Texto: Marcos Anubis
Revisão e fotos: Pri Oliveira/Cwb Live

O show reuniu dois dos maiores talentos da história da música brasileira



“Dois Amigos, Um Século de Música.” O nome da turnê que Caetano Veloso e Gilberto Gil trouxeram para a Ópera de Arame, nessa quarta-feira (26), celebrou de forma grandiosa os 50 anos de carreira de cada um deles. O show também marcou de forma oficial a inauguração da nova Ópera de Arame.

Em meio a toda a polêmica devido ao alto valor dos ingressos, a Ópera estava lotada. Antes da apresentação o diretor de operações e sócio da DC Set, Helinho Pimentel, fez um breve discurso falando sobre o que foi e o que ainda será feito no Complexo das Pedreiras.

A partir do ano que vem serão implementados um Memorial da Sustentabilidade, a Rua da Música, o Museu da Música, um espaço dedicado ao poeta Paulo Leminski e um projeto social batizado de Escola da Pedreira. Nos próximos meses também acontecerá a inauguração de um café/restaurante na parte de baixo da Ópera, em frente ao lago. O local também servirá como um espaço para eventos.

A ideia é transformar o Complexo da Pedreira em uma referência mundial no fomento à cultura. “Estamos iniciando uma nova fase onde buscamos a compreensão desses lugares. A conclusão a que chegamos é que a música é a grande energia condutora dos nossos passos”, afirmou Helinho. Curitiba tem novamente talvez o mais bonito local para shows em todo o Brasil.

O show

Dadas as boas-vindas ao público, Caetano e Gil pisaram no palco, ovacionados pela plateia. “Back In Bahia” abriu o show, seguida de “Coração Vagabundo” e “Tropicália.

Juntos, Caetano e Gil se transmutam em duas entidades, pela simpatia e naturalidade com que desfilam as dezenas de clássicos e boas canções de seus repertórios. A genialidade da dupla se expressa de forma individual e também se funde em um só ser quando interpretam suas canções.

Uma grande surpresa foi quando Caetano tocou “Nine Of Ten”, música do álbum “Transa” (1972). No disco ele fundiu Reggae com Rock, Beatles com Afoxé e português com inglês, concebendo aquela que, provavelmente, é sua maior criação. Na época Caetano estava exilado em Londres, assim como Gil, expulsos do país pela ditadura militar. Além de clássicos eternos como “Sampa” e “Andar com Fé”, a dupla também apresentou uma nova composição, “As Camélias do Quilombo do Leblon”.

Um dos pontos altos foi “Filhos de Gandhi”, que transmutou a Ópera de Arame em um lugar transcendental. Era quase possível ver os Omulus, Obás, Oguns e Oxumarés dançando em meio ao público, trazendo sua alegria e força. Isso porque o ritmo da música soa como um mantra que hipnotiza a plateia e praticamente leva o ouvinte aos terreiros da Bahia. “Mercador, Cavaleiro de Bagdá, oh, Filhos de Obá. Manda descer pra ver Filhos de Gandhi. Senhor do Bonfim, faz um favor pra mim, chama o pessoal. Manda descer pra ver Filhos de Gandhi”, diz a letra.

Caetano e Gil - Ópera de Arame - 26/8/2015




Cantando eu mando a tristeza embora

Após a canção a dupla se retirou durante alguns momentos e, na volta para o bis, “Desde que o Samba é Samba” fez a Ópera se tornar uma só voz. “A tristeza é senhora desde que o Samba é Samba é assim. A lágrima clara sobre a pele escura. A noite, a chuva que cai lá fora. Solidão apavora. Tudo demorando em ser tão ruim. Mas alguma coisa acontece no quando agora em mim. Cantando eu mando a tristeza embora”, diziam os curitibanos.

Na sequência, “Domingo no Parque” e “A Luz de Tieta”, quando os dois deixaram seus bancos e foram para a beira do palco comandar as palmas da plateia e o coro de “eta, eta, eta, eta, é a lua, é o sol, é a luz de Tieta, eta, eta”, com direito a uma dança empolgada de Gilberto Gil.

Quando todos já achavam que o show tinha acabado e já se encaminhavam para a saída, Caetano e Gil voltaram para um segundo bis. “Leãozinho” arrancou gritos histéricos da plateia e “Three Little Birds” de Bob Marley encerrou a apresentação. “This is my message to you”, cantou Gil na última frase de uma noite mágica. E que mensagem, pois ela envolve poesia, melodia e beleza de duas obras que foram construídas ao longo de 50 anos de criatividade.

A Ópera de Arame foi oficialmente inaugurada em uma noite de gala onde a música, acima de qualquer polêmica, foi a grande protagonista. Confira três grandes momentos do show: “Desde que o Samba é Samba”, “Expresso 2222” e “Terra”.

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