“Salve a malária!”. Qualquer roqueiro curitibano que se preze reconhece o refrão da canção da banda Motorocker. Após mais de 20 anos de estrada, o grupo tem conseguido se destacar no cenário nacional com uma bem sucedida turnê por todo o país e vem sendo apontado como uma das melhores bandas de rock and roll brasileiras, fato raríssimo para um artista de Curitiba.
A história
O Motorocker surgiu no final dos anos 1980. No início, seu repertório era, essencialmente, cover. Em 1993 o grupo se tornou um Tributo à banda australiana AC/DC. Três anos depois, os irmãos Malcolm e Angus Young deram aos curitibanos o honroso título de “melhor cover do AC/DC no mundo”.
Após alguns registros fonográficos que não agradaram os integrantes, em 2006 eles finalmente gravaram o que consideram o seu primeiro álbum. “Foi tudo graças ao Luciano Haluch, um fã que, na época, tinha o selo Marhceco Records. Juntei músicas dos primórdios do Motorocker com outras mais recentes e gravamos o “Igreja Universal do Reino do Rock”, relembra o vocalista Marcelus.
Após esse debut oficial, com o reconhecimento do público e da mídia nacional aumentando, a banda partiu para a rotina vivenciada diariamente por qualquer artista em ascensão: fazer shows em todos os recantos do país. A turnê do grupo já passou por mais de 60 cidades, como Goiânia, Brasília e Joaçaba. Apesar de ser cansativa, a vida na estrada tem as suas compensações. “Receber um abraço e ouvir palavras de um fã que está há mais de 2.000 quilômetros de sua cidade natal faz qualquer esforço valeu a pena”, afirma.
O respeito dos fãs
O público curitibano, nem sempre receptivo com os artistas locais, acolheu o Motorocker de uma forma impressionante. “Receber o carinho e respeito das pessoas que reconhecem o seu trabalho é o melhor cachê que existe, seja em Curitiba ou fora dela. Nos sentimos muito valorizados, sim!”, diz o vocalista.
Aproximadamente 50 fãs, inclusive, fizeram tatuagens da logo do grupo em seus corpos. “O Motorocker está na alma, não só em minha tatuagem. A banda me trouxe grandes alegrias e amizades”, afirma Priscila Dienifer, fã do quinteto desde 2006.
Curitiba tem visto novas artistas surgirem a cada ano, em todos os estilos. Apesar disso, a dificuldade que eles encontram para conseguirem um maior destaque no cenário musical brasileiro é histórica. “A cena se tornou imensa, porém dispersa. A quantidade de bandas disparou! Claro que a qualidade dos trabalhos se tornará um divisor de águas entre elas, em um futuro breve, mas mesmo assim, o músico curitibano terá muitas adversidades a enfrentar”, analisa Marcelus.
Não é somente em sua terra natal que a banda é respeitada. Em uma votação popular realizada no ano passado por um site especializado em música, o grupo foi eleito, pela segunda vez, o melhor do rock nacional. Na categoria melhor vocalista, Marcelus conseguiu o segundo posto. “Temos os melhores fãs do mundo, e isso é nosso maior motivo de orgulho. Todos juntos formam um corpo vivo só, um exército rock and roll. Eles nos colocaram lá. Eles são nosso maior patrimônio”, agradece.
A discussão sobre a falta de apoio e de reconhecimento do público, em Curitiba, é um assunto polêmico. Viver de música, na cidade, envolve muitos riscos e obstáculos. “Tocar em uma banda não é pra qualquer um. Não sou melhor do que ninguém, não me interprete mal, digo isso porque estou nesse negócio há mais de 20 anos e já vi muitos abandonarem a estrada, mesmo quando estão ganhando grana e desfrutando de certos privilégios que esta vida nos dá”, afirma.
A estrutura da banda
Como uma grande parcela dos artistas nacionais, o Motorocker faz tudo de forma independente. A renda da banda vem da venda de produtos e CDs em shows por todo o país. “Nossas letras são um tanto subversivas, então isso dificulta um pouco as coisas. Se aparecer algum louco de um selo forte ou de uma gravadora nervosa, sentaremos para tomar uma e conversaremos sobre as possibilidades”, diz.
Entre os itens vendidos em suas turnês está a cerveja da banda, fabricada em uma cervejaria de Araucária pelo mestre cervejeiro Luciano Wenski. A ideia surgiu em 2011, após uma visita para conhecer o local. “Depois de termos tomado, cada um, uns cinco litros das cervejas mais deliciosas de nossas vidas, nossa produtora, que não tinha bebido, disse: Ei! Seria possível fazermos uma cerveja da banda? Escolhemos os aromas e os ingredientes e assim foi criada a Munich Dunkel Motorocker. Receita única e exclusiva”, explica Marcelus.
As conquistas
Expo Trade, 2011. Abrindo para a atração principal da noite, o lendário grupo inglês Iron Maiden, a banda curitibana fez 15.000 pessoas pularem e cantarem suas músicas. “O público esteve maravilhoso. Você abrir o show de um monstro sagrado do heavy metal e não ser, no mínimo, ignorado, é coisa rara. A equipe do Iron nos abraçou e elogiou muito nossa performance após o nosso show”, relembra.
A apresentação rendeu elogios até no site do grupo inglês, que publicou uma nota elogiando os curitibanos. “O Motorocker abriu o show e foram realmente bem. Eles me lembraram muito do velho AC/DC e até fizeram um cover de ‘Let There Be Rock’. O público pareceu ter gostado muito. Uma banda espetacular ao vivo”, dizia o texto.
O grupo também participou de um CD Tributo ao Nazareth, organizado pelo guitarrista e fundador da banda escocesa, Manny Charlton. Com tantas conquistas, os planos da para 2013 incluem um novo trabalho. “Estamos esperando a captação de recursos do nosso projeto, que já foi aprovado, para finalizar o novo álbum”, revela.
Uma banda de rock and roll se faz respeitar em cima de um palco, tocando e encarando o seu o seu público. Como ao vivo o Motorocker é, reconhecidamente, um dos melhores grupos do país, eles pretendem gravar algumas de suas apresentações e lançá-las em um DVD. “A intenção é fazer isso esse ano, e vai ser aqui em Curitiba”, conta.
O Motorocker talvez esteja apontando um caminho para as bandas curitibanas trilharem. Apesar de todas as dificuldades que elas, sabidamente, enfrentam. Como não existe uma “fórmula mágica” para um artista se destacar, são muitos os fatores que estão impulsionando o grupo à voos maiores. “O segredo principal do ‘sucesso’ do Motorocker é trabalho, disposição, disciplina, respeito pelo público e um bom bocado de sorte”, finaliza Marcelus.
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