O ex-vocalista e baixista do RPM se apresenta nesta sexta-feira (26), no Teatro Guaíra

No dia 3 de dezembro de 1986, o RPM se apresentou em Curitiba, no Ginásio do Tarumã. Naquele momento, Paulo Ricardo (baixo e voz), Fernando Deluqui (guitarra), Luiz Schiavon (teclados) e Paulo “P.A.” Pagni (bateria) passavam por um momento de glória que poucas bandas brasileiras tiveram a oportunidade de vivenciar.

Por causa dessa mobilização que o grupo provocava em qualquer cidade na qual desembarcava, é óbvio que o Tarumã teve lotação máxima e muitos fãs não conseguiram entrar no local.

Por isso, em respeito ao público, o RPM decidiu fazer um show gratuito, no dia seguinte, no Estádio Couto Pereira. Novamente, os fãs compareceram em grande número e vivenciaram uma experiência única: assistir a duas apresentações, em dois dias seguidos, da maior banda do Brasil, na época.

Dá para imaginar o quanto isso foi especial para o público, mas essa ocasião também ficou marcada para sempre na vida dos integrantes da banda. “Eu lembro bem! Graças a Deus, nós temos um histórico de histeria com a cidade desde as primeiras participações em festivais até o nosso primeiro show no Círculo Militar, onde a galera literalmente quebrou tudo! Era o começo da ‘RPMania’ e ninguém podia imaginar o que estava por vir. Esta turnê foi tão marcante que eu a revivi, comemorando os 35 anos dela, e todos os shows em Curitiba foram maravilhosos!”, diz Paulo Ricardo.

Nesta sexta-feira (26), Paulo Ricardo volta à capital paranaense, desta vez, para apresentar no Teatro Guaíra a nova turnê, batizada de “Rock Popular”.

No repertório do show, além dos inúmeros sucessos do RPM e da trajetória solo, Paulo também incluiu algumas músicas que estão na história do Rock brasileiro. “A semente deste show está no meu álbum de 1996, o “Rock Popular Brasileiro”, no qual eu revisitei alguns clássicos do nosso Rock’n’roll, de Roberto a Raul, passando por Rita, Lulu e as grandes bandas de nossa geração, inclusive, do meu RPM com “A Cruz e a espada”, com um dueto emocionante com o Renato Russo. Porém, o roteiro é algo dinâmico que tem mudado a cada show, afinal, são muitos os hits do nosso Rock!”, diz.

Companheiro inseparável

Um dos fiéis escudeiros de Paulo Ricardo nessas mais de três décadas de shows por todo o mundo é o mítico baixo Steinberger XL-2 Headless preto.

O instrumento, que acompanha o baixista desde os primeiros passos do RPM, chama muita atenção porque apresenta um design bem particular. A maior característica do Steinberger é não ter mão (o local no qual, normalmente, ficam as tarraxas de afinação), o que dá um ar discreto e elegante ao baixo.

O baixo Steinberger passou a fazer parte da vida de Paulo porque, na gigantesca lista de bandas que surgiram no Brasil, nos anos 1980, o RPM era a que mais se preocupava com o uso da tecnologia, tanto no estúdio quanto nos shows.

Pagni, por exemplo, usava uma kit composto por algumas peças de bateria eletrônica e Schiavon passeava pelo palco utilizando um teclado portátil conhecido como keytar.

Um bom exemplo dessa pegada futurista é a versão do sucesso “Revoluções por minuto”, gravada no álbum “Rádio Pirata Ao Vivo” (1986). “O estilo de uma banda é definido por uma série de fatores e a sonoridade é um dos principais. Os anos 1980 trouxeram uma revolução (ops!) tecnológica e nós queríamos soar de uma maneira absolutamente atual”, afirma.

Diversos grandes músicos ao redor do mundo também tinham uma paixão inexplicável pelo minimalismo dos instrumentos Steinberger. Entre eles, estavam o baixista do Duran Duran, John Taylor, e a baixista dos Talking Heads, Tina Weymouth.

No caso de Paulo Ricardo, o interesse por esse modelo específico nasceu depois que ele assistiu a um dos poucos shows internacionais que aconteceram no Brasil no início dos anos 1980. “Eu tinha acabado de voltar de uma temporada em Londres e o Technopop e a New Romantic eram a bola da vez. Contudo, a primeira vez que eu vi esse baixo foi no show do The Police no Maracanãzinho, no verão de 1982. Eu fiquei fascinado pelo design e pelo timbre (um ronco causado pelo atrito das cordas com a fibra de carbono da qual o instrumento é feito)”, conta.

A paixão foi tão avassaladora que, quando a gravadora Epic fechou o contrato para que o grupo entrasse em estúdio e gravasse o álbum de estreia, “Revoluções Por Minuto” (1985), Paulo não pensou duas vezes em relação a qual instrumento deveria usar. “Eu acabei gravando todo o disco com ele e, cada vez que o empunho, ele evoca não só a sonoridade, mas também o visual arrojado dos anos 1980. É uma relíquia!”, complementa.




