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A formação atual do Ovos Presley. Wallace é o primeiro da esquerda e Nei Rodrigues o primeiro da direita (Foto – Divulgação/Ovos Presley)

 

A cena psychobilly curitibana é respeitada como uma das mais fortes do país. A fama é mais do que justificada, pois a cidade é repleta de boas bandas e tem uma participação intensa dos fãs do estilo. Um dos nomes mais antigos e tradicionais nesse cenário é o Ovos Presley.

Em qualquer parte do planeta, nenhum artista consegue se destacar, por melhor que ele seja, sem uma cena forte. A estrutura que a cultura billy de Curitiba conseguiu criar, aliada à participação dos fãs do estilo, lotando shows e adquirindo material dos grupos, impressiona. “Antes de eu começar a participar e fazer os festivais, quando frequentava os shows das bandas Missionários, Playmobilies e Os Cervejas, eu já percebia que ali que existia um diferencial na organização e na preocupação com a produção”, conta o guitarrista do Ovos, Wallace Barreto.

De acordo com Nei Rodrigues, baixista do Ovos Presley, o pontapé inicial nessa nova era do psychobilly curitibano foi o surgimento de dois festivais. “O primeiro foi em 1996, o ‘Psychobilly Fest’ que até hoje é uma super referência para as bandas que querem se apresentar aqui em Curitiba”, diz.

O tradicional Psycho Carnival, que acontece anualmente durante o carnaval e teve, em 2013, a sua 14º edição, é o segundo fator preponderante nessa equação. O evento, que começou no ano 2000 como uma reunião de amigos, hoje é reconhecido internacionalmente e atrai fãs de todo o mundo. “Já perdi a conta de quanta gente já passou por aqui, entre elas as principais bandas do psychobilly mundial como The Meteors, Batmobille, Frantic FlintstonesMad SinNekromantics Demented Are Go, entre outros. Aí esta o seu diferencial!”, afirma Nei.

Além dos grandes ícones do estilo, o festival sempre abriu espaço para os grupos nacionais. Essa noção de que uma cena, para ser forte, precisa se preocupar com shows periódicos, participação do público e respeito às bandas, persiste, até hoje. “Foi a partir dos festivais que isso tudo foi pulverizado. Até hoje tentamos manter os mesmos cuidados que tínhamos no início”, complementa Wallace.

 

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A primeira formação da banda, no começo dos anos 1990 (Foto – Arquivo pessoal/Nei Rodrigues)

 

A história do Ovos Presley

O nome do grupo surgiu em 1991, mas a primeira formação da banda, que tinha Ademir no vocal, Wallace na guitarra, Matheus Moro na bateria e Bofunfa no baixo, data de 1993.

A ideia, desde o início, era fazer um som baseado no psychobilly. “A temática musical do estilo tem referências em filmes de terror B, sexo, jogatina, carrões envenenados, discos voadores etc”, explica Nei.

As características do som do quarteto, após duas décadas de luta, continuam as mesmas, assim como o espírito dos músicos. “Somos conhecidos por todos pela nossa simplicidade, irreverência e letras divertidas que falam sobre várias coisas com que a maioria das pessoas se identificam”, diz Nei.

O Ovos Presley tem dois CDs lançados, “A Date With Ovos” (1997) e “PsychoPunk‘a’BillyBoogie” (2012). Além desse material, o grupo tem quatro demo tapes em fita K7 e participou de nove coletâneas com outras bandas.

O segundo trabalho do Ovos foi gravado, como sempre, em meio às dificuldades enfrentadas por qualquer grupo underground no Brasil. “Nosso ex-baterista, o Fabio Banks, que estava trabalhando na Inter.Liga Cwb, uma caixa contendo 12 CDs de bandas locais, nos convidou pra esse projeto. O Banks, por já ter tocado conosco, cooperou muito na hora da gravação para que chegássemos em um resultado que agradasse a todos”, relembra Nei. A parte gráfica de “PsychoPunk‘a’BillyBoogie” foi feita pelo artista gráfico Anderson L.A., do estúdio Natureza Morta, e as fotos foram produzidas por Rodrigo Juste Duarte.

A arte da sobrevivência, ou a sobrevivência da arte

O número de boas bandas curitibanas que ficaram pelo meio do caminho, se desiludindo com a falta de apoio do público da cidade, é enorme. De acordo com o baixista, uma dos motivos que fizeram o Ovos Presley se manter vivo por mais de 20 anos foi nunca terem se preocupado com o sucesso. “Sempre fomos uma banda independente, nascida na cena underground, e nunca fizemos esforço para sair dela. Plantamos isso no decorrer dos anos e o que recebemos em troca sempre foi o carinho e o reconhecimento do público e dos amigos em todo o Brasil”, avalia Nei.

Continuar acreditando que a sua arte, a sua música, vale qualquer sacrifício é uma atitude que poucos continuam a ter. “Acho que estamos por aí, ainda, devido ao que sempre fizemos, rock and roll com muito simplicidade e honestidade sem seguir rótulos ou modinhas”, analisa Nei.

O motivo dessa crença, segundo Wallace, é simples. “Em resumo, para mim, é a amizade. Se fossemos profissionais não teríamos passado tantos anos juntos, como observo por aí”, finaliza.

Ouça “Apodrecer”, do recém lançado “PsychoPunk‘a’BillyBoogie” .