Texto: Marcos Anubis
Foto: Eve Ramos (Ferakalt) e Pri Oliveira (The Shorts ao vivo)

A vocalista do The Shorts acaba de criar o projeto solo Feralkat, no qual explora outras influências e estilos musicais



Natasha Durski é um daqueles talentos puros, que existem em forma bruta e não precisam ser necessariamente lapidados. A maior prova disso é que, nos últimos sete anos, a jovem cantora curitibana já construiu uma bela história ao lado do The Shorts.

Na banda, ao lado de Daniel K. (guitarra e sintetizadores), Andreza Michel (baixo e voz) e Babi Age (bateria), a vocalista segue uma linha claramente influenciada pelo Rock alternativo, Noise e Shoegaze. Com o grupo, a cantora lançou os álbuns “Serendipity” (2015) e “Dawn” (2016).

Agora, Natasha resolveu criar um projeto chamado Feralkat e partir sozinha para um novo desafio. A primeira mostra dessa iniciativa, o single “Tonight”, foi lançado no dia 10 de dezembro por meio do selo digital Fora de Série, que faz parte da gravadora curitibana Zoom Discos.

No Feralkat, Natasha conta com a parceria do músico Daniel Kaplan, companheiro de The Shorts, com o qual ela divide as composições e os arranjos das músicas. “Quando eu comecei a idealizar esse projeto, eu sabia que ele seria uma pessoa muito interessante para trabalhar comigo por causa da nossa afinidade, amizade e toda a parte musical. Ele é muito talentoso!”, afirma Natasha.

“Tonight” foi gravada individualmente na casa de Natasha, Daniel, e da baixista do The Shorts, Andreza Michel (que também fez a mixagem e a masterização do single).

No novo projeto, a cantora incorpora outros estilos que não fazem parte do trabalho do The Shorts, mas isso não significa uma ruptura da conexão com a banda.

A diferença é que, no Feralkat, entram outros elementos musicais vindos da Música Eletrônica, Synthpop, Synthwave, Trip Hop, EDM, Darkwave, Dreampop, Indie Noisepop e experimentalismos sonoros. “A minha ideia não é necessariamente diferenciar as músicas em relação ao som do The Shorts, mas trabalhar com outra perspectiva as diversas ideias que pairavam em minha mente”, explica.

Nesse leque diversificado de influências, uma das grandes conexões que o ouvinte pode perceber no single é com a banda escocesa Cocteau Twins.

O grupo, que conseguiu muito destaque nos anos1980/90, era conhecido por fazer um som etéreo, com guitarras cheias de delay, reverb e chorus criadas pelo genial Robin Guthrie.

Outra característica única do som do trio europeu era o texto das canções. Afinal, as letras cantadas pela vocalista Liz Fraser eram compostas por vocalizações, ou seja, não tinham um texto em inglês ou em outra língua “conhecida”.

Na verdade, Liz criava as palavras de maneira aleatória e isso dava um ar ainda mais misterioso ao som do grupo. No Feralkat, para os ouvidos atentos, é possível perceber alguns ecos do Cocteau Twins. “Eu não pensei neles ao fazer a música, mas sou completamente apaixonada pela banda. Um dos discos que eu mais ouvi na vida foi o ‘Treasure’ (1984). Além disso, o som etéreo é algo que sempre esteve comigo como uma referência vocal, talvez pela influência dessa minha ligação com eles desde a adolescência”, diz Natasha.



Enfrentando as sombras da pandemia

A letra de “Tonight” faz menção ao peso que a pandemia vem colocando sobre os ombros da humanidade há dois anos. Afinal, a cada dia, fica mais claro o imenso abalo psicológico que a Covid-19 causou em milhões de pessoas ao redor do mundo.

Apesar, ou justamente por causa disso, a mensagem da canção aborda a esperança pessoal da vocalista em dias melhores.

Essa amostra é dolorosamente real porque evidencia os momentos intensos pelos quais Natasha foi obrigada a passar nesse período. Afinal, para não desabar por completo em 2021, a vocalista precisou fazer um esforço interior gigantesco. “Eu já sofro de problemas relacionados à saúde mental há mais de uma década, mas a pandemia foi muito desafiadora. A situação foi além de todas essas questões que eu já enfrento diariamente porque muitas coisas mudaram por completo na minha vida pessoal e eu não estava preparada para tudo que eu tive que vivenciar nesses últimos tempos”, desabafa.

