Texto: Marcos Anubis
Revisão: Pri Oliveira
Foto: Gustavo Garrett

Motörhead

“Não esqueçam de nós. Nós somos o Motörhead e tocamos Rock ‘n’ Roll!” A frase de Lemmy Kilmister na Pedreira Paulo Leminski no último mês de abril, encerrando a apresentação em Curitiba, soou profética.

E, nessa segunda-feira (28), o que os milhares de fãs da banda ao redor do mundo tanto temiam chegou. De acordo com a página da banda no Facebook, Lemmy descobriu no último sábado (26) que tinha uma forma agressiva de câncer. Ele faleceu hoje em sua casa, na cidade de Los Angeles, Estados Unidos.

A nota diz: “Não temos como expressar nosso choque e tristeza, não há palavras. Nos próximos dias daremos mais informações, mas por hora ouça Motörhead em volume bem alto, ouça Hawkind bem alto, toque a música de Lemmy bem alto. Tome um drink ou vários. Compartilhe suas histórias. Celebre a vida deste adorável, maravilhoso sujeito, que foi vivida de maneira tão vibrante. É exatamente isto que ele iria querer. Ian ‘Lemmy’ Kilmister 1945 -2015. Nascido para perder, viveu para ganhar”.

Lemmy vinha enfrentando problemas de saúde há algum tempo. Os anos de excesso estavam cobrando seu preço e isso obrigou a banda a cancelar vários shows, entre eles o do Monsters Of Rock em São Paulo, no último mês de abril.

Três dias depois, já recuperado, o Motörhead se apresentou na Pedreira ao lado do Judas Priest e Ozzy Osbourne. Durante o show, era nítida a preocupação do baterista Mikkey Dee e principalmente do guitarrista Phil Campbell, que se aproximava de Lemmy a todo instante para verificar se tudo estava bem. Leia neste link a cobertura do show.

Apesar das dificuldades, Lemmy não abandonou os palcos. A turnê 2016 da banda começaria no dia 23 de janeiro na cidade de Newcastle, na Inglaterra, e passaria por toda a Europa. A agenda previa shows praticamente de dois em dois dias, o que leva a uma reflexão: isso era um desejo de Lemmy ou os empresários pressionavam o grupo para que continuasse em turnê, mesmo com todos os problemas de saúde enfrentados por ele?

A realidade é que Lemmy viveu a sua existência no limite. Para ele, o modo de vida “Rock ‘n’ Roll” não era uma opção, era a regra. Durante 70 anos de vida, ninguém esteve mais ao seu lado do que os copos de Jack Daniel’s com Coca-Cola e os maços de Marlboro. Esses foram os seus companheiros inseparáveis, até o fim.

Nessa triste madrugada, nos últimos dias de 2015, um pensamento é inevitável: os músicos que criaram o que hoje nós chamamos de Rock ‘n’ Roll estão nos deixando. E o mais preocupante é que figuras como Lemmy Kilmister não podem ser criadas por não serem fruto do promíscuo mundo musical. Elas são únicas e não são produzidas em série.

Lemmy Kilmister viveu a sua vida como quis e por isso deve ter ido encontrar em paz os seus ex-companheiros Phil Animal Taylor (bateria), falecido em novembro, e Michael Würzel Burston (guitarra), morto em 2011.

Como ele afirmava em “Ace of Spades”: “Você sabe que eu nasci para perder e apostas são para tolos. Mas esse é o jeito que eu gosto, baby. Não quero viver pra sempre!”. Nesse ponto ele errou, pois sua obra o fez eterno.