O público curitibano lotou a Live Curitiba para se despedir da banda que colocou o Brasil na história do Heavy Metal mundial

Nessa sexta-feira (22), o Sepultura se apresentou na Live Curitiba para celebrar, ao lado dos fãs curitibanos, as quatro décadas que transformaram o grupo em um dos mais importantes da história do Heavy Metal mundial.

O show faz parte da turnê “Celebrating Life Through Death”, que marca a despedida da banda e terá a duração de 18 meses, passando por 40 países.

A apresentação foi extremamente emotiva tanto para o grupo, que tornou o Brasil reconhecido e valorizado no cenário internacional da música pesada, quanto para o público que esgotou os ingressos para assistir ao show.

Apesar da tristeza pelo fim da banda, é preciso ressaltar os diversos legados que o Sepultura está deixando para a cena brasileira. Entre eles, o maior talvez seja o pioneirismo de ter sido o primeiro grupo a se estabelecer profissionalmente fora do Brasil.

Essa conquista parece longínqua porque, atualmente, bandas de todo o país fazem turnês fora do Brasil com frequência e naturalidade. Entre elas, estão Krisiun, Ratos de Porão, Inocentes, Crypta, Nervosa, Black Pantera, Sick Sick Sinners, e The Mullet Monster Mafia.

Porém, a realidade nem sempre foi assim para os grupos brasileiros, tanto no mainstream quanto no underground.

Houve um tempo no qual tocar fora do país era algo absolutamente impensável e as bandas que ousassem ter esse tipo de pensamento viravam motivo de piada por acreditarem em algo que era considerado impossível.

Esse tabu durou até o começo dos anos 1990 quando, com persistência e talento, o Sepultura mostrou que essa barreira intransponível podia ser destruída de uma vez por todas. “Nós trabalhamos muito e agarramos as oportunidades!”, diz o guitarrista Andreas Kisser. “Quando a chance de tocar fora do Brasil surgiu, nós fizemos o nosso feijão com arroz, bem ‘brazuca’ mesmo, e funcionou! Nós aprendemos uma nova língua, descobrimos o que era um tour manager, enfim, tudo na raça. Não existia uma ‘faculdade’ ou um professor para fazer isso! Essa é a melhor maneira de aprender”, complementa.

Você pode saber mais sobre essa e outras histórias vividas pelo Sepultura nesses 40 anos de estrada assistindo a entrevista exclusiva que o guitarrista Andreas Kisser concedeu, nessa quarta-feira (20), ao Cwb Live. O vídeo está no fim dessa cobertura.




O último show na capital paranaense começou com o clássico “Polícia”, dos Titãs, soando nos P.A.s.

Na sequência, Derrick Green (vocal), Andreas Kisser (guitarra), Paulo Xisto Jr. (baixo) e o novato Greyson Nekrutman (bateria), pisaram no palco sob os aplausos efusivos do público.

A banda abriu o show com “Refuse/Resist”. Em seguida, antes de “Territory”, Derrick se dirigiu ao público dizendo a tradicional frase que sempre é usada pelo vocalista (mudando só o nome da cidade) antes da execução dessa música: “Curitiba, este é o seu território”!

O repertório do show foi composto por músicas de todas as fases da banda, do peso cru e direto de “Troops of doom” e “Escape to the void”, até o Metal extremamente técnico de “Means to an end” e “Mind war”.

Antes de “Biotech is Godzilla”, Andreas foi até o microfone, soltou um palavrão e disse que, até aquele momento, o show de Curitiba estava sendo o melhor da turnê.

Na verdade, esse carinho dos fãs vem de muito tempo, pois a relação do Sepultura com a capital paranaense nasceu logo no começo da banda e rendeu muitos shows marcantes.

Entre eles, o mais inusitado aconteceu na Pedreira Paulo Leminski, em 1994, ao lado dos Ramones, do Viper e dos Raimundos.

Naquela tarde, um calor infernal pairava sob a capital paranaense durante as duas primeiras apresentações, do Viper e dos Raimundos, mas quando chegou a hora do Sepultura pisar no palco, uma tempestade assustadora desabou sob a Pedreira.

Por um período relativamente curto, mas intenso, raios caíam em volta do local e a chuva de granizo acabou afugentando uma grande parcela do público. Por causa desse cenário imprevisível, a banda tocou apenas cinco músicas, pois a possibilidade de acontecer um acidente grave era muito grande.

Vale lembrar que o Sepultura tinha acabado de lançar o álbum “Chaos A.D.” (1993) e estava na ponta dos cascos, levando a turnê desse disco para toda a Europa.

Infelizmente, o mau tempo impediu a continuidade daquela apresentação e privou os curitibanos de ouvirem um setlist baseado naquele que muitos consideram o melhor disco da banda. “Foi um pouco frustrante porque a gente estava com um show perfeito, em um momento muito bom”, diz Andreas.

O curioso é que, pouco depois do Sepultura encerrar o show prematuramente, a chuva passou e os Ramones puderam tocar sem nenhuma restrição. “Obviamente, nós pisamos no palco, acabou o mundo e, quando saímos, o dia voltou ao normal e todo mundo conseguiu fazer o seu show (risos)! Era para ser daquele jeito e foi”, lembra o guitarrista.

