Texto: Marcos Anubis
Fotos: Pri Oliveira e divulgação

O programa Shock Rock, que vai ao ar toda terça-feira, às 20h, na rádio Mundo Livre FM das cidades de Curitiba, Maringá e Londrina, está completando três anos de vida. Apresentado pelo músico e produtor cultural Vlad Urban, o programa tem uma hora de duração e aborda o universo de vários gêneros musicais alternativos, entre eles, o Psychobilly, o Rockabilly e a Surf Music. “A ideia é ter um retrato da cena atual no Brasil e no mundo. Ao mesmo tempo, nós também procuramos pesquisar e mostrar quais foram os motivos que levaram o Rock a se transformar em um gênero revolucionário dentro da música”, explica Vlad.

Dentro dessa perspectiva, poucas pessoas na capital paranaense estariam tão à altura para comandar essa viagem pelos alicerces do Rock’n’roll. Afinal, há mais de três décadas, Vlad Urban é uma das figuras mais importantes da cena curitibana.

Na área musical, atualmente, Vlad faz parte dos trios Sick Sick Sinners e Os Catalépticos, duas bandas que são reconhecidas no mundo todo como grandes nomes do Psychobilly. Além disso, ele também integra o grupo Os Partigianos, criado para interpretar hinos revolucionários que se tornaram marcantes ao longa da História. Nos anos 1980, Vlad também fez parte do grupo Os Escroques e, na década de 1990, da banda Os Cervejas, um dos alicerces no Psychobilly na capital paranaense.

Na área de produção artística, desde o ano 2000, Vlad também está a frente do festival Psycho Carnival, que em 2020 chegou a 21ª edição e é reconhecido como um dos principais eventos de Psychobilly em todo o mundo. Ou seja, o currículo que Vlad carrega em relação aos “serviços prestados” para o fortalecimento da cena curitibana é pesadíssimo.

A criação do Shock Rock

O Shock Rock surgiu em 2017 quando Vlad foi até a Mundo Livre para buscar uma parceria na divulgação do Psycho Carnival daquele ano e foi convidado pela radialista Marielle Loyola, que na época trabalhava na emissora, para iniciar o projeto que se tornaria o Shock Rock. “Ela perguntou se eu gostaria de apresentar um programa lá. Então, eu gravei um piloto com o Virgilio Milléo (do estúdio AudioStamp), levei na emissora e ele foi aprovado”, conta.

A partir daquele momento, o Shock Rock começou a se tornar um espaço não só para as bandas consagradas internacionalmente, mas também para os grupos do cenário brasileiro e curitibano. “Eu faço questão de colocar bandas nacionais em todos os programas. Aliás, eu acho muito importante que a gente não diferencie as bandas brasileiras das internacionais. São todos artistas e funcionam juntos”, afirma. “Tem muita gente mandando músicas para que sejam lançadas no programa e isso é muito legal!”, complementa.

Nessa linha de pensamento, a valorização da cena curitibana é uma questão primordial na programação do Shock Rock. “Eu acho que esse espaço precisa ser assim. Todos sabem que, para qualquer banda, é muito importante ter a possibilidade de tocar em uma rádio com dez mil pessoas te ouvindo. Afinal, você alcança um público muito maior. Eu faço parte da cena e vejo com um dever a questão de mostrar o que acontece dentro da cidade. Acho que a cena curitibana sente muita falta dessa divulgação”, analisa.

Nesse período de pandemia, o Shock Rock está sendo gravado em um home studio montado na casa de Vlad especialmente para manter o programa na ativa. Na produção, ele conta com o auxílio da fiel escudeira Larissa Zielinski. “Ela está sempre comigo, pois tem um conhecimento muito grande no Outlaw Country, então, sempre traz alguma coisa interessante para a programação”, elogia.

