamos diversas vezes juntos em várias roubadas e também em grandes festivais”, conta Guto.

Um desses shows, que aconteceu na Ópera de Arame, marcou um grande momento na vida pessoal de Gus. “Lembro que, em 2003, na primeira edição do Curitiba Pop Festival, nós trocamos de horário com os Catalépticos porque o primeiro filho do Gus estava para nascer e ele tinha que correr para a maternidade”, diz Guto.

No ano 2000, essa amizade rendeu até um convite para participar do clipe da música ‘Like in a gasoline tank’, um dos clássicos dos Catalépticos. “Eu fiz o papel do fotógrafo policial. Mas as lembranças que mais guardo com carinho são os nossos encontros no Jokers regados a pints de Pale Ale e boas conversas. Ele era sempre elegante e educado, um gigante gentil, grande em todos os sentidos”, complementa Guto.



Referência para a cena

Os Catalépticos fazem parte de uma grande leva de bandas curitibanas de Psychobilly que deram visibilidade ao estilo na capital paranaense. Um desses grupos é o Krappulas, que ainda está na ativa.

Mesmo para esses músicos, o esforço que Gus mostrava no sentido de sempre melhorar tecnicamente é uma coisa que impressiona. “Eu lembro quando ele comprou o baixo acústico e, alguns dias depois e de forma impressionante, ele já estava tocando porque treinava todos os dias”, diz o vocalista do Krappulas, Breno.

Algumas dessas histórias, inclusive, passaram despercebidas durante muitos anos, mesmo entre os integrantes da cena. “Antigamente, Curitiba tinha uma ‘conexão’ com Porto Alegre. Por isso, nós fazíamos muitos shows com algumas bandas de lá. A Graforréia Xilarmônica e os Acústicos & Valvulados viviam aqui e, em um desses shows, o Paulinho (baterista do Acústicos) ficou lá em casa e nós conversamos bastante. No meio do papo, eu mandei a pergunta clássica: ‘esse nome de vocês é muito foda! Foi você quem deu’? Ele respondeu: ‘Não! O Gustavo não te falou? Nós pedimos para usar o nome de um fanzine dele”. Só que o Gustavo nunca tinha me contado! Mais tarde, eu perguntei e ele confirmou. É por isso que muitas pessoas falam da humildade dele”, complementa Breno.



Inspiração para toda a cena psychobilly

Gus influenciou positivamente toda a geração de músicos de Psychobilly e esse legado é reconhecido até por um dos grandes nomes do estilo. “Ao longo dos anos, o Nekromantix tocou em vários shows e festivais com os Catalépticos e eu vi como a popularidade deles cresceu com a abordagem única de Metal Thrash Psychobilly que eles tinham”, diz o baixista do Nekromantix, Kim.

Com a autoridade de ser um dos maiores nomes da história do Psychobilly, Kim afirma que Gus Tomb está na lista de músicos mais importantes do estilo. “Não há dúvidas de que os Catalépticos são os responsáveis ​​por colocar o Psychobilly brasileiro no mapa mundial. Sua música e o estilo de tocar do Gus definitivamente foram uma inspiração para muitos jovens fãs do Psychobilly em todo o mundo. Sentiremos muita falta do Gus e o mundo não será o mesmo novamente. Ele fez parte de uma banda que deixou uma impressão eterna e seu espírito viverá para sempre nos álbuns dos Catalépticos. Minhas profundas condolências à sua família, amigos e companheiros de banda”, diz o baixista do Nekromantix, Kim.

Para um dos grandes nomes do Psychobilly estadounidense, o músico Zteben Blarg (Klax, Sickscrew, Phantom Rockers), as linhas de baixo criadas por Gus foram uma grande inspiração para que ele começasse a tocar. “Ainda estou meio em choque com isso! Os Catalépticos eram uma das bandas e caras que eu esperava ver novamente depois que as coisas voltassem ao normal. O Gus e o Dimitry (da banda russa The Meantraitors) são os baixistas mais rápidos do Psychobilly. Eu me lembro de ouvir os Catalépticos antes mesmo de aprender a tocar contrabaixo. Nessa época, eu estudava guitarra com os amigos depois do trabalho, bebendo na garagem de casa. Mais tarde, já no baixo, eu aprendi a tocar a ‘Psychopath fever’ e a ‘Psychobilly is all around’. Eles eram a coisa mais rápida e poderosa que eu já tinha escutado!”, conta Zteben.

