O show teve a abertura dos curitibanos do Black Maria e contou com um setlist repleto de canções que marcaram a vida de todo fã de Rock nacional

“Jack está extremamente honrado por encontrar um dos mais influentes artistas da história da música na América do Sul, Sergio Dias, do grupo brasileiro Os Mutantes”.

Essa frase está em um post do guitarrista, cantor e compositor estadunidense Jack White publicado no último dia 13, depois do show que ele fez no Popload Festival, em São Paulo.

Na foto da publicação, Jack aparece de maneira visivelmente respeitosa ao lado de Sergio, em uma atitude que retrata muito bem o reconhecimento/devoção que os artistas internacionais demonstram em relação aos Mutantes.

Esse respeito é plenamente justificável porque o adjetivo “genial” vem se tornando banal, pois nem sempre ele reflete a realidade de quem está sendo elogiado. Entretanto, no caso do músico, cantor e compositor paulista Sergio Dias, ele faz todo sentido.

O contraste com a admiração demonstrada por Jack em relação ao que acontece no Brasil é flagrante. Afinal, o nosso país não é exatamente um exemplo de respeito aos artistas, o que faz com que nem todos recebam o reconhecimento que merecem.

Nesse domingo (23), Sergio Dias e Os Mutantes trouxeram toda essa aura mística para o Teatro UP Experience, em uma apresentação que presenteou os olhos, ouvidos e corações dos fãs da capital paranaense com cinco décadas de história da música brasileira.

A abertura ficou a cargo da banda curitibana Black Maria, que também já tem um longo tempo de estrada (estão completando 25 anos de vida) e representam muito bem as características do Rock feito em Curitiba.

O jardim elétrico

Quando as cortinas do palco se abriram, Sergio Dias (guitarra e vocal), Esmeria Bulgari (vocal), Camilo Macedo (guitarra), Vini Junqueira (baixo), Henrique Peters (teclado) e Claudio Tchernev (bateria) abriram o show com duas canções do álbum de estreia dos Mutantes, autointitulado, lançado em 1969: “Dom Quixote” e “Caminhante noturno”.

Automaticamente, o público foi transportado para o final dos anos 1960, início da década de 1970, quando Os Mutantes assombraram o Brasil e o mundo com uma criatividade poucas vezes vista no cenário musical brasileiro.

Hoje, 53 anos depois do lançamento do primeiro disco, o impacto continua o mesmo, pois as músicas sobreviveram bravamente ao teste do tempo e são absolutamente atuais.

Na sequência, a banda emendou “Time and space”, do álbum “Fool Metal Jack” (2013), uma canção da fase contemporânea do grupo.

Em “Cantor de Mambo”, Sergio Dias exaltou a importância do músico, cantor e compositor carioca Sergio Mendes tanto para a música brasileira quanto para a própria trajetória dos Mutantes.

Nesse início do show, Sergio fez questão de explicar que estava com muita dor nas costas por causa de um problema na coluna e pediu desculpas por ter que ficar sentado durante boa parte da apresentação.

O público ouviu com atenção e respondeu com aplausos, afinal, sentado ou em pé, as músicas que Sergio ajudou a eternizar continuam emocionando da mesma maneira.

A força da música

A força de uma boa canção é um fato que impressiona até os que não acompanham tão de perto o mundo da música. No caso dos Mutantes, cinco décadas depois de serem criados, os sucessos do grupo continuam impressionando porque, ainda hoje, eles mostram que a banda tem uma criatividade muito acima da média.

“Balada do louco”, por exemplo, levou o público às lágrimas especialmente porque a música é uma ode aos que não seguem as regras/modismos/determinações que a sociedade impõe para os que se dispõem a aceitar essas “leis invisíveis”.

“Jardim elétrico”, faixa-título do álbum lançado pelos Mutantes em 1971, veio em seguida. Essa é uma das músicas que melhor refletem  essa realidade atemporal das canções dos Mutantes.

“suja” e poderia ter sido composto na semana passada em qualquer porão de Curitiba ou de Seattle.

A parte final do show teve “El Justiceiro”, “Ando meio desligado” e “A hora e a vez do cabelo nascer” (que foi regravada pelo Sepultura no álbum “Beneath The Remains” [1989], o que fez com que muitos fãs de Heavy Metal conhecessem o trabalho dos Mutantes).

Depois, a banda tocou “Top top” (que foi regravada em 2001 pela cantora Cassia Eller no álbum “Acústico MTV”) e encerrou com “Panis et circenses”, uma das músicas mais emblemáticas da trajetória dos Mutantes.

