Wall of sound. A alcunha dada ao grupo escocês Jesus And Mary Chain não seria bem recebida pela maioria das bandas atuais, mais preocupadas com a estética do que com a inovação de sua música. Os irmãos Jim e William Reid, porém, se orgulham do adjetivo. O grupo se apresentou na noite deste domingo (25) no 18º Cultura Inglesa Festival , que foi realizado no Espaço das Américas, em São Paulo, debaixo de chuva.
Surgido no início dos anos 1980, o J&MC mostrou um novo/velho caminho para o rock inglês, absorvendo profundamente a melodia e a microfonia do Velvet Underground. Alguns de seus álbuns, como “Psychocandy” (1985) e “Darklands” (1987), chegaram muito perto do chamado “pop perfeito”, que era buscado como o Santo Graal da música, naquela época.
“Snakedriver” abriu o show. O setlist passeou por toda a carreira do Jesus, da urgência das baterias eletrônicas de “Between Planets” e “Blues From A Gun”, do álbum “Automatic” (1989), à doçura ácida de “Some Candy Talking” e “Just Like Honey”. Desde a sua formação, em 1984, o J&MC reafirmou que a máxima punk de fazer música com três acordes ainda era real e possível. Essa ideia sempre foi muito presente no discurso do grupo. Em uma entrevista na década de 80, por exemplo, William resumiu em uma frase a atitude do Jesus: “No começo da banda nós só conhecíamos três acordes. Depois aprendemos mais alguns”, revelou.
No show deste domingo, Jim se apresentou vestindo uma camiseta com a estampa do álbum “Loaded” do Velvet Underground, e manteve o mesmo estilo junkie e descompromissado que sempre o caracterizou. William, por vezes com sua guitarra desafinada, continua sendo um rockstar da simplicidade, conferindo a mesma atitude e energia à suas bases e solos. Discretos, como sempre foram.
“Vocês estão felizes com a chuva?”, perguntou Jim antes da clássica “Happy When It Rains”, que foi a trilha sonora perfeita para a típica noite paulistana. Mas um show do Jesus sem algumas músicas interrompidas não é um show do Jesus. Em “Sidewalking”, “Halfway To Crazy” e “Just Like Honey”, Jim gritou o seu tradicional “stop, stop” achando, aparentemente, que os instrumentos estavam desafinados. Dez segundos depois, a banda retomou as músicas, da mesma forma. Quantos grupos atuais você acredita que sobreviveriam a esse tipo de atitude em um show? Felizmente, o respeito à história do J&MC os precede.
“Reverence” encerrou a apresentação, mas a reverência fica para a banda escocesa. Em tempos de grupos descartáveis, cheios de pose e com pouca ou nenhuma musicalidade, Jim e William Reid mostram que ainda são indispensáveis.
Confira o show completo do Jesus And Mary Chain no 18º Cultura Inglesa Festival.
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