Essa admiração se tornou ainda maior quando os curitibanos retomaram as atividades e foram tocar nos EUA, em 2017. “Eu finalmente conheci o Gus quando eles voltaram para uma mini-turnê na Califórnia e o Klax tocou com eles em alguns shows. Eu encontrei o Gus nos bastidores e ele parecia bravo e malvado (risos). Então, eu comecei a conversar com o Vlad e o Cox, mas o Gustavo entrou na conversa e foi extremamente respeitoso e cortês. Ele foi assim em toda a turnê, ajudando a carregar o equipamento e fazendo tudo que ele pudesse para ajudar. Ele não tinha ego”, diz.

O interesse que Gus demonstrava por todo o contexto psychobilly era evidente. “Todas as noites, ele se sentava na lateral do palco e assistia aos nossos shows. Ele também foi ótimo com os fãs. Parecia que ele estava muito satisfeito ao ver que a cena ainda estava viva. Mais tarde, naquele ano, eu fui ao Psycho Carnival. Eles estavam vendendo o novo vinil o Gus me deu o número 77 do ‘Little Bits of Insanity’ e me pagou várias cervejas brasileiras”, conta.

Para os baixistas, a dedicação para treinar e, assim, tocar cada vez melhor o instrumento, é uma das grandes lições que Gus deixou. “Eu sempre ouvi muitas histórias sobre como ele praticava a velocidade no baixo sempre que podia. Diziam que ele usava elásticos no pulso para exercitar o braço assistindo TV depois do trabalho para manter a velocidade. Os Catalépticos mudaram muito não apenas a cena do Psychobilly no Brasil, mas também em todos os outros países que possuem uma cena psycho”, diz.

Essa influência fica muito clara para os brasileiros que visitam a terra natal de Zteban. “Eu tenho amigos do Brasil que iam para a Califórnia e não podiam acreditar ao verem tantas pessoas usando camisetas e patches da banda. Como eles eram grandes fora do Brasil! O Gus deixou um grande legado com o baixo mais forte que já foi tocado. Ele fará falta! Ainda bem que pude ver os Catalépticos tocarem em sua casa no Brasil e cair no wreck”, diz.

O Cenobites, da Holanda, é outra bandaa que foi fortemente inspirada pelo som dos Catalépticos. Tudo começou em 1998, quando os dois grupos fizeram parte do lineup do festival Big Rumble, na Inglaterra. “As nossas conexões com eles foram estabelecidas rapidamente. As duas bandas tocavam um estilo agressivo de Psychobilly misturado com uma forte dose de Punk e até Metal. Três anos depois, o Cenobites já tinha feito uma turnê no Brasil e os Catalépticos na Europa. Tocamos muito juntos”, conta o vocalista da banda holandesa, Dimitri Hauck.

O Catalépticos tocaram no festival Big Rumble em 1997 e 1998. Dois anos depois, já chamando a atenção do cenário Psychobilly mundial, o grupo fez a primeira turnê na Europa.

Esse batismo de fogo no Velho Continente consumiu as energias da banda e gerou reações antagônicas. “Foi muito cansativo! Nós fizemos uns oito shows e, quando a tour acabou, no último show, o Gus falou: ‘galera, eu nunca mais quero fazer isso na minha vida’! Eu fiz um contraponto dizendo que queria fazer isso para o resto da minha vida (risos). Foi um momento engraçado”, conta.

Entre o Cenobites e a banda curitibana, a influência musical se transformou em uma sólida amizade que dura até hoje. “O Gus sempre foi o gigante calmo e gentil. Minha memória pessoal favorita sobre ele é do dia no qual participamos de um churrasco na piscina da casa do Gus com o Cenobites, os Catalépticos e o Chibuku. Ali, nós escrevemos juntos a música ‘Curitiba Rotterdam psycho’. Lá, nós também conhecemos a esposa do Gustavo. Todos nós sentiremos muita falta do Gus e nossos pensamentos vão para sua família, integrantes da banda e seus amigos”, complementa Dimitri.



Incentivo

Um dos que beberam na fonte musical da banda curitibana é o baixista e vocalista do trio paulista Spitfire Demons, Maniac Biffs. “A primeira coisa que eu ouvi de Psychobilly foi o baixo do Gus em ‘Cannibal holocaust’, do álbum “Little Bits of Insanity’. Na época, eu estava no 1º ano do ensino médio e lembro que fiquei sem entender aquele som. Achei foda demais porque nunca tinha ouvido algo tão porrada e louco. Quando soube que eles eram do Brasil, eu fiquei ainda mais besta porque a qualidade musical era acima das bandas gringas que eu conhecia na época”, diz Biffs.

