Os dois shows tiveram de tudo: Michael Aston em meio ao público, clássicos, emoção, bronca do vocalista Wayne Hussey no público curitibano e o corte de um bis
No mundo da música, certas bandas ou artistas se confundem com o próprio estilo musical no qual estão inseridos, pois ajudaram a construir as bases desses gêneros.
Esse é o caso dos britânicos do The Mission, que se apresentaram nessa quarta-feira (26) na Ópera de Arame, em Curitiba, com abertura dos compatriotas do Gene Loves Jezebel.
O protagonismo do The Mission é justificado porque eles foram um dos primeiros grupos a fazer um som que, nos anos 1980, era chamado de Dark e, depois, passou a ser conhecido por Gótico.
A fórmula envolve guitarras carregadas de delay/chorus/reverb, vocais em tonalidades mais baixas e letras/imagens que, entre outros assuntos, também remetem a temas místicos ou, no mínimo, misteriosos.
Além de tudo isso, e não menos importante, está a imagem da banda. E nesse aspecto, poucas cenas eram tão marcantes quanto a do vocalista Wayne Hussey cantando em um palco completamente tomado por uma espessa névoa de gelo seco, usando adereços que remetiam ao movimento hippie e ostentando longos cabelos compridos levemente contidos por um tradicional chapéu preto. Ah, os anos 1980…
levando em conta todos esses aspectos, em quase 40 anos de trajetória, o Mission criou dois discos que são absolutamente essenciais nesse gênero: “God’s Own Medicine” (1986) e “Children” (1988).
The Mission, trevas e clássicos
Pouco depois das 22h30, com uma grande bandeira que mostrava o símbolo do The Mission pendurada atrás da bateria, o grupo pisou no palco da Ópera de Arame, sob os aplausos dos curitibanos.
Wayne, como sempre, entrou sozinho e carregando uma garrafa de vinho que foi colocada ao lado do pedestal do microfone.
Wayne Hussey (guitarra e vocal), Simon Hinkler (guitarra), Craig Adams (baixo e backing vocals) e Alex Baum (bateria) abriram o show com “Beyond the pale”.
Os mais atentos logo notaram a exibição da paixão futebolística dos integrantes do Mission, pois o amplificador de Craig estava decorado com uma bandeira do Leeds United e o de Wayne com uma do Liverpool.
Logo nos primeiros acordes, além de obviamente curtirem o show, os olhos dos fãs também estavam voltados para o novo baterista.
Afinal, Alex entrou no lugar de Mike Kelly, que saiu da banda em março, e os shows da “Deja Vu Tour” estão sendo os primeiros que ele faz com os novos companheiros.
Mesmo sendo um dos centros da atenção do público, ele se mostrou extremamente seguro na execução das músicas e no controle das bases de bateria eletrônica pré-gravadas que são inseridas em algumas canções.
A primeira música a realmente levantar os fãs foi “Severina”, canção que apresentou o The Mission ao público brasileiro, pois tocou muito nas rádios do país na metade dos anos 1980.
Na sequência do setlist, “Like a child again” foi apresentada em uma versão muito mais pesada em relação a que o grupo vinha tocando nos últimos anos.
Logo nas primeiras músicas, Wayne fez questão de elogiar bastante a Ópera de Arame, dizendo que o local era o mais bonito entre os que eles tocaram na tour até agora.
O amor curará as asas de uma borboleta que voa em círculos
Um dos momentos mais emocionantes do show foi quando a banda tocou “Butterfly on a wheel”. Durante a música, parte da iluminação foi direcionada para os globos espelhados que ficam em frente ao palco, criando um efeito muito bonito.
Ainda sob os aplusos da plateia, o grupo já emendou “Wasteland”, outra música que fez muito sucesso nas rádios brasileiras na década de 80.
Como sempre acontece, “Deliverance” foi uma das canções mais aplaudidas. O curioso é que, quando o The Mission toca essa música ao redor do mundo, principalmente na Europa, existe uma tradição na qual os fãs costumam subir ou até ficar em pé nos ombros de outro fã.
Em Curitiba, isso não aconteceu. Um exemplo dessa cena pode ser conferida no DVD “The Final Chapter” (2010).
Outro “ritual” que acontece nessa canção é que, durante o refrão final, a banda vai deixando o palco aos poucos, mas os fãs continuam a cantar. Na Ópera, essa comunhão foi um pouco menos intensa.
A quebra da conexão
No fim dessa primeira parte do show, parte do público já estava começando a sair da Ópera. Uma das justificativas pode ter sido o horário e o dia, pois o show aconteceu no meio da semana e a maioria das pessoas trabalha logo cedo.
Porém, se alguém vai a um show de uma banda ou artista do qual é fã, a atitude mais normal seria valer cada centavo do ingresso e assistir ao show até o fim. “Eu achei estranho a movimentação antes mesmo do 1º bis, pois vi muita gente indo embora. Quando a banda encerrou, esse fluxo de pessoas saindo só cresceu. Entretanto, todo mundo sabe que show tem esse teatro, que a banda encerra sabendo que terá que voltar, mas a plateia tem que fazer a parte dela e pedir pra banda fazer um bis”, diz o jornalista Filipe Albuquerque, que faz parte da Editora Sapopemba.
Na volta para o bis, durante a versão do Mission para a canção “Like a hurricane”, de Neil Young, aconteceu um fato que não é muito comum e que mudaria a sequência do show.