Natasha é uma entre milhões de pessoas no planeta que precisaram enfrentar um peso que nem sempre é fácil de suportar.

Porém, talvez a grande lição desses tempos nebulosos é que, em meio a todo esse mar de sombras, cada um de nós teve que aprender a se agarrar a algo que realmente fizesse a diferença nesses momentos difíceis. “Como sempre, a música me salvou! Escrever canções foi uma forma de lidar com todos esses desafios internos e externos”, conta.

A superação se refletiu na composição de “Tonight”, que nasceu em meio às noites nas quais Natasha buscou maneiras de superar a pressão da pandemia.

A solução que ela encontrou foi tirar alguns momentos para dançar na sala de casa e se desligar do mundo. Nessas ocasiões, Natasha conseguiu encontrar um pouco de paz interior em meio ao caos e fez questão de proteger esse sentimento para nada conseguisse destruí-lo.

Foi assim que a cantora lidou com o que estava passando. pois naqueles momentos, por mais que as dores do corpo e da alma estivessem presentes, nada mais importava a não ser a serenidade. “A música fala não só comigo, mas com todo mundo que precisa lembrar que existem coisas boas nas quais podemos nos agarrar mesmo quando parece que tudo está perdido. No fim, a canção é sobre buscar a paz interior e se entregar a esse momento de maneira plena”, explica.



Feeling em estado puro

Natasha é dona de uma voz que soa de maneira doce e feroz ao mesmo tempo (o que talvez seja um reflexo da própria personalidade).

Em termos de influências, a entonação dos vocais da cantora remetem a alguns grandes nomes do underground mundial, entre eles, as vocalistas da banda estadounidense Mazzy Star, Hope Sandoval, e Emma Anderson, do grupo inglês Lush.

Para chegar ao que Natasha apresenta artisticamente hoje, o interesse pela música, que floresceu logo na infância durante a convivência com a família, foi essencial.

Nessas audições, ela ouvia vários estilos, entre eles, R&B, Rock, Samba e Pop. Nesse contexto, o desejo de cantar surgiu de uma maneira natural, como uma forma de se divertir.

Nessa fase, Natasha gostava de ficar imitando a voz dos artistas que ouvia em casa e essa “brincadeira” fez com que ela fosse aprendendo algumas nuances de alcance vocal e afinação. “O meu primeiro professor de canto foi o Paul McCartney! Eu simplesmente amava pegar todas as músicas dos Beatles e tirar na voz, cantando as notas da maneira certa. Aquelas harmonias eram uma baita escola vocal!”, explica.

Esse mergulho quase inocente no mundo da música simplesmente moldou a personalidade musical de Natasha. Foi ali que começou a nascer o talento que a cantora mostraria nos projetos musicais dos quais ela faria parte nos anos seguintes e que culminaria no Feralkat.

Assim, dando sequência a essa saga que ainda está sendo construída, nos próximos meses, Natasha disponibilizará mais um single do novo projeto.

Posteriormente, ainda no primeiro semestre de 2022, “Tonight” fará parte de um EP. Ele terá seis faixas que ainda estão sendo finalizadas e deve ser lançado de maneira independente.

As letras das canções do trabalho, que ainda não tem nome, serão gravadas em versões individuais na língua inglesa e em português. Até lá, a cantora segue procurando parcerias para viabilizar o projeto.

Tanto no The Shorts quanto no Feralkat, a maior característica de Natasha Durski é transformar sentimentos em canções. Fica nítido que eles vêm da alma da vocalista e são uma expressão muito clara da visão de mundo que ela carrega consigo.

Assim, é muito provável que o ouvinte sinta uma conexão imediata porque as músicas que ela compõe são reais e estabelecem ligações com qualquer um que tenha a oportunidade de ouvi-las. “Cantar é um dos maiores prazeres da minha vida e eu definitivamente amo muito o que eu faço! Me sinto agradecida por ter a oportunidade de não só fazer isso pelo prazer, mas também como trabalho”, finaliza.

Ouça o single “Tonight”. Aproveite para assinar o Cwb Live, pagando a quantia que você achar justa. É só clicar no link da plataforma Catarse que está abaixo (campanha “Eu Apoio o Cwb Live”).

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