Vlad

Vlad Urban, uma vida dedicada ao Psychobilly (Foto – Billy Tombstone)

 

“Eu pego a minha jaqueta eu vou para a rua. Eu não dou a mínima. Eu estou indo para beber. Meu grupo está no outro lado da cidade. O Psychobilly está em toda parte”.

 

Os versos cantados pelo guitarrista e vocalista Vlad Urban na música “Psychobilly Is All Around”, da banda curitibana Os Cervejas, refletem a alma do movimento psychobilly. Nela, liberdade, atitude e postura permeiam a cena musical mais forte e organizada de Curitiba.

Hoje tem início mais uma edição, a 16ª, do mundialmente respeitado festival Psycho Carnival. Serão 20 bandas, sendo 14 nacionais e seis internacionais que desfilarão pelo palco do Espaço Cult até a próxima segunda-feira (16).

Desde o ano 2000, o músico e produtor cultural Vladimir Urban é um dos organizadores do Psycho Carnival, que ao longo desses 16 anos conquistou respeito e admiração em todo o mundo. Esse status, porém, não nasceu do dia para a noite. Ele é alimentado principalmente pela atitude empreendedora do movimento psycho curitibano.

A alma psychobilly

 

Como a maioria dos gêneros musicais, o Psychobilly é mais do que simplesmente música. Vlad é considerado por toda a cena psycho curitibana como uma das figuras mais importantes para a construção desse cenário. Seu trabalho como guitarrista e vocalista de bandas seminais na história da música da capital paranaense, como Os Catalépticos e o Sick Sick Sinners, e a sua batalha à frente do movimento psycho da cidade, o tornam um dos símbolos dessa resistência cultural.

Vlad define o estilo de forma forte e direta. “Em poucas palavras, é um mix de Rockabilly, Punk Rock e temas de filmes de terror. Como se Sid Vicious montasse uma banda com um Elvis Presley zumbi”, explica. Essa é uma definição mais pura do Psychobilly, que surgiu no final dos anos 1970, começo dos oitenta. Atualmente, quase 40 anos após o seu nascimento, o estilo passou a incorporar outras sonoridades. “Hoje ele tem uma pegada própria e algumas bandas usam mais elementos Rockabilly, Metal, Punk, Hardcore, Surf Music ou Garage para deixar o seu estilo do jeito que acham melhor. O Psychobilly sempre foi um estilo bem underground. Não é fácil ouvir essas bandas nas rádios ou ver na TV”, complementa.

O nascimento do Psycho Carnival

 

A história do Psycho Carnival está diretamente ligada ao festival Psychobilly Fest, criado pelo guitarrista e vocalista da banda curitibana Ovos Presley, Wallace Barreto. O grupo, aliás, é apontado como um dos maiores responsáveis pela transformação da cena psychobilly curitibana na potência que ela é atualmente.

A primeira edição do Psychobilly Fest aconteceu no dia 29 de junho de 1996 no Bar do Meio, que ficava na Rua Clotário Portugal, no Centro de Curitiba, e teve como atrações as bandas Kráppulas, Maniac Rockers e o próprio Ovos Presley. “Foi o Wallace que teve a ideia de criar um evento que foi batizado como Psychobilly Fest. Isso foi muito bacana porque formou esse embrião da cena que existe até hoje”, explica Vlad, que a partir de 1999 começou a participar da organização do festival.

Na mesma época, uma série de iniciativas funcionaram como um catalisador para que o movimento se fortalecesse. Uma delas foi o fanzine “Monstro”, que era usado como um veículo de comunicação para que os fãs soubessem o que estava acontecendo na cena local e mundial. “Foi muito importante porque nós conseguíamos divulgar toda a estética, mostrar as bandas e fazer entrevistas”, relembra. Outro fator importante foi o programa “Transylvania Express”, que ia ao ar na extinta rádio Estação Primeira. Nele, Vlad Urban fazia a seleção musical e levava aos ouvintes as novidades do mundo psychobilly.

Curitiba tinha vários bares na época, mas os adeptos do movimento psycho preferiam se reunir no pequeno Maxi Frango, ao lado do tradicional Sheena na Rua Inácio Lustosa. Ali eles se encontravam para trocar ideias, formar bandas e divulgar o que estava acontecendo. Essa união entre os organizadores dos eventos e os adeptos do Psychobilly é nitidamente uma das grandes razões para que essa cena se mantenha forte até hoje. “A cena curitibana tem a característica de ser bem organizada, sempre fazendo eventos e de alguma forma divulgando bastante a música, seus festivais e bandas. Em termos musicais é bem diversificado. Dá para dizer que temos quase todas as tendências de Psychobilly por aqui”, afirma. O fato é que a junção de todos esses fatores criou um clima favorável para um passo ainda maior.