A partir desse momento, a motivação e a vontade de evoluir como instrumentista cresceram cada vez mais. “Eu quis aprender a tocar baixo acústico de qualquer jeito depois que ouvi aquilo. Depois, eu conheci o Gustavão justamente no meu primeiro show no Psycho Carnival, em 2005, com o Voodoo Stompers. Estávamos chegando para passar o som e o pessoal dos Catalépticos estava saindo do palco. Eu era moleque, sem jeito, e estava querendo conhecer e cumprimentar o Gustavão. Daí, ele veio falar comigo e foi muito simpático. Desde essa época, eu coloquei na cabeça que conseguiria tocar do jeito que ele tocava. Cada som novo que eles lançavam, com o baixo mais absurdo ainda, me fazia querer aprender mais”, conta Biffs.

Outra forte característica do baixista dos Catalépticos era a preocupação em incentivar todos os músicos que estavam ao lado dele. “Lembro que o primeiro som deles que eu consegui tocar inteiro foi a ‘Henry’. Daí, eu postei um vídeo no YouTube no qual eu tocava essa música e um tal ‘Gustavo Rodrigues’ curtiu e comentou. Eu fiquei feliz, agradeci, mas só me liguei que era o próprio Gustavão muito tempo depois! Ele sempre comentava os vídeos que eu postava e eu sempre ficava todo babão porque ver um ídolo comentar e elogiar uma gravação sua é a coisa mais foda do mundo!”, diz Biffs.

Essa conexão de incentivo continuou até pouco antes da morte do baixista dos Catalépticos. “O último vídeo que ele comentou foi um que eu postei na semana passada. Participar de uma cena underground é foda pelo fato de ser mais fácil de conhecer os nossos ídolos. Porém, ao mesmo tempo, eu também descobri que é extremamente doloroso, pois perdi não só um ídolo que sempre foi uma inspiração pra mim, mas também um amigo que sempre foi legal, simpático e prestativo comigo”, complementa Biffs.

Em 2018, o trio espanhol 13 Bats se apresentou no festival Psycho Carnival, no Jokers Pub, em Curitiba.

Justamente naquela noite, após 12 anos, o trio curitibano voltava ao palco do tradicional festival da capital paranaense.

Depois de se apresentar, o baixista do 13 Bats, Dani, fez questão de acompanhar o show dos Catalépticos. “Quando acabamos de vender os nossos discos no Psycho Carnival, eu fui assistir a apresentação dos Catalépticos para tentar entender a velocidade com que o contrabaixista tocava. Quando o show acabou, eu me aproximei do Gus. Eu achava que ele estava cansado e sem vontade de falar sobre aquele show incrível que eu assisti, mas perguntei quais eram as cordas ele usava. Ele não só me respondeu, como me mostrou o contrabaixo dele, as cordas, e foi mais do que atencioso e simpático. Como dizemos na Espanha, ele foi um ‘maldito tio’ psychobilly. Mandamos as nossas condolências aos Catalépticos, a todos os familiares e amigos do Gus. Lamentamos muito essa grande perda. O Psychobilly não vai ser o mesmo sem a presença dele! Nós nunca esqueceremos o Gus!”, diz Dani.

O baixista do trio The Mullet Monster Mafia, de Piracicaba, Netão Lombada, também tem uma maneira de tocar rápida e precisa e isso tem muito a ver com o estilo criado por Gus. “Ele é uma peça mais do que importante para o Psychobilly!  Apesar de tocar baixo elétrico, eu recebi uma grande influência do Gus, na velocidade e precisão. Eu nunca vi ao vivo nenhum baixista tão rápido! Ele foi uma figura marcante na execução, na agressividade e na velocidade do som dos Catalépticos. Com certeza, ele mudou o estilo e ficará marcado na história do Psychobilly pra sempre”, diz Netão.

Mesmo diante da tristeza de uma perda tão repentina, os integrantes da cena psychobiilly brasileira têm consciência de que a melhor homenagem é manter vivo o legado de Gus Tomb. “O jeito é tentar focar o máximo possível no legado do Gus, em toda a motivação que ele deu não só pra mim, mas acredito que para vários baixistas. Temos que manter a lembrança e a vontade de continuar com essa bagaça pra honrar o cara!”, finaliza Biffs.

Desde o início de 2021, o Cwb Live está trabalhando na biografia dos Catalépticos, que deve ser lançada em 2022. Agora, mais do que nunca, esse resgate histórico é extremamente necessário.

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