Os lendários Rock’n’roll Animal e Transsylvanian Express

A trajetória de Vlad Urban no rádio começou em 1992 com o programa Rock’n’roll Animal, na inesquecível emissora curitibana Estação Primeira, uma das raríssimas rádios brasileiras na qual a qualidade do artista era mais importante do que a parte comercial.

Já naquela época, o objetivo maior era fortalecer a cena local. “O programa ficou sem produtor e o Marcos Strick, o “Podrão”, me convidou pra gente fazer um programa de Psychobilly lá na Estação. Ele apresentava e eu fazia a produção”, conta.

O processo de produção de qualquer programa de rádio naquela época era muito diferente, afinal, não existiam as facilidades que a Internet proporciona. “Eu levava os LPs, compactos e CDs que eu tinha na época. Tudo era feito assim”, explica.

Em 1995, a Estação Primeira fechou as portas, colocando um ponto final na era de ouro do FM paranaense. Dois anos depois, Vlad assumiu o Transsylvanian Express, na rádio Educativa FM, com um time de peso que ainda contava com o baixista dos Catalépticos, Gustavão (que era o responsável pelos textos), e também teve a participação do ex-baixista do Hillbilly Rawhide, Osmar “Cavera”.

O Transsylvanian Express fazia parte de uma série de programas da Educativa chamado “Todos os Caminhos do Rock”. Cada um deles abordava uma vertente diferente dentro da música. “Eram bem fora da curva, coisas sensacionais!”, diz.

Aos poucos, o Transsylvanian Express acabou se tornando uma espécie de canal oficial do movimento psychobilly curitibano. “Como o programa era na sexta-feira, a gente ouvia nos bares. Todos se reuniam para escutar”, relembra.

Naquele momento, uma série de fatores foram essenciais para que a cena psychobilly curitibana tivesse um fortalecimento ainda maior. “O Ovos Presley (uma das primeiras bandas Psycho de Curitiba) já tinha sido formado, os Catalépticos estavam surgindo, tinha o fanzine Monstro, já existiam alguns bares que a gente frequentava. Então, o Transsylvanian foi um fator a mais pra essa galera toda”, complementa.

Entre esses bares estavam o China e o Maxi Frango, que ficavam na Rua Inácio Lustosa, ao lado do Shopping Mueller.

Uma das características que ficou marcada no Transsylvanian Express foi a participação dos zumbis “Podrão” e “Tranquera”, interpretados por Marcos Strick e pelo jovem Mutant Cox que, nos anos seguintes, se tornaria uma das figuras mais importantes da cena. “Era sensacional! Eles faziam quase que uma espécie de série em quadrinhos no rádio, interpretando histórias. Naquele momento, foi uma coisa bem diferente no rádio curitibano e isso teve uma repercussão muito grande. Eu recebi muitas cartas, até de Itajaí e de outros lugares de Santa Catarina”, conta.

Hoje, Mutant Cox faz parte do Sick Sick Sinners, do Hillbilly Rawhide, dos Catalépticos, do 99Noizagain e do B.O.D.E.

Ou seja, o Shock Rock, de certa forma, é uma continuação de uma história que começou a ser escrita em 1992. Ao completar três anos de vida, na avaliação de Vlad, o programa está cumprindo a missão para a qual foi criado. “Nós temos uma resposta muito legal do público, de pessoas que ouvem todos os programas! Alguns até mandam stories no Instagram para mostrar que estão na escuta. Antes da pandemia, as pessoas até se reuniam para ouvir juntas”, conta.

Para continuar esse crescimento e atingir um público cada vez maior, Vlad tem procurado utilizar a tecnologia a seu favor, disponibilizando o Shock Rock na plataforma digital Spotify e no site Anchor. “Isso é muito importante porque aumenta a divulgação. Mesmo com a quantidade de informação que nós temos atualmente, eu acho que o programa de rádio ou mesmo os podcasts acabam virando uma espécie de assinatura. As pessoas se identificam”, finaliza Vlad Urban.