Essa relação de cumplicidade entre banda e público curitibano será reconhecida pelo Sepultura porque a apresentação na Live (e a do ano passado, na Ópera de Arame) foram gravadas pela banda.

Posteriormente, durante a turnê, uma canção desses shows será escolhida para fazer parte de um CD ao vivo composto por 40 faixas registradas em 40 cidades ao redor do mundo.

Ou seja, a capital paranaense terá a honra de fazer parte desse registro de despedida do Sepultura.




Além de sentirem a emoção da despedida, os fãs também prestaram muita atenção ao baterista Greyson Nekrutman. Afinal, o jovem ganhou uma responsabilidade imensa no início do ano ao receber o convite para integrar a turnê de despedida do Sepultura, após a saída repentina de Eloy Casagrande.

É óbvio que ele ainda não está totalmente seguro em todas as músicas, afinal, os compassos das canções do Sepultura passam por diversos subgêneros do Metal, com viradas e mudanças de andamento constantes.

Junte a isso a pegada percussiva dos ritmos brasileiros, uma das grandes características do som do Sepultura e que não são nada fáceis para um músico de outro país executar com perfeição, e você perceberá que a missão de Greyson é bem complicada.

Levando em conta todas essas particularidades, o jovem estadunidense está se saindo muito bem e o público reconheceu isso, aplaudindo o baterista e gritando o nome dele em diversas ocasiões. “É óbvio que a gente precisa pegar esse ritmo de jogo com o Greyson, como se diz no futebol, mas ele já está fazendo um trabalho sensacional!”, elogia Andreas.

“Inner self ” e “Arise” encerraram a primeira parte da apresentação, com a banda se retirando durante alguns minutos e voltando ovacionada pelos fãs.

“Ratamahatta” e “Roots Bloody Roots” fecharam o show e entraram para a história como as duas últimas músicas que o Sepultura tocou em Curitiba.

Depois de registrar o momento com uma foto, a banda ainda ficou no palco durante alguns minutos agradecendo o carinho dos fãs. Greyson foi o último a se retirar, pois ficou distribuindo baquetas para o público durante alguns minutos.

Depois que as luzes da casa foram acesas, anunciando que estava na hora do público se retirar, os fãs ainda demoraram um bom tempo para deixar a Live e cada um deles expressava de uma maneira diferente as emoções que foram sentidas durante esse show de despedida do Sepultura.

O músico Thiago Lemes, por exemplo, foi um daqueles que fez questão de estar presente para agradecer ao Sepultura por tantos anos de boa música e respeito ao público. “Foi um misto de nostalgia (por ser fã da banda desde moleque), euforia (por ter levado a minha filha adolescente no primeiro show do Sepultura), e tristeza (por ser a última tour dos caras). Eles fizeram uma apresentação completa para antigas e novas gerações, com um repertório que mesclou clássicos da ‘fase Max’, com as músicas do período do Derrick, que não são inferiores”, diz.

Já o também músico Fausto Bortollotti viveu um dia inteiro de expectativa até o começo da apresentação. “Acordei com as sensações de alegria e de tristeza, pois veria o último show de uma banda da qual eu sou fã há mais de 30 anos. Confesso que a ansiedade tomou conta até eu pisar na Live e, a partir dali, foi só emoção do começo ao fim! Foi uma despedida destruidora, de uma banda digna pela sua história, independentemente das formações”, analisa.

Por outro lado, apesar de estar se despedindo dos palcos, o Sepultura continua conquistando novos fãs. Uma delas é, justamente, a estudante Sarah Lemes, filha de Thiago, que tem apenas 16 anos de idade.

A garota conheceu a banda por meio do pai quando ele mostrou a música foi “Roots bloody roots”, do álbum “Roots” (1996), que marcou a incorporação definitiva dos ritmos brasileiros no som do Sepultura.

A partir dali, ela começou a se interessar pelo Heavy Metal e resolveu acompanhar o pai quando soube que o Sepultura faria a última apresentação em Curitiba. “Eu curti demais e fiz questão de conhecer! O show foi sensacional! Foi uma sensação incrível ter a oportunidade de ver todos eles ao vivo!”, diz Sarah.

Ou seja, como ficou muito claro na Live Curitiba, o legado do Sepultura não acaba com essa turnê de despedida.

Ele vai perdurar para sempre no Brasil e no mundo por causa da rica história que o grupo construiu nas últimas quatro décadas e que continua arrebatando novos fãs. “Infelizmente, foi a última turnê deles, mas o Sepultura vai continuar em nossos corações”, finaliza a jovem.

Aproveite para assinar o Cwb Live, pagando a quantia que você achar justa. É só clicar nesse link da campanha “Eu Apoio o Cwb Live”, que fica hospedada na plataforma Catarse.

Assim, você ajuda o site a se manter na ativa, fazendo um jornalismo independente e com conteúdos exclusivos (entrevistas em texto e vídeo, coberturas de shows, fotos, vídeos e matérias).

Inscreva-se no nosso canal no YouTube para assistir aos vídeos de shows e entrevistas exclusivas e siga as nossas redes sociais no TwitterInstagram e Facebook.