Texto: Marcos Anubis
Fotos e revisão: Pri Oliveira/Cwb Live

Além de alguns de seus grandes sucessos, a cantora paraibana interpretou clássicos de Dominguinhos, Belchior e Zé Ramalho



Poucos artistas brasileiros ainda alimentam a necessidade de permanecer conectado às raízes musicais e pessoais. A cantora Elba Ramalho é uma dessas exceções, afinal, a cultura nordestina é uma parte integrante de toda a obra dessa paraibana desde o seu álbum de estreia, “Ave de Prata” (1979).

Nessa sexta-feira (11), Elba fez a primeira de cinco apresentações na Caixa Cultural Curitiba e apresentou parte dessa rica diversidade. Manter vivo o legado dos grandes artistas do Nordeste é, praticamente, uma missão para a cantora. “Estamos falando da cultura, da nossa identidade, de quem realmente somos. Estou mobilizada e faço parte de um movimento que está lutando para defender e salvaguardar as tradições deste nosso bem que está sendo desconstruído na sua essência e perdendo espaço nos meios de comunicação. Vamos conseguir fazer com que o Forró seja reconhecido pelo IPHAN como patrimônio imaterial. Seja Forró, Xaxado, Xote, Baião ou Arrasta-pé, é tudo música boa, música brasileira de qualidade”, diz Elba.



Alma, coração e paixão pela música

Ela abriu a apresentação com “Olhando o coração”, “Gostoso demais” e “Rio de sonho”. Boa parte do repertório do show, batizado de “Canções de Dominguinhos”, foi composto por canções que ilustram a relação de música e amizade que Elba manteve durante as últimas décadas com o músico, cantor e compositor pernambucano. “Eu gravei quase 30 composições do mestre Dominguinhos. Ele era um amigo muito querido, e nossas famílias se aproximaram em função da música. Ele era uma pessoa doce e sensível, um dos maiores músicos do mundo, no mesmo nível de Tom Jobim, Dorival Caymmi e Gonzagão. O Dominguinhos era um gênio”, elogia.

Elba Ramalho é uma artista que canta com a alma. A entrega que a cantora demonstra no palco emociona até os fãs mais antigos, pois cada frase das canções, sejam autorais ou versões, é interpretada de forma profunda. Acompanhada por Marcos Arcanjo (violão e guitarra), Fofão (baixo), Tostão Queiroga (bateria) e Meninão (acordeom), Elba também incluiu canções de outros artistas no setlist, entre elas, “A palo seco”, de Belchior; e “Chão de giz”, de Zé Ramalho. Um dos momentos mais fortes da apresentação foi a canção “Lamento sertanejo”, de Dominguinhos, que teve uma interpretação tocante e sensível, como a letra pede.

Por causa da capacidade da Caixa Cultural (127 pessoas), naturalmente, a apresentação adquiriu um clima bem intimista, diferente dos shows em grandes palcos. Mesmo assim, Elba mostrou uma forte capacidade de transformar o encontro em uma grande festa entre amigos. “Não tenho nenhuma dificuldade neste sentido. Mesmo em apresentações ao ar livre, eu converso com o público e procuro estabelecer uma relação de proximidade. É claro que, em uma sala intimista, a comunicação flui melhor ainda. Eu atendo pedidos da plateia e o ambiente se torna muito aconchegante. Sou atriz, e o teatro traz esta cumplicidade. Eu me sinto plena nesse tipo de espetáculo”, diz.

Entre os pedidos do público, ela interpretou “Frisson”, grande sucesso do cantor Tunai, e “Dia branco”, de Geraldo Azevedo, que possui uma linha vocal em tom altíssimo mas, mesmo assim, Elba não se furtou a alcançar.



Coração nordestino

A música nordestina é riquíssima, repleta de ritmos diferentes e, como poucos, Elba sempre fez questão de mergulhar nesse mar criativo em seu trabalho. No último dia 3, inclusive, ela foi homenageada durante a 10º edição do Troféu Gonzagão, em Campina Grande, na Paraíba, justamente por sua contribuição para manter essa cultura viva e sempre em evidência.

Porém, durante os seus quase 50 anos de carreira, Elba também soube absorver outros elementos musicais, como o Rock. Um grande exemplo dessa mistura é o álbum “Eu Sou o Caminho”, lançado no final do ano passado. No CD, ela apresenta 12 músicas bem distintas. Entre inéditas e regravações, a cantora interpreta músicas como “O homem”, de Roberto Carlos e Erasmo, e “Ave Maria”, do austríaco Franz Schubert.

“Eu Sou o Caminho” remete à religiosidade, uma das linhas mestras da vida pessoal de Elba. “É um disco de devoção, um trabalho muito pessoal. Eu diria que são canções de elevação espiritual. A minha fé foi o conceito desse álbum. Há 15 anos eu produzi um disco que se chamava ‘Coração de Mãe’, reunindo grandes nomes da MPB. Agora, ratifico a minha religiosidade com esse disco, que é um álbum de MPB, para refletir. Não canto por cantar. Sou intérprete e tenho a obrigação de escolher a canção que me toca”, afirma.

Entre os artistas brasileiros, Elba é, sem dúvidas, uma das cantoras que mantêm uma relação mais próxima com o público. Mas não permitir que essa conexão se quebre é uma luta constante. “Hoje é tudo tão digital, tão etéreo, que não sei ao certo quando estamos atingindo o nosso público. A minha conexão está na música. Ela é a mais catalisadora de todas as artes. A música é universal, nos une e faz bem”, analisa.

Elba costuma ser muito bem recebida em Curitiba. Claramente, entre o público que esteve na Caixa Cultural, estavam presentes vários fãs verdadeiros, que acompanham a carreira da cantora desde o início. Por causa dessa conexão afetiva com a capital paranaense, a cidade traz grandes lembranças para a cantora. “Felizmente, eu tenho uma ótima relação com o público de Curitiba. Eu me recordo de duas situações bem especiais: uma foi na Pedreira Paulo Leminski, quando me apresentei para o Dalai Lama. Em outra ocasião, no próprio Teatro da Caixa, eu passei meu aniversário em Curitiba, e minhas filhas fizeram uma surpresa com parabéns e bolo no palco”, finaliza Elba Ramalho.

Elba encerrou o show com o clássico “Banho de cheiro” e com “Eva”, grande sucesso da banda Rádio Táxi, no início dos anos 1980, que foi gravada depois por Ivete Sangalo. A cantora faz mais quatro shows na Caixa Cultural Curitiba, neste final de semana: no sábado (12), às 19h e às 21h, e no domingo, às 18h e às 20h.

Assista a um vídeo do show e confira também o nosso álbum de fotos da apresentação.

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Elba Ramalho - Caixa Cultural - 11/05/2018