Os shows fazem parte da turnê “As V Estações”, que resgata canções dos álbuns “As Quatro Estações” e “V”  

Nessa sexta-feira (25) e sábado (26), os “legionários” curitibanos lotaram o Teatro Guaíra para assistir a dois shows dos remanescentes da Legião Urbana, Dado Villa-Lobos (guitarra) e Marcelo Bonfá (bateria).

As apresentações fazem parte da turnê “As V Estações”, que tem como base os álbuns “As Quatro Estações” (1989) e “V” (1991), nos quais estão alguns dos maiores clássicos da banda brasiliense.

Nos shows na capital paranaense, Dado e Bonfá foram acompanhados por André Frateschi (vocal), Lucas Vasconcellos (guitarra), Mauro Berman (baixo e direção musical) e Pedro Augusto (teclados).

Além das canções desses dois álbuns, como “1965 (Duas tribos)”, “Há tempos”, “Pais e filhos” e “Eu sei”, o setlist do show também teve outros grandes sucessos da Legião, entre eles, “Tempo perdido”, “Será” e “Índios”.

Durante os shows, algumas músicas causaram ainda mais impacto , entre elas, a belíssima “Monte castelo”, na qual diversas fotos de pinturas religiosas foram exibidas no telão, na parte de trás do palco.

Outro destaque foi “Soldados”, quando Frateschi mudou a frase “sou um soldado pedindo esmola” para “sou um soldado roubando jóias”, em uma clara referência aos escândalos que vêm sendo revelados e nos quais há indícios de que as Forças Armadas estejam envolvidas.

Aliás, essa é mais uma prova da longevidade das músicas da Legião porque, apesar de terem sido gravadas nos anos 1980/90, elas ainda fazem sentido e podem ser adaptadas a várias situações que a realidade brasileira insiste em apresentar.

Nas duas noites, a participação do público foi muito forte pois, mesmo após 27 anos da morte de Renato Russo, os fãs ainda se sentem realmente conectados com a obra que a Legião produziu. “Todos os nossos ídolos da música estão morrendo ou ainda são os mesmos. Então, é muito bom saber que esses dois caras estão mantendo essas letras vivas no palco! É preciso levar essas canções para as novas gerações. O Renato não escreveu essas músicas para que elas ficassem engavetadas!”, opina o jornalista Diego Antonelli.

Uma das figuras centrais dessa turnê é o vocalista André Frateschi, afinal, não é fácil subir em um palco para ocupar o lugar de um artista tão icônico quanto Renato Russo.

Justamente por causa disso, a performance do cantor é louvável pois, desde que assumiu essa difícil missão, em 2015, ele teve uma nítida evolução, tanto na entonação, quanto no alcance das partes mais graves e agudas dos vocais das canções da Legião.

Ou seja, nitidamente, ele se dedicou a trabalhar o canto para oferecer ao público o máximo que a voz dele permitisse.

Outro aspecto que fica muito claro é que, em nenhum momento, houve uma tentativa de “ocupar” o lugar de Renato. Até quando se solta mais no palco, aliás, Frateschi procura ser ele mesmo e toma cuidado para não “imitar” os trejeitos e as danças que Russo costumava fazer.

É preciso lembrar que, apesar de ter participado de algumas bandas, Frateschi construiu a trajetória profisisonal dele como ator, o que torna essa evolução ainda mais digna de aplausos.

Durante os shows, a dupla remanescente da Legião também se aventurou nos vocais em seis músicas: Dado cantou “Quando o sol bater na janela do teu quarto” e “Sete cidades” e Bonfá empunhou o microfone em “O teatro dos vampiros”, “Por enquanto”, “Se fiquei esperando meu amor passar” e “Monte castelo”.

Apesar do fanatismo que é muito característico nos fãs da Legião Urbana, nem todos se sentem totalmente satisfeitos com a continuidade de Dado e Bonfá nos palcos, tocando o repertório da banda.

Para alguns, por causa de uma série de aspectos, esses shows não valorizam a obra do grupo da maneira que deveriam. “Após as turnês em anos anteriores, eu não notei no Dado ou no Bonfá o interesse de entregar uma execução melhor. Eles sempre foram incapazes em reproduzir nos palcos aquilo que está registrado nos discos. As canções que o Dado cantou eram difíceis até para o próprio Renato Russo (um dos maiores que pudemos ouvir e admirar), imagine para quem nem acha o tom dos vocais ou alguma nota! Já o Bonfá é mais afinado e seguro”, diz o radialista André Santos de Oliveira, que acompanha o trabalho do grupo desde os anos 1980 e, apesar das críticas, ressalta que é um grande fã da banda.

No final dos shows, nas duas noites, após uma breve saída do palco, o grupo voltou sob os aplausos do público e com Frateschi segurando uma bandeira estampada com uma foto de Renato Russo, Dado Villa-Lobos, Renato Rocha e Marcelo Bonfá, em preto e branco.

Em seguida, o vocalista agradeceu aos fãs e disse que ele é um representante dos “legionários” que acompanham a banda desde o início e que Russo sempre está presente nos shows. “Eu quero acreditar que ele está feliz com o que estamos fazendo”, afirmou, pedindo um grande aplauso para Renato. É claro que o público que lotou o Guaíra atendeu prontamente.

Depois, a banda encerrou os shows com “Metal contra as nuvens”, uma das mais belas e emocionantes letras de Russo.

No meio da música, Frateschi pediu ao público para que iluminasse o Guaíra e os fãs deram um show, acendendo as luzes dos celulares e cantando (veja no vídeo).

As turnês que Dado e Bonfá vêm promovendo nos últimos anos geram, obviamente, reações bem antagônicas entre os fãs.

Entretanto, é inegável que elas são uma oportunidade única, principalmente, para as novas gerações que não viram a formação clássica da Legião Urbana e, mesmo que de maneira diferente, podem vivenciar um pouco da obra fantástica que o grupo deixou registrada para sempre na história do Rock brasileiro. “Essas músicas contribuíram para a formação do caráter da gente. Elas provocam reflexões com críticas sociais e até ao ser humano, no sentido de ter empatia e mais cuidado com o próximo. Quando você fica muito preso ao passado, corre o risco de idealizar as coisas. É claro que o ideal seria o Cazuza cantar as músicas do Barão e o Renato as da Legião, mas eles morreram. Se pensarmos em outras áreas da arte, por que não podemos ter as telas do Picasso expostas em um museu de arte contemporânea? A cultura é diálogo!”, finaliza Diego Antonelli.

Assista aos vídeos das músicas “Metal contra as nuvens” e “Soldados”, gravados ao vivo no show de Dado e Bonfá no Teatro Guaíra.

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