Texto: Marcos Anubis
Revisão: Pri Oliveira
Fotos: Divulgação/ Avocado Agência

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Um dos espetáculos mais aguardados da 27ª edição do Festival de Curitiba, o mais tradicional evento do teatro brasileiro, não envolve só as artes cênicas. A capital paranaense também será palco da pré-estreia da Ópera Rock “Doze Flores Amarelas”, dos Titãs, um projeto ousado de uma das mais importantes bandas da história do rock nacional.

Serão dois shows no Teatro Guaíra, nos dias 3 de abril (ensaio aberto) e 4 (pré-estreia), que prometem levantar questões que são absolutamente relevantes na atual sociedade brasileira. Afinal, Tony Bellotto (guitarra), Sergio Brito (teclado, baixo e vocal), Branco Mello (baixo e vocal), Mario Fabre (bateria) e Beto Lee (guitarra) abordam temas que estão muito presentes na vida do Brasil, como a violência e o estupro.

Dessa perspectiva, o enredo do espetáculo, criado em conjunto com o escritor Marcelo Rubens Paiva e com o dramaturgo e diretor do grupo de teatro Parlapatões, Hugo Possolo, é quase um reflexo do país. “É difícil precisar o que motiva uma inspiração, ou o toque inicial (e mágico) de uma criação artística. Mas é claro que os temas presentes, não só a violência contra a mulher, como também o hedonismo de parte da juventude e a influência da tecnologia no comportamento das pessoas, acabaram nos sensibilizando. Aliás, nossos grandes discos sempre tiveram essa preocupação, a de, sem ser panfletários, comunicar uma reflexão sobre o senso comum, uma percepção pessoal do que acontece ao nosso redor”, explica Tony.

Os últimos acontecimentos também colocam ainda mais lenha na fogueira de “Doze Flores Amarelas”. Afinal, o assassinato brutal da vereadora Marielle Franco, no Rio de Janeiro, ajudou a colocar em xeque a já capenga democracia brasileira.

Como a Ópera Rock aborda justamente temas relacionados à violência contra a mulher, Tony destaca a importância dos artistas e da sociedade se posicionarem a respeito desses assuntos. “Acho que, como cidadãos, temos a obrigação de estarmos vigilantes, atentos e sensíveis a essas questões. Como artistas, encontramos motivação e inspiração ao tratar desses temas”, diz.

No espetáculo, por meio das músicas, entre elas, “A festa”, “Me estuprem” e a faixa-título, o enredo da Ópera Rock apresenta a história de três jovens estudantes batizadas de Maria A, Maria B e Maria C. Viciadas em tecnologia, as meninas usam e abusam de um aplicativo chamado Facilitador. Em uma dessas buscas por diversão, as garotas acabam sendo enganadas e violentadas por cinco colegas. A partir daí, o desejo de vingança move as atitudes das Marias.

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A materialização da Ópera

Para materializar a ideia da Ópera, Tony, Sergio e Branco reuniram um time de grandes talentos. “Foi natural. Chamamos pessoas competentes com quem já trabalhamos ou com quem tínhamos afinidades. Depois eles foram trazendo novos agregados, como a Olívia (coreógrafa) ou o Bonfanti (iluminador), entre muitos outros. Todos, de alguma forma, se envolveram emocionalmente com o projeto, e a sensação, nos ensaios, é de uma grande harmonia e expectativa positiva por um trabalho que é inédito no Brasil”, conta.

“Doze Flores Amarelas” demorou pouco mais de dois anos para ser concretizado e é composta por 25 canções inéditas, criadas especialmente para o espetáculo. “Também usamos a narração da Rita Lee em momentos pontuais para que as pessoas possam compreender melhor o enredo. Além disso, temos também alguns arranjos de orquestra e interlúdios compostos pelo Jaques Morelenbaum, com quem já trabalhamos no ‘Acústico MTV’ e no ‘Volume Dois’. Tudo isso sob a direção instigante do Hugo Possolo e do Otávio Juliano, que trouxeram para a nossa ópera o seu know-how e as suas vivências em teatro e musicais”, explica.

Outro fator que precisou der “adaptado” ao formato da Ópera Rock foi o comportamento dos Titãs no palco. Em suas quase quatro décadas de estrada, a banda sempre foi conhecida por fazer apresentações enérgicas. Dessa vez, o trio precisou se “acalmar” um pouco. “Não é um show normal, embora os diretores tenham tomado o cuidado de não nos ‘engessar’ no palco com muitas marcações. Esse trabalho cênico fica mais a cargo das cantoras/atrizes Corinna, Cíntya e Yas, que formam um espetáculo à parte, dando um banho de competência e energia”, revela.

O fato de a banda ter escolhido o Festival de Curitiba (um habitat diferente, com um cenário mais crítico) para a pré-estreia da Ópera é mais um desafio para os Titãs. “Recebemos o convite e ficamos honrados. O Festival de Curitiba é muito prestigiado e relevante, e nos pareceu interessante, como banda de Rock, participar de um festival de teatro, algo que só a Ópera Rock pode proporcionar. Como não haveria tempo de estarmos cem por cento prontos até lá, decidimos fazer um ensaio aberto e uma pré-estreia, para que qualquer imperfeição seja compreendida e perdoada. Porém, pelo andamento dos ensaios, acredito que estaremos a todo vapor. Estamos muito motivados! Um projeto diferenciado como esse merece uma pré-estreia em uma ocasião especial como o Festival de Curitiba nos proporciona. Não podíamos deixar de aceitar um convite tão especial, nós que sempre gostamos de ousadias e desafios”, analisa Tony.

Apesar do foco estar voltado para o novo desafio do grupo, é possível que os fãs ainda sejam presenteados com alguns clássicos da carreira da banda. “Só tocaremos as músicas da Ópera, inéditas e especialmente compostas para o espetáculo. É claro que, se depois do fim, o público exigir, podemos dar uma canja com algumas coisas do passado”, finaliza Tony Bellotto.

Os dois shows começam às 21h. Os ingressos custam R$ 70 (inteira) e R$ 35 (meia-entrada). Os bilhetes podem ser comprados no site do Festival de Curitiba, no aplicativo do evento e nas bilheterias localizadas nos shoppings Mueller e ParkShopping Barigüi.

A classificação etária é de 14 anos. O Teatro Guaíra fica na Rua Conselheiro Laurindo, s/n, no Centro.