Texto: Marcos Anubis
Foto: Jabut Fotografia e divulgação

O Soul é um estilo que, como o próprio nome indica, vem da alma. Dessa maneira, para soar de maneira real, qualquer banda que se aventure nesse gênero precisa encarar a música como algo além da arte.

Formada em 2016 por Willie Dinamite (vocal e percussão), Anderson de Lima (guitarra), Caetano Zagonel (baixo), Menandro Souza (trompete), Rodrigo Nickel (saxofone) e Yuri Vasselai (bateria), a banda curitibana Dinamite Combo, certamente, está seguindo por esse caminho.

Afinal, a visão que o grupo tem em relação a Soul Music não se prende a simples diversão. “Apesar de ser divertida e dançante, a Soul Music também sempre foi um canal de protesto contra injustiças, o ódio, o racismo e as desigualdades, pois é uma música que vem da alma. Se não for feito com o coração, não é Soul Music. Então, tratar desses temas é natural. Nossa inspiração vem das canções de protesto de vários artistas, entre eles, a Nina Simone, a Aretha Franklin, o Charles Bradley e a Sharon Jones”, diz o baixista Caetano Zagonel.

Levante a cabeça!

No dia 30 de julho, o grupo lançou o clipe do single “Raise your head”, que retrata muito bem a intenção da banda de abordar alguns temas sensíveis na sociedade brasileira.

Conceitualmente, o vídeo é um manifesto contra o ódio e a intolerância que passaram a dominar ainda mais o Brasil e o mundo nos últimos anos. “A mensagem é que devemos erguer a cabeça contra a desesperança e a indiferença em relação ao ódio, a intolerância e as injustiças em todas as suas formas”, explica.

O vídeo foi gravado em plano sequência nas ruas de Curitiba, com produção de Yuri Vasselai e Caetano Zagonel. Os registros aconteceram em meio à pandemia, em um cidade vazia, o que até potencializou a mensagem do vídeo. “A ideia foi associar a estética do vídeo ao momento pelo qual nós estamos passando, até porque não tinha como ser diferente. Tentar produzir um conteúdo no qual a pandemia não fizesse parte do contexto não passou pela nossa cabeça. Apesar de tudo, a imagem de Curitiba vazia não é um retrato da realidade nas ruas”, explica.

A produção e a gravação ficaram a cargo da própria banda e foram realizadas essencialmente ao estilo ‘faça você mesmo’, que é um dos mantras do underground. “Fizemos o clipe por conta própria e da maneira mais simples e direta possível, envolvendo o mínimo de pessoas e evitando aglomeração. Por isso, escolhemos o plano sequência com apenas o Willie em frente à câmera. Eu fui rodando o som e cuidando do trajeto e o Yuri foi o cameraman”, revela.

Nesse contexto, o clipe foi produzido com poucos recursos, mas com um resultado surpreendente. “Escolhemos a Rua Saldanha Marinho para gravar em uma manhã de domingo. A nossa câmera foi um celular preso a uma steadycam que pegamos emprestada. Fizemos dois takes e escolhemos o segundo porque a bateria do celular já estava no fim. Depois, o nosso amigo Vinicius Antunes deu aquela tratada no vídeo para que ele ficasse com um ar mais profissional”, conta.

O peso do Soul

O som do Dinamite Combo é bem denso e envolvente. Além das influências clássicas, as músicas da banda curitibana também apresentam um ar que remete ao supergrupo paulista Scowa & a Máfia, um dos grandes nomes da Black Music brasileira nos anos 1980/90.

Ate hoje, a banda já lançou dois singles além de “Raise your head”, em um total de cinco músicas: “Blow thy horns/Life is hard” (que também será lançado em setembro em vinil 45 rpm), e “Vanity/23 (Bounce like a ball).

Dentro da cena curitibana, o Dinamite Combo vem conseguindo destaque mesmo fazendo parte do universo bem particular da Soul Music que, na capital paranaense, ainda apresenta algumas particularidades. “Temos grandes festas de discotecagem, como a ‘Só o Soul Salva’ e a ‘Funk You’, e vários DJs que colocam os discos de Funk e Soul para girar. Porém, ela é uma cena majoritariamente de DJs. É difícil entrar com uma banda, principalmente por causa da estrutura que é necessária. Então, nós somos obrigados a fazer as nossas próprias festas e também convidamos os DJs para tocar. Já no Brasil, a galera puxa mais para a Disco Music e para o Tim Maia. Nós amamos o Tim, só não é o estilo que fazemos, mas isso acaba funcionando a nosso favor. As pessoas sempre ficam surpresas quando assistem ao nosso show porque não tem nenhuma banda por aí fazendo o som que a gente faz”, finaliza Caetano Zagonel.