Censura

Mesmo com quase 40 anos de trajetória artística, Paulo acaba de vivenciar uma situação que, aparentemente, tinha ficado perdida em um passado bem distante.

Ela aconteceu no início deste ano, com lançamento do single “Herói made in Brazil” que, acredite se quiser, em pleno Século XXI, foi censurado em algumas rádios do país.

O impacto foi ainda maior porque essa é uma realidade que Paulo viveu intensamente com os companheiros do RPM. Afinal, a banda surgiu no final da ditadura e teve que passar pela linha dura dos censores, assim como todos os artistas e grupos que enfrentaram aquele período.

A diferença é que, em 2023, essa censura é mais uma decisão pessoal de alguns grupos de comunicação do que uma imposição de uma entidade que foi criada especificamente para isso.  “Na verdade, eu não fiquei surpreso, mas me decepcionei, e muito. Entendo que diversas rádios Rock gostariam de ter tocado a música, mas os donos que, em sua maioria, são políticos, se sentiram incomodados ou vestiram a carapuça. De certa forma, é mérito da canção incomodar os poderosos a ponto de exercerem uma censura econômica e é gratificante ver que um bom Rock ainda é capaz disso”, analisa.

Essa “nova censura”, de certa maneira, não deixa de ser um incômodo déjà vu. Afinal, a enorme maioria das bandas da geração 80, do mainstream ao underground, tinha uma preocupação muito grande com a ideia de passar uma mensagem nas letras das músicas e isso incomodava profundamente a ditadura.

Dessa maneira, constantemente, essas músicas instigavam o fã a pensar sobre o tema daquela canção.

Hoje, em um país completamente diferente, muitos desses artistas ainda mantêm essa preocupação. “A nossa geração foi criada com o melhor da música popular do século XX, tanto no Brasil quanto no mundo (Beatles, Stones, Dylan, Caetano, Gil, Milton). O que queríamos era estar minimamente à altura desses monstros sagrados. Além disso, saímos de uma ditadura e me parecia fundamental que nos posicionássemos com atitude e veemência. Enquanto eu compunha a ‘Herói Made in Brazil’, esse sentimento também me moveu”, explica.

Dois grandes exemplos desse cuidado com o texto estão no álbum de estreia do RPM, “Revoluções Por Minuto” (1985), e mostram a visão musical aguçada que todos os integrantes do grupo tinham e que também foi responsável pelo imenso sucesso que eles alcançaram.

É claro que “Louras geladas”, “Rádio pirata”, “Olhar 43” e “Revoluções por minuto” foram os grandes sucessos desse disco, mas duas faixas que acabaram se tornando “lados B” na história do grupo também estão na lista de preferidas dos fãs.

A primeira é “Sob a luz do Sol”, que aborda a vida na capital paulista, com seus prazeres e perigos. “São Paulo é uma metrópole cosmopolita e essa música é o relato de um jovem boêmio perdido em uma noite suja, fugindo do crepúsculo feito um vampiro”, explica.

A segunda é “Juvenília”, que cita as mudanças pela qual o país já passava em 1983, quando Paulo estava morando na capital inglesa. “Ela fala sobre a enorme dúvida existencial que me tomou durante os meses nos quais eu morei em Londres: voltar ou não ao Brasil?”, complementa.




As revoluções continuam

Em março, Paulo lançou nas plataformas digitais, por meio da ONErpm, o álbum “Voz, Violão & Rock’n’roll (Acústico)”. O disco traz 15 faixas, entre elas, releituras de canções do RPM e a inédita “Vibe”, feita em parceria com o compositor baiano Bruno Caliman.

De certa maneira, depois de experimentar as mais variadas nuances da tecnologia, gravar um álbum minimalista em termos instrumentais é uma volta ao começo de tudo, ao formato no qual a maioria das canções são compostas. “Esse disco surgiu em plena pandemia, que impôs desafios terríveis a todos nós. Para mim, um deles foi trazer os meus sucessos, muitos com a marca das produções oitentistas, para um contexto minimalista de voz e violão para lives, inclusive, via Instagram. Aquilo foi crescendo dentro da linguagem do Blues e do Rockabilly e acabou se tornando o meu acústico, algo que eu devia para mim e para o público há muito tempo”, explica.

Ou seja, com todas essas novidades, o repertório do show desta sexta-feira no Guaíra será uma viagem no tempo para os fãs que acompanham o trabalho de Paulo desde 1985. “Curitiba é, sem dúvida, uma das cidades mais Rock’n’roll do Brasil, com um público fiel e exigente que está acostumado a ver espetáculos internacionais com frequência! É uma grande responsabilidade e um desafio, mas ao mesmo tempo, é um público muito carinhoso! Estou muito feliz por estar de volta!”, finaliza Paulo Ricardo.

O show começa às 21h15 e os ingressos estão à venda na plataforma Disk Ingressos, com valores a partir de R$ 90 (meia-entrada) + taxa administrativa. Confira neste link todas as informações na nossa agenda.

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