As primeiras edições

 

Com a semente lançada, e uma cena já em evolução, estava pronta a base para a criação do Psycho Carnival. A primeira edição aconteceu no dia 12 de fevereiro do ano 2000 no bar 92 Graus. As atrações foram Os Catalépticos, Ovos Presley, Demon Drunx e Kosmic Gorilaz.

Uma das curiosidades do debut do festival foi a “apresentação” da banda francesa Skatafiles. O baixista do grupo, Sex Starved, era o responsável pelo site dos Catalépticos, e não estava muito “seguro” para realizar o show. “Eles pediram para não aparecer no cartaz, pois não sabiam se iam tocar. Quem acabou tocando guitarra para eles foi o Coxinha, porque o guitarrista deles não se sentia bem para se apresentar (risos)”, conta. Coxinha é uma das alcunhas do multi-instrumentista curitibano Mutant Cox que, entre outros projetos, atualmente é baixista do Sick Sick Sinners e guitarrista e vocalista do Hillbilly Rawhide.

A partir daí, a cada ano que passava, o festival se consolidava e atraía mais público, passando a ser conhecido também fora do país. Hoje, é comum as bandas internacionais entrarem em contato para demonstrar interesse em tocar no evento, por conta da presença de público e da organização. “Quando nós fomos tocar na Europa e vimos como eram feitos os festivais por lá, isso nos deu o suporte para fazer com que o Psycho Carnival crescesse e se tornasse o que ele é hoje. Atualmente, ele é até maior que alguns festivais europeus”, afirma.

Uma das provas dessa evolução é a aceitação do evento. Hoje, o Psycho Carnival não recebe só os membros da cena psycho. Quem não tem samba no pé, seja por qual for o motivo, encontra no festival uma forma de fugir dos batuques carnavalescos da época. “O crescimento dele foi muito natural, por conta dessa questão do Carnaval”, explica.

Shows históricos

 

Em suas 16 edições, o Psycho Carnival recebeu várias bandas fundamentais do movimento Psychobilly, como o Cenobites, Demented Are Go, The Sharks e King Kurt. Alguns momentos, porém, marcaram os organizadores e o público de uma forma especial, como a apresentação da banda alemã Chibuku, em 2003. “Foi muito importante, pois era a primeira vez que eles vinham para o festival, que estava na sua quarta edição. Foram três dias de Psycho Carnival e nós tivemos um público de 600 pessoas”, relembra.

A edição de 2006 também é lembrada porque foi a despedida dos Catalépticos, uma das grandes referências do Psychobilly curitibano e brasileiro. “Foi marcante por isso e pelo fato de nós termos conseguido trazer, pela primeira vez, uma das grandes bandas do estilo, o Batmobile”, conta.

Nesse episódio, mais uma vez a cena psychobilly da cidade mostrou a sua força e a sua consciência. Em função do custo para trazer uma atração desse porte, boa parte das bandas concordou em não receber cachê para que fosse possível contratar o Batmobile. “E valeu muito a pena porque foi um grande show no Jokers. Eu lembro que teve um problema de som e os caras levaram algumas músicas praticamente no ‘gogó’. Todos citam esse show como um dos principais do Psycho Carnival”, relembra. “Por mais que a nossa cena tenha alguns caras que fazem as coisas acontecerem, a cumplicidade de todos é muito grande no sentido de querer que a coisa aconteça”, complementa.

As dificuldades na organização

 

Mesmo com todo o sucesso e respeito que o festival conquistou ao longo do tempo, a parte financeira continua sendo a maior dificuldade para a sua realização. A principal fonte de renda do Psycho Carnival são os ingressos. É o público que garante ou não a viabilidade financeira do evento. “O que mais pesa para trazer as bandas é o custo das passagens”, explica Vlad.

Em 2014 o evento teve o apoio da Fundação Cultural de Curitiba, fato que se repetirá nesta edição. Por conta disso, foi realizado também o Curitiba Rock Carnival, paralelamente ao Psycho Carnival. Nele, artistas locais que não estão necessariamente ligados ao cenário psychobilly também são chamados para apresentarem seus trabalhos.  “Além das bandas internacionais, nós não deixamos de colocar os grupos daqui. Na edição 2014, por exemplo, se apresentaram o Hillbilly Rawhide, Pelebrói Não Sei, Beijo AA Força e Motorocker, que são atrações muito fortes. E o mais legal foi ver o público cantando as músicas deles. Isso mostra que o som que é feito aqui é viável”, finaliza Vlad Urban. A edição 2015 do Rock Carnival acontece no sábado (14) e domingo (15) no estacionamento da Câmara Municipal de Curitiba e terá várias atrações, como os americanos do Man Or Astroman e a curitibana Relespública.

O Psycho Carnival acontece de hoje até a próxima segunda-feira (16) no Espaço Cult, em Curitiba. Confira neste link os valores e pontos de venda dos ingressos, além da programação completa. Assista alguns dos grandes momentos da história do Psycho Carnival.