No refrão, Wayne parou de cantar, esperando que o público continuasse a letra. Porém, o coro da plateia quase não foi ouvido e isso (junto ao fato do público ter começado a sair antes do final do show) deixou o vocalista bem irritado.
Na verdade, essa não foi a primeira vez que Wayne ficou incomodado com o comportamento do público curitibano.
Em 2008, ele fez um show acústico no Jokers Pub e chegou a dar uma bela bronca na plateia (com toda razão) porque as pessoas estavam conversando alto, o que ofuscava o som da voz e do violão que vinha do palco.
Já em 2014, o Mission tocou no Espaço Cult (leia neste link a cobertura) e o show quase foi cancelado por causa de vários problemas técnicos que aconteceram ainda na passagem de som. No final, a banda fez uma renião no camarim e resolveu tocar, fazendo uma grande apresentação.
Voltando ao show n Ópera, depois desse momento tenso, o grupo tocou apenas “The crystal ocean” e, ao afinal da canção, Wayne agradeceu protocolarmente e o quarteto se retirou do palco sem um segundo bis.
Se o setlist dos shows mais recentes da turnê fosse seguido, a banda ainda tocaria mais duas músicas: “Belief” e o clássico “Tower of strength” (uma das melhores canções da história do Mission). Porém, não foi isso que aconteceu.
Mesmo assim, os fãs gostaram do que viram e alguns entenderam a reação de Wayne. “Os pedidos de bis foram bem amenos e parece que a banda percebeu. Quando eles voltaram, era visível que o pique deles tinha caído. A cereja no bolo foi a ‘Like a hurricane’, quando o Hussey pediu para a plateia cantar o refrão e ninguém cantou. Enquanto isso, muita gente ia embora. Foi uma pena. Tirando isso, o desempenho da banda foi excelente!”, complementa Filipe.
Vale ressaltar que esse tipo de situação é raríssima de acontecer em shows, principalmente com uma banda que tem fãs tão fiéis quanto o The Mission.
Além disso, até essa segunda-feira (31), a banda sequer citou a cidade de Curitiba nos posts que eles costumam fazer nas redes sociais do grupo para agradecer os fãs. isso não é nada comum porque Wayne usa bastante a internet para se comunicar com o público.
Apesar dessas situações inusitadas, os fãs que foram até a Ópera ficaram satisfeitos com o show. “Eu curti e me diverti bastante porque os caras tocaram com energia”, finaliza o músico curitibano Caio Marques.
Confira os vídeos das músicas “Butterfly on a wheel” e “Deliverance”, gravadas ao vivo no show do The Mission na Ópera de Arame.
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Gene Loves Jezebel, carisma e diversão
A abertura da noite foi da banda britânica Gene Loves Jezebel, na versão do vocalista Michael Aston. Como assim?
Acontece que grupo foi formado em 1980 pelos irmãos Jay e Michael Aston com o nome de Slav Aryan. No ano seguinte, a banda foi batizada como Gene Loves Jezebel e, a partir dali, eles lançaram três álbuns importantes para a cena musical da época: “Promise” (1983), “Imigrant” (1985) e “Discover” (1986).
Porém, no começo dos anos 1990, a relação dos irmãos Aston já estava bem conturbada, o que resultou na saída de Michael e no início de uma batalha judicial para decidir quem poderia utilizar o nome da banda.
Atualmente, Jay e Michael excursionam com duas versões do Gene Loves Jezebel. Em 2008, por exemplo, foi Jay Aston quem tocou em Curitiba em um show no Moinho Eventos que ainda teve o T.S.O.L. e o Echo and The Bunnymen.
Quatro anos depois, em 2012, ele voltou a se apresentar na capital paranaense, desta vez no Festival Lupaluna, que foi realizado no BioParque. Leia neste link a nossa cobertura.
O que você obtém é aquilo que você está vendo, desejo!
O grupo abriu o show com “Heartache”. Durante a música, Michael desceu rapidamente do palco e pegou uma bandeira do País de Gales (terra natal dos irmãos Aston), que foi colocada em cima do amplificador da guitarra.
O setlist da apresentação foi composto por canções do GLJ que têm um pouco mais da marca de Michael em relação ao irmão, como “Twenty killer hurts” e “Gorgeous”.
Longe de ser um grande vocalista na atualidade, Michael compensa a falta de voz com um carisma impressionante. Por isso, desde a primeira música do show, ele já conseguiu estabelecer uma conexão bem forte com o público.
O ápice dessa sinergia aconteceu em “Desire”, que foi a música do GLJ que mais fez sucesso no Brasil, quando Michal desceu do palco e foi cantar em meio ao público.
Na volta ao palco, a banda tocou “The motion of love”. Porém, antes de começar a cantar, Michael disse que “odiava essa canção”. A explicação talvez seja porque, na versão gravada no álbum “The House of Dolls” (1987), ela é cantada originalmente por Jay Aston.
Entretanto, mesmo com esse pretenso desdenho de Michael em relação à canção, ela é uma das preferidas so público e foi cantada do início ao fim.
No final, o vocalista agradeceu e a banda se retirou do palco. Poucos minutos depois, já durante a apresentação do Mission, Michael saiu dos camarins e foi para a entrada da Ópera para tirar fotos com os fãs.
Confira os vídeos das músicas “Desire” e “The motion of love”, gravadas ao vivo no show do Gene Loves Jezebel na Ópera de Arame.
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