Após alguns minutos no backstage, a banda voltou sob os aplausos do público para encerrar o show com “Baby”, que também foi gravada por Caetano Veloso e Gal Costa.

Confira os vídeos das músicas “Balada do louco” e “Panis et circenses”, gravadas ao vivo no show dos Mutantes no Teatro Up Experience, e veja o álbum de fotos da apresentação.

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Mutantes - UP Experience - 23/10/2022

Black Maria e a essência da música curitibana

A abertura da noite coube aos curitibanos do Black Maria, que representam como poucos a essência da música da capital paranaense.

Franco Calgaro (vocal e guitarra), Beto Katz (baixo e vocal), Gabriel Teixeira (guitarra), Henrique Peters (teclado) e Rogerio Gabardo (bateria) abriram o show com o maior clássico da banda, “Sr. Sol”, que fez grande sucesso em Curitiba e em boa parte do Brasil nos anos 1990.

Formado em 1996, o Black Maria tem um histórico fonográfico extenso, que conta com quatro CDs e um DVD: “Black Maria” (1997), “Demorô” (2000), “Treze Vinte” (2004) e “Ao vivo na Grande Garagem Que Grava” (2008), que também saiu em DVD.

O grupo acaba de produzir um vinil chamado “Black Maria 96”, que traz alguns dos clássicos do grupo e será lançado oficialmente em um show que ainda está sendo programado.

O momento mais significativo do show veio quando a banda apresentou a música “Tela plana”, uma faixa inédita que também será lançada em breve junto com um clipe. Isso mostra que o grupo continua produzindo material, sem se acomodar com a rica história que eles construíram até hoje.

A letra de “Tela plana” foi escrita por Franco e a música foi composta por toda a banda, o que resultou em uma pegada bem pesada.

Liricamente, a canção aborda a imersão gigantesca na qual todos nós fomos mergulhados por causa dos avanços da tecnologia, mas que também resultou em alguns efeitos indesejados. “É uma crítica. As pessoas estão bitoladas nas telas, não olham para fora e esquecem que o mundo é redondo. Com tanta tecnologia, com tanto conhecimento que a gente adquiriu, nós ainda temos que discutir certos assuntos do passado”, conta Gabriel.

O “roubo” de Henrique Peters

A conexão do Black Maria com Os Mutantes vai além da influência musical, afinal, Sergio Dias produziu o álbum “Treze Vinte” (2004).

Na época da gravação, o grupo passou seis meses se deslocando semanalmente a São Paulo para gravar o disco no estúdio de Sergio. “Foi uma época de muito aprendizado. A gente acordava e o Sergio já começava a contar as histórias do Rock”, diz Gabriel.

Na ocasião, o tecladista Henrique Peters foi convidado para fazer parte da banda paulista, pois, durante essa convivência, Sergio percebeu que ele era um músico muito talentoso.

Outro momento emocionante do show foi “Bashô”, uma canção composta em 1997 e que nasceu de uma letra da poetisa Alice Ruiz (que foi esposa do poeta Paulo Leminski e é uma das referências do haikai no Brasil). Já a música foi composta pelo guitarrista Gabriel Teixeira.

Naquele momento, “Bashô” deveria fazer parte do segundo álbum do grupo curitibano Sr. Banana (banda da qual Gabriel também faz parte), que foi gravado em 1997, mas acabou não sendo lançado. Três anos depois, a canção foi gravada no álbum “Demorô” (2000), do Black Maria.

Em 2020, a música ganhou uma nova versão, desta vez gravada em parceria pelo Sr. Banana e pelo Black Maria.

Duas gerações de talentos paranaenses

O show também contou com a participação do guitarrista do Blindagem, Paulo Teixeira, que é pai de Gabriel. Com esse reforço de peso, o grupo tocou “Verdura Madura”, faixa do álbum “Demorô” (2000). A canção tem uma inserção de uma música da banda paranaense A Chave chamada “Que loucura”.

Aliás, Paulinho se apresenta com o Blindagem no dia 6 de novembro no Teatro Guaíra, e a banda tocará na íntegra o álbum de estreia do grupo, autointitulado, com os arranjos originais. O disco foi lançado em 1982.

O grupo encerrou o show com “Jacaré do Barigui”. Confira os vídeos das músicas “Tela plana” e “Verdura madura”, gravadas ao vivo no show do Black Maria no Teatro UP Experience, e veja o álbum de fotos da apresentação.

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Black Maria - Abertura do show dos Mutantes - UP Experience - 23/10/2022