Texto: Marcos Anubis
Fotos: Divulgação Katatonia




A banda sueca Katatonia acaba de lançar o álbum “City Burials”, o 12º trabalho de estúdio da carreira do grupo. No Brasil, o CD foi licenciado de maneira exclusiva pelo selo curitibano Mindscrape Music.

O álbum tem 16 faixas, sendo uma música bônus, “Fighters”, que é uma versão para a canção da banda sueca Enter The Hunt. “City Burials” vem em um embalagem digipack com laminação fosca e traz um encarte com 16 páginas.

As 100 primeiras pessoas que comprarem o CD diretamente com o selo curitibano também levam um pôster do álbum com dimensão de 36 x 48 cm. A Mindscrape vem se destacando nos últimos anos por licenciar e, dessa maneira, trazer ao Brasil trabalhos de bandas importantes no cenário Heavy Metal internacional.

Entre os últimos lançamentos do selo estão os CDs “Transilvanian Hunger”, do Darkthrone, e a reedição do álbum “The Way of Regret”, da banda curitibana Eternal Sorrow. Os pedidos podem ser efetuados pelo site da Mindscrape ou por meio do e-mail contato@mindscrape.net.




Peso, cadência e climas soturnos

 

“Em dias e noites de preto e prata, o rei do beco sem saída chegará. De pedaços de espelhos quebrados, uma coroa será concedida à sua cabeça. Nos reflexos do vidro quebrado, não apenas as estações mudarão, mas também a mudança disfarçada pelo lapso de tempo. Sua mente terá que suportar o peso de tudo o que foi deixado para trás e esquecido. Arquivar o inacessível. Celebrando os abandonados e lamentando os destruídos. Os enterros da cidade”. O texto do guitarrista do Katanonia, Anders Nyström, publicado no site da banda para explicar o contexto do novo álbum, retrata bem o clima obscuro de “City Burials”.

O Katatonia foi formado em 1991 na capital sueca, Estocolmo, por Jonas Renkse (vocal e guitarra), Anders Nyström “Blakkheim” (guitarra). A primeira demo, “Jhva Elohim Meth”, saiu em 1992 e, no final de 1993, o grupo lançou o álbum de estreia, “Dance of December Souls”. Esses dois primeiros trabalhos, ao lado do CD “Brave Murder Day” (1996), definiram as bases do som do grupo sueco.

Porém, aos poucos, o Doom com elementos de Death dessa primeira fase da banda foi sendo transformado em um som mais complexo e cheio de outras referências. Obviamente, os fãs mais puristas estranharam ou mesmo deixaram de gostar do grupo, mas a banda continuou experimentando e acrescentando mais influências a cada álbum. De lá pra cá, nesses 29 anos de vida, o Katatonia fez questão de seguir outras direções e buscar novos horizontes musicais. Assim, “City Burials” é mais um capítulo nessa longa história.

Esse é o primeiro álbum do Katatonia desde “The Fall of Hearts” (2016). Porém, a decisão de não lançar nenhum material inédito durante todo esse tempo foi proposital e acabou sendo tomada logo após o fim da turnê do último CD. Posteriormente, com a cabeça mais arejada em relação às pesadas e desgastantes turnês, o grupo resolveu compor com calma as canções do novo álbum.

O resultado pode ser avaliado agora com o lançamento de “City Burials”. Musicalmente, apesar de manter a essência do Doom e do Metal Progressivo que sempre caracterizaram o som do grupo, a banda não se prende a uma fórmula pré-estabelecida.

Jonas Renkse (vocal e guitarra), Anders Nyström “Blakkheim” (guitarra), Roger Öjersson (guitarra), Niklas “Nille” Sandin (baixo) e Daniel Moilanen (bateria) usam o Metal Progressivo como base para boa parte do trabalho do Katatonia, mas não cometem “exageros” em “City Burials”. Ou seja, a parte instrumental não é voltada para o virtuosismo e sim para a criatividade.




Um mergulho nas sombras

 

O álbum foi gravado em Estocolmo nos estúdios Tri-Lamb Studios, The City Of Glass e Soundtrade Studios e a combinação de peso, climas atmosféricos e uma produção muito bem finalizada (comandada por Anders e Jonas) chama muito a atenção.

Em cada uma das 16 faixas, a banda criou vários “blocos” de som, ou seja, existem algumas passagens mais etéreas, outras com foco no peso das guitarras e outras que valorizam o vocal. O resultado final é um álbum com canções criativas, que unem esses elementos musicais de maneira homogênea e refinada. Nesse contexto, o teclado e os sintetizadores criam os climas para que os outros instrumentos e o vocal preencham as canções. “Lacquer” retrata bem essa característica no álbum.

Liricamente, as letras das músicas de “City Burials” abordam a desilusão e a falta de perspectiva em um mundo que já era cada vez mais isolado e isolacionista, mesmo antes da pandemia.

Essa característica das letras ser percebida logo nas primeiras frases de “Heart set to divide”, faixa que abre o álbum. “Em tempos de rendição, estou derramando minhas cicatrizes. Estive doente, mas eu estava pronto para as estrelas. A estrada era minha, mas eu ainda estava preocupado”, canta Jonas.

“The winter of our passing” também ratifica essa visão sombria de um mundo que está globalizado há décadas, mas que, na realidade, parece ter se fechado em si mesmo. “Desconsidere a alma. O coração é feito de névoa e ela ainda está afinando. As más notícias para você é que estamos fodidos e você não sabe para onde estamos indo”, diz a letra.

As duas faixas mais pesadas do álbum são “Behind the blood” e “Rein”, pois as guitarras se destacam mais do que nas outras músicas.

De maneira geral, “City Burials” é um mergulho em um mundo sombrio que, mais do que nunca,  o ser humano criou para si mesmo. Dentro desse espectro da realidade, o Katatonia soube criar perfeitamente a teia sonora para envolver esses fragmentos que retratam as mazelas da alma humana.