Texto: Marcos Anubis
Fotos: Pri Oliveira

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Conhecido por performances marcantes e extremamente pesadas ao vivo, o trio curitibano Macumbazilla está dando início a um novo desafio: registrar em estúdio a mesma massa sonora que o grupo consegue no palco. O primeiro passo nesse sentido acaba de ser dado com o lançamento do single e do clipe de “Hellhounds”, a primeira música inédita lançada por André Nisgoski (guitarra e vocal), Carlos Piu (baixo) e Júlio Goss (bateria) desde 2014.

O lançamento aconteceu no dia 15 de novembro, data na qual são comemorados o Dia da Umbanda e a Proclamação da República. “Esse dia remete a um encontro do místico e do político, da fé e da libertação, de um poder considerado ‘superior’. É um dia que marca o nascimento da identidade do nosso país e também o dia de um religião que é criada no Brasil, mesmo que com origem fundada em características e qualidades de outras religiões”, diz André Nisgoski.

“Hellhounds” significa “cães infernais” e pode ter várias interpretações, de acordo com a visão de quem está ouvindo. “Cada um tem os seus cães do Inferno. Só você sabe o que te persegue a ponto de ficar paralisado ou o que você fez e sabe que vai voltar para te buscar lá na frente”, explica.

Musicalmente, o single tem um clima que remete às lendas que cercam o Blues, principalmente as que estão relacionadas aos tão falados pactos com o Diabo. O caso mais famoso nesse hall de “causos” é o do bluesmen norte-americano Robert Johnson, que oi retratado de maneira cinematográfica, mas baseada na própria história de Robert, no filme “A Encruzilhada” (1986). “O Robert Johnson é uma das referências de ‘Hellhounds’, pois a canção ‘Hellhounds on my trail’ é uma das músicas que deram início a toda essa mística de envolvimento de músicos com o ocultismo e tudo mais. Ao mesmo tempo, existem teorias de que ela falava sobre a perseguição racial que ocorria na época do Robert”, diz.

Com todas essas nuances, conceitualmente, o entendimento da canção depende da percepção de cada ouvinte. “A ‘Hellhounds’ pode ter vários significados diferentes, como boa parte das músicas do Macumbazilla. Ela pode ser sobre as escolhas que as pessoas fazem e as respectivas consequências desses atos, sobre o cerceamento do livre pensamento e expressão, sobre um pacto com o Diabo ou sobre o ciclo do poder, que é meio igual a um pacto com o Diabo (risos). Eu acho bacana que as pessoas possam interpretar uma letra de acordo com um momento da vida delas, pois essa é uma das mágicas da música. Não existe a necessidade de uma temporalidade”, analisa.

Uma das características criativas de “Hellhounds” é que o solo da música é feito com uma gaita de boca. De certa forma, isso não deixa de ser uma quebra de padrão dentro do Metal. “Nós já fizemos isso na música ‘Blood, beer and broken teeth’, então, achamos que é uma mistura interessante. Se analisarmos bem, o Sabbath já fez isso na ‘The Wizard’ e o Zeppelin na ‘When the levee breaks’. O Clutch também deu esse toque com gaita em ‘Electric worry’. Além disso, com uma canção que aborda a temática do bluesmen das trevas, seria meio herético não colocar uma gaita (risos). Tivemos a sorte de gravar com o Leandro Lopes, do Little Wilson e do Milk ‘n’ Blues. Ele é um verdadeiro bluesmen, um mestre da harmônica e uma excelente pessoa!”, diz.

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A volta aos estúdios

Esse hiato de cinco anos na produção fonográfica do Macumbazilla aconteceu porque, em 2017, a banda já deveria ter lançado um novo trabalho, mas a mixagem do material acabou atrasando demais. “Às vezes, o mundo da uma chacoalhada nos seus planos para ver o quanto você consegue se reorganizar (risos). Chegou um momento no qual decidimos chutar o pau da barraca, criar material novo e regravar tudo que tínhamos feito para o anterior”, conta.

No mesmo ano, o grupo começou a compor músicas novas e se preparar para registrar novamente as que já existiam. “A ‘Hellhounds’ foi a primeira música dessa safra nova. Então, pesquisamos estúdios e produtores locais para enfrentar esse processo conosco, já que a experiência à distância não tinha sido muito eficiente (risos). Acabamos fechando com o Thiago Brandão, do Vox Dei, que tem sido um ótimo parceiro e acrescentou muito ao nosso trabalho. Hoje, estamos com mais de 12 músicas gravadas e sendo finalizadas conforme a demanda pede. O bom é que, assim, temos tempo para analisar e acrescentar os detalhes das músicas pedem”, explica.

Formado em 2012, o Macumbazilla tem um EP lançado. Autointitulado, o álbum foi masterizado pelo músico e produtor Roy Z, que já trabalhou com inúmeras bandas, entre elas, o Judas Priest e o Sepultura. Roy produziu e tocou no álbum “The Chemical Wedding”, uma das obras primas da carreira solo do vocalista do Iron Maiden, Bruce Dickinson.

Desde essa época, a origem do nome Macumbazilla já causava muitas discussões e curiosidade entre os fãs do grupo. “Isso é papo de bêbado, só a cerveja poderia explicar melhor! Basicamente, é uma mistura de macumba com Godzilla. Venhamos e convenhamos, todo mundo já foi ameaçado com o famoso ‘vou colocar o teu nome na macumba’! Além disso, o Godzilla é demais, já destruiu a cidade de  Tóquio umas 50 vezes!”, brinca.

Após o lançamento de “Hellhounds”, o grupo já deve disponibilizar mais alguns singles no início de 2020. “Vamos lançar alguns singles e ver o que segue. Só temos como missão apresentar material novo com periodicidade para o público. Durante muitos anos, os fãs pediram para que a gente lançasse  coisas novas, assim, estamos fazendo um esforço para achar a melhor maneira de apresentar o material sem sobrecarregar a galera e dando a devida atenção a cada faixa nova”, conta.

Um dos novos singles terá a participação da Orquestra de Cordas do Iguaçu, da cidade de Tunas do Paraná, conduzida pelo maestro e arranjador Mateus Brandão. A ACI faz parte de um projeto social idealizado pelo músico José Maria Magalhães, da Orquestra Sinfônica do Paraná.

Confira o clipe de “Hellhounds” e o vídeo da canção “Colossus”, gravado ao  vivo no show do Macumbazilla na 2ª edição do Festival Crossroads Dia Mundial do Rock, que foi realizado em julho na Usina 5.